Nos dias finais da quaresma, meu pai sempre trazia um belo bacalhau.
Peixe grande, três a quatro quilos, inteiro, salgado e com seu cheiro característico.
Alimento rústico, pescado, salgado e seco ao sol em clima frio, vinha de navio e caminhão desde outros continentes, percorrendo milhares de quilômetros, até se deparar com as mãos técnicas e habilidosas de minhas matriarcas.
A princípio, feio de se ver: muito seco, contorcido, esparramando sal por todos os lados e difícil de ser pré-preparado.
Mas com paciência e sapiência as etapas aconteciam.
Assim era cortado, dessalgado, hidratado e aferventado, estando pronto para receber os mais diversos ingredientes.
O azeite, dourado e perfumado, as batatas finamente descascadas, belos dentes de alho, cebolas em largas rodelas, muita salsinha e azeitoninhas pretas e brilhantes, ovos cozidos cortados ao meio completavam a montagem num belo refratário transparente e de borda alta que seguia ao forno previamente aquecido.
O tempo passava devagar, o bouquet inconfundível se espalhava por toda a casa, chegando ao portão da frente e atingindo a vizinhança.
E quando parecia que não dava mais para aguentar, a mesa posta.
O artista, o verdadeiro prato principal. Viajou o mundo e ali naquela hora cumpre a sua missão final de nos fazer confortáveis e felizes.
Obrigado Jesus que no dia da sua "Paixão" nos presenteia com este alimento maravilhoso.
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