As cozinhas eram bem simples. Na grande maioria o fogão era de quatro bocas com um forninho acoplado, a pia muito rústica tinha a bancada de granitina que alojava no canto sobre uma toalhinha bordada o filtro de barro. No centro a mesa de madeira com gavetas estava sempre coberta com uma toalhinha xadrez e sobre ela a fruteira de vime bem trançada.
Um armário de fórmica era uma luxo da modernidade. Trazia seu requinte ao local em tons pastel e design "art déco" contagiando o ambiente com seu estilo contemporâneo. Em suas prateleiras ficavam acomodados os poucos eletrodomésticos protegidos da poeira vermelha por uma capa caseira enquanto os copos, pratos, xícaras e outros utensílios ficavam atrás das portas amarelinhas, por fim sobre tudo as latas de alumínio de tamanho e conteúdo variado.
"Menino, vem me ajudar a descer as latas", quando minha mãe chamava por menino podia ser qualquer um, mas quando chamava "Tavinho", as latas eram grandes e pesadas. Sobre o banquinho ela puxava e me passava e eu ia colocando sobre a mesa já deduzindo a receita pelos conteúdos.
As duas maiores: arroz e açúcar. A cana de açúcar e o arroz são orientais, por lá esta união é celebrada há centenas de anos com leite de vaca ou de coco.
De lá para o mundo, pelas mãos dos portugueses e holandeses, chegando até nós esta maravilhosa cultura gastronômica.
Continuava minha observação e assim que acomodava a segunda lata, mirava sobre a pia duas garrafas de leite com o gargalo amarelado pela gordura e as cascas retiradas finamente de uma laranja. Sobre o fogão o tacho com uma talagada de manteiga derretendo devagar ia retirando o bouquet de dois paus de canela que já começam a transpirar. Arroz doce com certeza.
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