Algumas tradições são inquestionáveis, elas acontecem e pronto.
Em tempos em que a maioria dos restaurantes faziam seus serviços "A la carte", a criatividade tinha que ser muito grande pois a oferta de ingredientes não era tão farta e diversificada.
Para baratear os pratos e facilitar na cozinha os estabelecimentos passaram a oferecer em seus cardápios o "Prato do dia".
Muito bem feitas, essas receitas eram com certeza muito bem apresentadas, saborosas, fartas e com o preço acessível, pois eram executadas em grandes quantidades e normalmente com ingredientes mais em conta.
Aos 17 fui morar no Rio de Janeiro, embora já acostumado a comer o bucho do boi muito bem preparado pela minha mãe e minha avó, fiquei surpreso com a oferta do prato nos bares e restaurantes locais, não importando o número de estrelas que o classificava, aliás quem fazia a fama era o prato bem preparado e não as cadeiras encapadas de linho branco.
Passei de consumidor semestral para consumidor semanal, pois este prazer cabia perfeitamente no meu bolso de estudante.
O boi rumina, seus estômagos trabalham incessantemente transformando celulose em energia: muito trabalho, muita textura, muito sabor.
Alvejado, limpo e fatiado ia pra panela escaldar com louros, limões e pouco sal. Depois de escorrido era refogado com azeite e defumados até dourar levemente para enfim ser cozido com vinho, cebolas, cenoura e ervas para só então virar dobradinha.
No dia certo, a boca salivava cedo. Era só escolher o melhor local e me fartar.
Na travessa fumegante posta à mesa, acompanhada de feijão branco, arroz e muita pimenta, com muita cor, perfume e sabor uma tradição muito bem servida normalmente às terças.