O presidente Jair Bolsonaro esteve no Santuário Nacional Aparecida (a 180 km de SP) na tarde desta terça-feira (12), onde foi recebido com aplausos e vaias e ouviu um sermão com referências à situação atual do país, incluindo o desemprego e a pandemia da Covid-19.
Mais cedo, antes da chegada do mandatário, o arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, criticou bandeiras e práticas de grupos bolsonaristas na principal celebração no Santuário no Dia de Nossa Senhora. O religioso fez alertas sobre o armamento da população, o discurso de ódio e as notícias falsas e defendeu a ciência e a vacinação contra o coronavírus.
Bolsonaro chegou ao local pouco antes das 14h, usando máscara de proteção contra a Covid-19 -diferentemente de sua conduta em boa parte das agendas públicas recentes.
Na missa, foi encarregado de fazer a primeira leitura, a liturgia da palavra. Estava acompanhado dos ministros Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e João Roma (Cidadania).
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Ao chegar de helicóptero ao Santuário Nacional, o presidente foi aplaudido por um grupo, aos gritos de "mito, mito", e vaiado por outro, aos gritos de "fora, Bolsonaro".
O público presente na missa, assim como os jornalistas, passou por detectores de metais e foi sujeito a revistas nas bolsas e mochilas.
O esquema de segurança no entorno de Bolsonaro despertava a atenção. Ao ir embora do santuário, a caminho do helicóptero e enquanto era exaltado por apoiadores, o presidente foi cercado por seus guarda-costas, que colocavam uma espécie de mochila para protegê-lo.
Soldados da Polícia Militar, agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, além de homens do Exército à paisana, acompanharam a movimentação.
Pela manhã, na principal missa do dia, dom Orlando Brandes pregou: "Hoje é o Dia das Crianças. Vamos abraçar os nossos pobres e também nossas autoridades para que juntos construamos um Brasil pátria amada. E para ser pátria amada não pode ser pátria armada".
O arcebispo de Aparecida fez referência ao slogan "Pátria Amada Brasil", utilizado por Jair Bolsonaro, que é defensor do armamento da população. O religioso criticou o que chamou de "criança-fuzil".
Na última quinta-feira (30), em evento em Belo Horizonte com a presença do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), Bolsonaro recebeu no palco uma criança de seis anos que empunhava uma arma de brinquedo. O presidente simulou que atirava para cima e carregou a criança sobre os ombros.
"Pátria amada não é transformar crianças inocentes em crianças-fuzil. Pátria amada não é transformar a criança em consumista. As crianças precisam de outras armas, da oração, da obediência, da convivência com seus irmãos", disse Don Brandes.
O religioso também fez uma alerta sobre o discurso de ódio e as notícias falsas. "Para ser pátria amada, uma República sem mentiras e sem fake news, sem corrupção. É pátria amada com fraternidade. Todos os irmãos construindo a grande família brasileira", afirmou.
À tarde, durante a missa, Bolsonaro se manteve de máscara a maior parte do tempo (mas tirou na hora da liturgia) e, em dado momento, foi convidado pelo arcebispo dom Orlando Brandes a fazer a consagração da imagem de Aparecida, que estava no centro do altar.
"Ó Maria Santíssima, pelos méritos do Nosso Senhor Jesus Cristo, em vossa imagem da querida Aparecida, espalhais inúmeros benefícios sobre todo o Brasil", começou Bolsonaro, ao ler a Consagração a Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
O presidente já se declarou católico, mas politicamente é mais próximo de lideranças evangélicas e tem na população evangélica uma de suas principais bases de apoio.
Uma devota de Santa Catarina, segurando uma imagem de Nossa Senhora, pediu uma foto ao presidente. "Vim pedir a bênção da Santa e fui abençoada com a presença do presidente. Se conseguir, vou entregar a imagem para ele ser abençoado", disse.
Ainda na presença de Bolsonaro, o padre José Ulisses, diretor da Academia Marial de Aparecida, fez um discurso discreto, mas cheio de referências à atual situação do pais.
"Você que está aqui hoje, neste 12 de outubro de 2021, pode agradecer por estarmos aqui, vivos. Ela [Nossa Senhora] enxuga as lágrimas de muitas famílias. Muita gente morreu, mas hoje é o momento de olhar a imagem da nossa Mãe e dizer obrigada."
O religioso seguiu seu discurso dirigindo-se aos familiares das mais de 600 mil vítimas da Covid-19 no país. "Ela [Nossa Senhora] nos ensinou a seguir em frente. Se ela pudesse, chegaria perto de cada um de nós para dar um abraço fraterno."
Ao longo da pandemia da Covid-19, Bolsonaro deu declarações minimizando as consequências da doença.
Padre Ulisses também abençoou todos os agentes de saúde "que se desdobraram para dar seu melhor nesses tempos difíceis."
"Há várias mesas vazias, desemprego. Mas Nossa Senhora está aqui hoje para repartir o bolo do seu aniversário, sem distinção. Somos o povo de Deus. E a maior dignidade que temos deve prevalecer ao povo de Deus. Só assim poderemos construir um país e, assim, sonhar com a paz e a justiça."
O religioso ainda elogiou os "bem aventurados" que promovem a paz. "Que haja mais desarmamento, mais felicidade e mais humanidade", disse ele olhando na direção de Bolsonaro e de seus ministros. "Em seu aniversário, tudo que Nossa Senhora deseja é a vida."
E continuou. "Que a vida, esse presente de Deus, seja algo a ser defendido antes de qualquer projeto de sociedade. O dragão da pandemia assolou nosso país, assim como da ganância, para que uns tenham uma vida de luxo. Esses dragões devem ser vencidos."
No final da missa, o arcebispo dom Orlando Brandes agradeceu a presença de Bolsonaro e de seus ministros. O presidente foi embora após o fim da missa sem falar com a imprensa.
Ao voltar para o helicóptero, Bolsonaro foi saudado por apoiadores que gritavam "mito".