Meu pai é paulista quatrocentão.
Minha mãe descendente de italianos, mas paulista de nascimento.
Ambos vieram amassar o barro vermelho em tempos em que o calçamento era raro.
Meu pai foi atraído pelo "ouro verde": trabalhava, cheirava, provava, vivia o café. Minha mãe com seus olhos verdes o encantou.
Formaram família em meio à incrível miscigenação cultural, povos de todas as partes com seus hábitos e costumes transitavam pelas nossas casas e nossas mesas e vice versa.
Mas quando o tempo deixava, a saudade batia...
O Esplanada Regente carregado, bagageiro coberto e bem amarrado, pneus calibrados seguia por terra e asfalto.
Incrivelmente acomodados o casal com os cinco filhos partiam para aventuras paulistanas; este foi um hábito freqüente.
As famílias eram enormes pelos dois ramos. Os parentes se esparramavam e as visitas aconteciam do litoral santista, passavam pelo planalto paulistano e se aprofundavam por diversas cidades no interior do estado.
Éramos sempre bem recebidos por beijos estalados, abraços apertados e muito boa comida.
As mesas eram muito fartas. As novidades industrializadas brilhavam diante dos olhinhos dos pequenos pés vermelhos: novos embutidos, produtos lácteos, biscoitos e bolachas, tudo em embalagens modernas e provocantes. Mas, o que nos encantava era a tradição. A família sempre teve seus pratos antropológicos com o sabor impregnado no cérebro de geração em geração. Nada contra as novidades, porém era aí que eu me fartava.
A forma ficava na mesa sobre um prato de ponta cabeça. Algumas batidinhas com a colher e surgia aquela maravilha colorida e perfumada, fatiada vinha ao prato meio seco meio úmido. Com seu agridoce picante o Cuscuz que eu comia em grandes bocados gravou seu sabor na minha memória junto com as lembranças da família e a palavra "Paulista".
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