Arroz doce
Terra é o que não faltava.
No quintal, na rua ou no terreno baldio avizinhado, a fartura de poeira lama e torrões típicos da famosa "terra roxa encaroçada", faziam parte das nossas vidas.
E assim, com tamanha fartura, de vez em quando tava lá um moleque enfiando um torrão na boca;
"Falta de ferro"...
A picape amarela tinha um gradil de madeira na carroceria, chacoalhando e rangendo pelas duras estradas vicinais, buscava os animais gordos e sadios que eram muito bem apartados pelo olhar minucioso do açougueiro preocupado com a fiel freguesia.
No abatedouro municipal o animal era abatido e eviscerado, dali os quartos iam para o açougue, o couro para o curtume e as vísceras para o bucheiro.
Fom, fom, fom, fom, a buzina vinha ecoando de longe.
Eu ouvia e já corria pro portão. Olhar virado pra baixo logo avistava o cavalo tordilho negro, batendo a ferradura nos paralelepípedos com o passo picado, subindo a Avenida Higienópolis.
Vinha puxando uma carroça equipada com uma grande caixa metálica pintada de vinho que ele arrastava sem maiores esforços.
Quando se aproximava, mais buzinas e o grito:" Bucheeeeeiro".
Lá vinha minha mãe com a bacia de alumínio.
A tampa da carroça era aberta e dali saíam os mais diversos miúdos bovinos: miolos, língua, bucho e principalmente o fígado que era feito com mais freqüência.
Em tiras, muito bem marinado com leite, limão e ervas, era salteado com grossas fatias de cebola.
Que delícia. O remédio que eu mais gostava: fígado acebolado.
Muito rico em ferro e muito mais gostoso que um torrão.
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