Pra misturar no leite não era fácil.
Em dias frios com o leite bem quente, minha mãe nos ensinava a colocar um pouco de leite na xícara e mexer vigorosamente até dissolver, só então completávamos a xícara com leite, mas ainda assim sobravam alguns pedacinhos. Já nos dias quentes com o leite frio era impossível.
No balcão de fórmica branco sobre uma toalhinha bordada ficava o eletrodoméstico que resolvia esta situação: o liquidificador.
Após um minuto de ruído intenso o recipiente metálico despejava nos copos aquela delícia levemente cremosa, muito doce e com a espuma transbordando e escorrendo levemente.
Com um bigode levemente marrom que persistia onde a língua não alcançava, pegava a mochila e partia pra escola.
Chocolate era artigo de luxo, não obstante fossemos os maiores produtores de cacau. As castanhas saiam daqui e eram industrializadas em terras longínquas e voltavam em pó, açucaradas e enlatadas.
Sentada com a vasilha plástica apoiada no colo sobre o avental, uma mão segurava a vasilha com firmeza enquanto a outra batia ovos com açúcar fazendo um "tum Tum" com a colher de pau. Vez por outra a colher era levantada para ver o ponto e pronto. Juntava-se o óleo, farinha, fermento e o principal: algumas colheradas de achocolatado dissolvido em leite quente. A mistura agora era mais calma, um vai vem que ia deixando tudo num tom que ia do creme ao marrom escuro.
O cheiro já tomava conta da casa, o forno sem vidro nem luz era aberto e o cozimento comprovado com um palito. O mesmo palito fazia diversos furos sobre toda a superfície que recebia a cobertura também de chocolate.
A grande colher tirava um belo pedaço da torta que ia ao prato pingando a calda, que deleite...
Graças ao achocolatado este era um prato que semanalmente fazia parte do nosso cardápio.

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