Arroz doce
Já começa a anoitecer, amanhã é ano novo.
A grande mesa da copa teve as cadeiras afastadas para dar mais espaço para os confeiteiros, salgadeiros, banqueteiros e decoradores. São todos familiares que generosamente preparam de véspera as delícias que serão consumidas na ceia.
Sobre a toalha de plástico branco estão os mais diversos temperos e ingredientes que vão sendo manuseados deixando respingos aqui e ali.
No canto esquerdo da mesa, está aberto um livro de receitas que é observado por minha mãe: lenço na cabeça, pano branco no ombro e avental bordado, ela lê atentamente as instruções antes de começar a executar.
Já em suas mãos, aquela bela peça suína de cor castanho avermelhada (novidade que meu pai trouxe), é virada pra lá e pra cá, muito bem estudada para só então começar o processo.
Uma faca de ponta fina e afiada risca a capa defumada e caprichosamente desenha um xadrez. Em seguida um cravinho é cravado em cada ângulo.
"Ficou bem bonito"!
O que fez foi enfeitar a perna do porco semi desossada, marinada por duas semanas em água, sal, salitre e açúcar mascavo que depois foi defumada a 70 graus por longas horas e por fim cozida lentamente ficando pronta para ser consumida.
Mas a receita diz que deve dormir em uma marinada de coca cola com a calda de uma lata de abacaxi e é assim que acontece. Depois é forno para caramelizar.
Na mesa, à Califórnia, o bouquet e aparência são impecáveis, na boca a textura macia e os contrastes entre defumado, acidez e doce estão perfeitos.
O "Love me tender" agora é "I Love you Tender".
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