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Ao gosto do pai

03 ago 2017 às 12:10

O tacho reluzente fumaceia sobre o fogão.
A colher de pau dança pra lá e pra cá, fazendo um leve ruído quando passa pelo fundo, muito vigor, paciência e experiência.
Na Avenida Higienópolis tinha uma feira bem na porta da minha casa, então a compra da abóbora era tranquila.
Tum, tum, tum. Punho fechado batendo na grande abóbora rajada, já esbranquiçada pelo sol. Para os ouvidos apurados a batida soava perfeita.
Vou levar esta.
A mesa de serviço é no quintal, tampo grosso de peroba que carrega as cicatrizes de grandes preparos.
Muita força, cascas e sementes para um lado, belos pedaços laranja avermelhados para outro.
O tacho de cobre é muito bem esfregado, "tem que tirar o zinabre".
Tudo pronto, fogo alto, cubos de abóbora, muito açúcar e alguns cravos.
Os pedaços transpiram seu suco que engrossa aos poucos com o açúcar, uma ou outra mexida com a grande colher de pau.
Tempo passa; passatempo.
Agora já é uma massa, não se vê mais o que é açúcar ou abóbora e a colher trabalha em ritmo intenso.
Tem que apurar no gosto do seu pai.
Anoitecendo, meu pai lambisca em uma colher o doce laranja acastanhado, perfumado e firme.
No seu rosto a alegria do gosto, no da minha mãe o sorriso da generosidade.

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