Um escritor chileno causou polêmica na Argentina ao lançar um livro em cuja capa aparece em uma foto urinando na tumba do autor argentino Jorge Luis Borges.
Eduardo Labarca, de 72 anos, definiu seu livro El enigma de los módulos (sem lançamento previsto no Brasil) como uma "homenagem" a Borges, consagrado autor de Ficções, O Aleph e outras obras.
Segundo a editora Catalonia, que lançou o livro no início de janeiro em Santiago, para a realização da foto Labarca simulou que estaria urinando sobre o túmulo de Borges, em um cemitério em Genebra, na Suíça, usando uma garrafa d'água.
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"Como admirador de Borges, decidi que ficava bem ali (na capa) porque meus 'módulos' são textos que talvez não tivessem existido se eu não tivesse lido Borges de forma apaixonada desde a minha adolescência", disse Labarca à BBC Brasil.
"Além disso, quis castigar o cidadão Borges porque ele viajou para o Chile, já doente e idoso, em dezembro de 1975, para saudar e apoiar (Augusto) Pinochet, ditador chileno, quando naqueles mesmos dias seus agentes torturavam e faziam desaparecer dezenas de pessoas. O grande escritor era um cidadão lamentável", afirmou.
Labarca, porém, disse que se surpreendeu com a repercussão ao seu "gesto simbólico" e que não quis ofender os argentinos nem a memória de Borges.
O secretário de Cultura da Argentina (cargo equivalente ao de ministro), Jorge Coscia, disse que a iniciativa de Labarca é "um ato de mau gosto" e uma "violação".
"Não se ganha nada ao urinar numa tumba", afirmou.
‘Humor borgeano’
No convite de lançamento, distribuído pela Catalonia, Labarca afirma que a presença de Borges em sua vida foi "intrigante" e a "prosa (do argentino) se infiltrou alguma vez" na sua literatura.
"Por isso, fui a sua tumba não para ultrajar sua memória, mas para lhe fazer uma homenagem de despedida", disse Labarca.
"Ao urinar, pedi ao homem de letras cujos restos descansavam ali que recebesse esse meu último tributo como humor ‘borgeano’".
De acordo com a assessoria de imprensa da editora, os textos de Labarca seguem o estilo "borgeano" e por isso se decidiu pela foto de capa, tirada há cinco anos e parte do arquivo pessoal do autor. O gesto foi interpretado, pela editora, como "arte em ação".
A Catalonia define o livro como uma "obra amena, dramática e hilariante", que mostra as "surpreendentes atuações do autor Labarca nas universidades e institutos da Europa". O escritor chileno mora entre a Áustria e o Chile.