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Diante de um público de 18 mil pessoas de diferentes denominações evangélicas de Manaus, o deputado federal Silas Câmara (Republicanos), líder da bancada evangélica no Congresso Nacional, compara a eleição a uma guerra espiritual.
"Olhem para mim: isso não é uma eleição. Isso é uma guerra espiritual onde o inferno e o Satanás estão decididos, enganando para retirar da cadeira de governador deste município um servo de Deus e colocar alguém que vocês não conhecem. A pergunta é: a gente deixa ou a gente briga?", questionou.
Em Manaus, o segundo turno opõe dois bolsonaristas. Os evangélicos apoiam o prefeito David Almeida (Avante), que enfrenta o deputado federal Alberto Neto (PL), policial militar e candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inelegível até 2030 por mentiras e ataque às urnas em 2022.
O campo bolsonarista sofre turbulências neste segundo turno, com divisões internas e brigas públicas que devem ter reflexo nas eleições de 2026.
Em meio a eleições acirradas em cidades como Manaus, Goiânia, Curitiba e Campo Grande, com embates diretos entre nomes da direita, candidatos trocam ataques mútuos e disputam o apoio de líderes evangélicos, empresários e até cantores sertanejos.
A direita já havia rachado no primeiro turno com embate entre Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo, quando Bolsonaro se manteve distante da disputa, apesar do apoio a Nunes. A postura rendeu críticas do pastor Silas Malafaia, que chamou o ex-presidente de covarde e omisso.
Na capital do Amazonas, o ato eleitoral chamado Movimento Cristão de Direita a Favor da Liberdade ocorreu dois dias após Bolsonaro desfilar em carro aberto pela cidade ao lado de Alberto Neto.
Em comício, o ex-presidente disse que Manaus precisava derrotar a corrupção e eleger "a verdadeira direita". Também presentes no ato, Michele Bolsonaro e a senadora Damares Alves encorparam as críticas a Almeida.
O deputado e líder evangélico Silas Câmara buscou se contrapor e se engajou na campanha de Almeida neste segundo turno -antes, ele havia apoiado Roberto Cidade (União Brasil), candidato do governador Wilson Lima, do mesmo partido.
Em discurso no ato com evangélicos, o pastor-presidente da Convenção das Assembleias de Deus Ministério de Madureira no Amazonas, Adeilson Sales, se queixou que os "defensores da palavra de Deus" estão sendo taxados de "direita fake" por aqueles que não seriam cristãos de verdade.
"Desculpem falar, mas eu não sei de que igreja o outro [Alberto Neto] é. Como pastor, e estando cercado de pastores aqui, somos contra alguém se dizer cristão e não ter uma igreja, não ter uma cobertura, não ter um pastor. Cristão de verdade tem uma igreja para congregar e receber o direcionamento", declarou.
O prefeito David Almeida é evangélico e apoiou Bolsonaro em 2022. Mas mantém pontes firmes com os senadores Eduardo Braga (MDB) e Omar Aziz (PSD), aliados do presidente Lula (PT) que intermediaram R$ 2,1 bilhões para a gestão com convênios e emendas.
Almeida se converteu ao bolsonarismo na pandemia da covid-19, prometendo medicamentos ineficazes como a ivermectina. Em 2021, no pico da crise de falta de oxigênio, fez orações na central de medicamentos da prefeitura e, aos prantos, disse ter sido escolhido para a missão de salvar o povo.
Agora, sem o apoio do ex-presidente, afirma que segue bolsonarista, mas que "Bolsonaro escolheu o lado errado" em Manaus.
Em Goiânia, a eleição explicitou a ruptura entre Bolsonaro e o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), indicando que ambos podem seguir caminhos distintos nas eleições de 2026 - Bolsonaro está inelegível e Caiado se apresenta como candidato a presidente.
Ainda no primeiro turno, Bolsonaro chamou Caiado de covarde em um comício do aliado Fred Rodrigues (PL). Dias depois, ao ser questionado sobre as críticas, o governador afirmou que "Deus o poupou do sentimento do medo."
O clima de animosidade escalou com a confirmação do segundo turno em Goiânia entre o bolsonarista Fred Rodrigues (PL) e o empresário Sandro Mabel (União Brasil), este apoiado por Caiado.
Mabel recebeu o apoio de líderes evangélicos da Assembleia de Deus e o aval de artistas sertanejos como Felipe Araújo e Gusttavo Lima.
O embate se estende para Aparecida de Goiânia (20 km da capital), onde o segundo turno opõe Leandro Vilela (MDB) e Professor Alcides (PL).
Vilela é aliado de Caiado e tem como vice o ex-deputado e pastor João Campos (Republicanos), que já presidiu a bancada evangélica na Câmara. Do outro lado, Alcides destaca Bolsonaro e ataca Caiado, acusando o governador de enfraquecer a direita "em busca desenfreada de ganhos pessoais."
Curitiba também vive uma fragmentação da direita com o segundo turno entre o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD) e a jornalista Cristina Graeml (PMB).
Pimentel tem o ex-deputado Paulo Martins (PL) como vice, mas viu parte do eleitorado bolsonarista migrar para Cristina, que arrancou para o segundo turno ancorada em um discurso antissistema.
Para se contrapor, tem feito atos voltados para evangélicos, caso da "caminhada da família", e recorreu ao ex-procurador Deltan Dallagnol (Novo), da Operação Lava Jato. Nas redes, Deltan afirmou que Pimentel "participa de grupos de estudos bíblicos e de oração, é marido e pai dedicado."
Cristina tem replicado um vídeo no qual Bolsonaro acena à sua candidatura e se firma em apoiadores do bolsonarismo raiz, caso do empresário Otávio Fakhoury - que doou R$ 100 mil para a campanha -e da médica Raíssa Soares, alvo do Ministério Público por propagar informações falsas sobre a vacina.
Nas redes sociais, Raíssa conclamou Bolsonaro a descer do muro em Curitiba: "Presidente Bolsonaro, precisamos do seu posicionamento contra o sistema. Esse sistema está te sufocando, está te amarrando e você está ficando absolutamente sem condição de agir. Volte a ser o Bolsonaro de 2018", afirmou.
O discurso contra o sistema se replica em Porto Velho (RO), onde o candidato Leo Moraes (Podemos) enfrenta Mariana Carvalho (União Brasil), que tem o apoio PL. Moraes se coloca como o candidato que "tem o povo" e acusa a adversária de se apoiar em líderes como o governador Marcos Rocha (União Brasil).
Em Campo Grande (MS), Bolsonaro apoia a reeleição da prefeita Adriane Lopes (PP) neste segundo turno e criticou bolsonaristas que anunciaram apoio a Rose Modesto (União Brasil). Entre eles está Capitão Contar (PRTB), segundo colocado na disputa para governador em 2022.