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O eleitor curitibano chega às urnas neste domingo (27) para escolher entre o atual vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD) e a jornalista Cristina Graeml (PMB) para a prefeitura, após três semanas de uma campanha quente, com troca permanente de ataques.
Assim como ocorreu em outras capitais brasileiras, dois candidatos do mesmo espectro ideológico, do campo da direita, chegaram ao segundo turno em Curitiba. Ainda assim, tanto Pimentel quanto Cristina se esforçaram ao longo da campanha para assinalar diferenças.
Ex-tucano, Pimentel é da chamada direita tradicional e chegou ao PSD em 2020, unindo-se ao grupo do governador Ratinho Junior (PSD), que foi o principal articulador da inclusão do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro na chapa local. Pimentel tem o ex-deputado federal Paulo Martins (PL) como candidato a vice-prefeito.
Mas o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab tem seu partido presente tanto em governos ligados ao bolsonarismo -ele próprio é secretário de estado na gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo-, como na base de apoio do presidente Lula (PT), com nomes do PSD integrando a Esplanada dos Ministérios.
O "kassabismo" foi explorado na campanha em Curitiba pela rival de Pimentel. Na tentativa de ficar com o eleitorado da direita, Cristina apontou fisiologismo no partido do adversário e se apresentou como a "verdadeira direita", a "direita raiz".
"Patriota vota em Cristina. Vamos varrer todo mundo. Kassab aqui não. Longe daqui", grita o eleitor na propaganda da candidata na televisão.
Ao longo da campanha, Cristina também aproveitou os sinais dúbios de Bolsonaro. Embora o ex-mandatário tenha endossado publicamente a aliança entre PL e PSD em Curitiba, ele permitiu que Cristina gravasse um vídeo no qual aparece dizendo à candidata que "não posso abrir o voto", mas "torço por você e ponto final".
O vídeo, divulgado por Cristina às vésperas do primeiro turno, deixou atônita a campanha de Pimentel. Desgastado com o episódio, Paulo Martins, um ex-tucano que se agarrou ao bolsonarismo, ficou sem espaço para reagir.
Durante sabatina da Folha/UOL em 16 de outubro, Pimentel minimizou o aceno de Bolsonaro à rival - "eu acho que ele deve estar satisfeito porque tem dois candidatos que trabalham por ele". Mas se recusou a falar sobre o conteúdo do vídeo.
Hoje representante da "direita radical", Cristina começou a ganhar seguidores nas redes sociais quando adotou a cartilha bolsonarista, a partir de 2018, enquanto atuava como comentarista política na Gazeta do Povo, na Jovem Pan e na Revista Oeste.
Ao longo do segundo turno, Bolsonaro não deu novas declarações sobre a disputa em Curitiba, e permaneceu sem aparecer na capital paranaense. Ainda assim, a campanha de Pimentel ajustou estratégias.
Na tentativa de esvaziar o discurso de Cristina, que tem o ataque à esquerda como uma bandeira, Pimentel passou a dizer que "ideologia não põe comida na mesa" nem "remédio na prateleira da unidade de saúde".
A estratégia também serve a pretensões do PSD em 2026, quando Ratinho Junior é cotado por Kassab como um nome ao Planalto. Embora aliado de Bolsonaro, o próprio governador paranaense já falou à imprensa em mais de uma ocasião que acredita que as pessoas estejam "cansadas da briga ideológica".
Pimentel também tem repetido que Cristina seria uma candidata extremista, que não sabe dialogar com quem pensa diferente. Trata-se de um aceno discreto ao eleitorado da esquerda, que ficou sem representantes no segundo turno.
"Ela quer fazer uma administração na base da divisão e do ódio. Eu quero fazer com união e amor", disse Pimentel na propaganda da televisão.
Cristina, por sua vez, busca explorar o fato de estar filiada a um partido nanico e com diretórios precários, o PMB, para se colocar como uma candidata que luta contra "o sistema". Um de seus motes é "Curitiba sem dono".
"Sempre os mesmos grupos, sempre os mesmos erros. Vamos juntos mudar esta história", diz ela.
A candidata também busca se contrapor ao rival, que é neto de ex-governador, respaldado por uma coligação formada por oito partidos, com fundo eleitoral robusto para a campanha e apoiado pelas máquinas municipal e estadual, hoje controladas pelo PSD.
Na reta final da campanha do segundo turno, ela passou a divulgar em suas redes sociais depoimentos de apoio de políticos de fora do Paraná, mas ligados a Bolsonaro, como os deputados federais Alexandre Ramagem (PL), do Rio de Janeiro, Ricardo Salles (Novo), de São Paulo, e Gustavo Gayer (PL), de Goiás.
Em Curitiba, embora não tenha recebido o apoio oficial de nenhuma sigla, parlamentares do União Brasil sinalizaram simpatia pela candidata, incluindo o senador Sergio Moro (União Brasil), que, em uma rede social nesta quinta-feira (24), disse repudiar "a utilização da máquina pública e os ataques desleais do sistema contra a candidata Cristina Graeml".
"Inaceitável", escreveu Moro. Ela também obteve declaração de apoio do ex-senador gaúcho Pedro Simon, do MDB.
Somente nesta última semana da campanha Pimentel fez um apelo direto ao eleitorado da esquerda, para que ele anule o voto.
Principal candidato do grupo de centro-esquerda e esquerda, Luciano Ducci (PSB) teve quase 20% das intenções de voto, ficando em terceiro lugar na disputa, atrás de Pimentel (33,51%) e Cristina (31,17%).
Entre os esquerdistas, tem prevalecido uma discussão entre votar nulo ou em Pimentel, um candidato que parte dos militantes considera "menos pior".