O embate entre o bilionário Elon Musk e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), se tornou o tema da viagem de deputados federais bolsonaristas à Europa para denunciar o que consideram violações da liberdade de expressão e perseguição política no Brasil.
A missão desta semana ao Parlamento Europeu em Bruxelas, na Bélgica, e à CIJ (Corte Internacional de Justiça), mais conhecida como Corte de Haia, nos Países Baixos, dá continuidade à iniciativa de tentar emplacar no exterior uma denúncia de suposta perseguição, como os bolsonaristas fizeram nos Estados Unidos, no mês passado.
A viagem já estava marcada, quando no domingo (7), Musk, dono da rede social X (ex-Twitter), ameaçou desobedecer o STF e publicar tudo o que é exigido pelo ministro e "como essas solicitações violam a legislação brasileira". Moraes, por sua vez, incluiu o empresário como investigado no inquérito das milícias digitais.
O assunto foi tratado nas conversas entre os deputados brasileiros e os europeus. Segundo os bolsonaristas, os membros conservadores do Parlamento Europeu já estavam acompanhando o episódio, que serviu para unir e inflamar a direita brasileira.
Um dos deputados que integram a missão, Gustavo Gayer (PL-GO) publicou um vídeo de agradecimento a Musk. "Decidimos agradecer o Elon Musk por espalhar ao mundo e jogar luz ao que está acontecendo no Brasil, essa ditadura que estamos vivendo. Elon Musk, obrigado pelo que você tem feito, isso realmente nos ajudou em Bruxelas", disse.
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) emenda, no vídeo, que há "um grande apoio das pessoas que lutam por liberdade". "Todo mundo no Parlamento está falando do Twitter Files Brasil", disse, em referência a um conjunto de emails corporativos que tem sido divulgados por um ativista americano desde a semana passada.
Musk acusa Moraes de censura e de ser um ditador. As denúncias de bolsonaristas de que a liberdade de expressão está em risco no país levam em conta a ordem de Moraes para suspender perfis do X que, em sua visão, continham ataques à democracia, mas omitem que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados próximos são investigados por suspeita de tentarem um golpe de Estado para impedir a posse de Lula (PT).
Fora os pontos na mira da Polícia Federal, Bolsonaro colecionou uma série de declarações e iniciativas de teor golpista quando estava na Presidência.
Nesta quarta-feira (10), Eduardo, Gayer, Ricardo Salles (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Julia Zanatta (PL-SC), Marcos Pollon (PL-MS) estiveram com deputados do grupo ECR (Conservadores e Reformistas Europeus), incluindo Hermann Tertsch, do partido espanhol de ultradireita Vox.
No X, o grupo ECR afirmou que Eduardo e Gayer relataram o cerco à liberdade de expressão no Brasil e que os fatos são assustadores. "Não podemos deixar o Brasil se transformar em uma ditadura", completam.
Kicis afirmou à Folha de S.Paulo que os parlamentares europeus ficaram "impressionados com o que ouviram". "Nossa viagem tem o intuito de conversar, dialogar e levar essas denúncias", disse a deputada, falando em censura e perseguição política.
Ela rebate críticas de que, ao se aliar à direita em outros países, os deputados estejam comprometendo a soberania do Brasil.
"A vida inteira parlamentares da extrema esquerda viajaram para a Europa para fazer as suas denúncias contra qualquer governo que não fosse o deles. Mas a narrativa agora é que os parlamentares da direita que viajam para interagir com a direita de outros países estão atacando a soberania brasileira e participando de ataques orquestrados. Tomem vergonha! Vocês realmente odeiam a democracia!", escreveu ela no X.
Em diversos vídeos publicado nas redes, Gayer afirma que vai levar "o que está acontecendo no Brasil" para a Europa e para o mundo, como fez nos Estados Unidos. "A viagem para os EUA trouxe frutos e chamou atenção para o que está acontecendo no Brasil, agora ainda mais", disse.
"Mostramos os fatos que acontecem no Brasil, mostramos os atropelos constitucionais por parte do Alexandre de Moraes, isso já está mais que provado", completa o deputado. Ele afirma ainda que, com Musk, o assunto vai tomar proporções internacionais.
Segundo os participantes da comitiva, mais de 50 deputados do Parlamento Europeu –de países como Portugal, Espanha, Alemanha. Hungria, Itália– participaram das reuniões com os brasileiros e demonstraram estar atentos ao conflito entre o bolsonarismo e o STF.
Ainda conforme os integrantes, a avaliação dos políticos europeus foi a de que a corte no Brasil não tem agido de forma imparcial. A respeito de Musk, os comentários foram de que a situação é absurda e as decisões judiciais ultrapassaram o que a Constituição autoriza.
Em Haia, os deputados bolsonaristas pretendem apontar o que consideram violações de direitos por parte de Moraes em relação aos presos por participação nos ataques do 8 de janeiro.