O primeiro paragrafo de um romance pode selar seu destino. Ser lido ou não.
Por sua própria natureza, esse gênero literário têm um ritmo lento, que se constrói aos poucos, com inicio titubeante, que vai aos poucos tateando a história e só começa a estabelecer a tensão com o leitor, muitas páginas à frente. Daí a difícil tarefa de segurar esse leitor logo de cara. Alguém já disse que as duas linhas mais importantes de um livro são: a primeira, que vai manter o leitor. E a ultima, que garante que o escritor continuará sendo lido em outras histórias.
Começar bem é sempre o desafio maior, merecendo discussões intermináveis entre escritores.
Estou entre os que se apegam ao primeiro parágrafo. E o motivo não seria outro que não o inicio romanesco mais famoso de todos os tempos. E faz justiça à sua fama e à genialidade do autor: "Todas as famílias felizes são iguais, as infelizes o são cada uma à sua maneira." Quando Tolstoi abre seu clássico "Ana Karenina" com essa belíssima frase, o leitor já sabe que não deixará essa história por nada nesse mundo.
Tomo a liberdade de dividir outra descrição perfeita, essa de Willian Styron de "As confissões de Nat Turner:" Styron, um dos grandes escritores do século XX nos Estados Unidos, foi autor do trágico, belo e famoso "A escolha de Sofia".
"Por sobre o cabo estéril e arenoso onde o rio se junta ao mar, existe um promontório, ou penhasco, que se ergue, abrupto, até mais de uma centena de metros, para formar o ultimo posto avançado de terra. Deve-se fazer um esforço para se visualizar o estuário de um rio bem embaixo desse penhasco, largo, lamacento e raso, e uma confusão de ondas bravias onde o rio se funde com o mar e a correnteza encontra a maré oceânica. É de tarde. O dia está claro, luminoso e o sol parece não fazer sombra em lugar algum. Pode ser começo de primavera ou talvez fim do verão: não importa muito qual seja a estação, pois o ar pode pertencer a qualquer uma – benigno e neutro, sem vento, sem calor e sem frio."
Quando alguém começa assim uma história, já fisgou seu leitor. Para sempre.