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Sem força, o genial Esfarrapado humilha a Humanidade

08 fev 2018 às 12:01

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"Balanço festivamente a cauda para quem me dá alguma coisa, uivo contra quem não me dá nada, mordo os inescrupulosos"

Todas as cidades do Mundo, hoje, têm inveja de Sínope (Sinope ou Sinop) na costa turca do Mar Negro, porque é o local de nascimento do filósofo-mendigo grego Diógenes. Este sobre-humano e honorável ser teria existido entre 400 e 325 a.C. ou entre 413 e 323 a.C. Quantas "celebridades" universais poderiam gabar-se de possuir monumentos em sua homenagem erigidos em duas cidades distintas (lugar de nascença e óbito)? Diógenes pode. Sínope e Corinto (Grécia) levantam estátuas suas.

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O ateniense Antístenes (445-360 ou 444-365 a.C.) é considerado o fundador da escola filosófica: Cinismo. Nome que se supõe derivar, segundo alguns autores, de um ginásio atlético (e santuário de Héracles, Hércules) chamado Cinosarges (em grego, Kynosarges), no qual Antístenes prega seus ensinamentos. Conforme outros, a derivação vem da palavra Kyon ("O Cão", o apelido de Diógenes); os filósofos que o sucedem receberiam a alcunha de cínicos, do grego kynikos, isto é: "como um cão" – "filósofos cães". Essa cachorrada toda, por sua vez, descende do grandioso Sócrate (470-399 a.C.), mestre de Antístenes.

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Mentiras deslavadas propagadas... Mentes mais e mais travadas e caudatárias


As más-línguas atestam que o pai de Diógenes, que trabalhava na casa de cunhagem de moedas em Sínope, andava a falsificar dinheiro. Ofício seguido, e confessado, por seu filho. Mudam então para Atenas.

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Nosso heróico e contumaz mendigo rapidamente se despoja de tudo para viver de acordo com a sua própria vontade. Despreza a opinião pública. Põe-se a flanar pelas ruas, infernizando todo o mundo. Carrega um manto forrado pela necessidade de usá-lo como cobertor, leva um bornal (saco de pano ou couro) em que enche de alimentos, e se serve de qualquer lugar para qualquer uso (fisiológico ou não: comer, dormir, conversar com as pessoas etc). "Descabelando o palhaço" (masturbando-se) em público, comenta: "Quem me dera pudesse aplacar a fome, esfregando-me o ventre".


Procura Antístenes que não o recebe com simpatia. Muito insiste, provocando a fúria do filósofo que ergue o bastão contra ele; Diógenes oferece-lhe o cocuruto, dizendo: "Podes bater, pois não encontrarás madeira tão dura que possa fazer-me desistir de conseguir que me digas algo, como me parece que deves". Destarte, obtém permissão para acompanhar de perto a sabedoria "antisteniana".

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O mestre Antístenes já ensinava o "desdém pelo prazer". Via o apego ao deleite como alguma coisa nefasta que amolenta o físico e o espírito, colocando a liberdade em constante perigo. Diógenes acrescenta a isso o livramento das paixões.


O nosso andrajoso mocinho é um fantástico respondão, talvez, insuperável até agora. Sempre se defendendo de reprimendas e insultos. Certa ocasião, Diógenes era reprovado enquanto comia na praça do mercado, o que o fez desatar a língua: "Também na praça do mercado tive fome. Se comer não é estranho, nem mesmo na praça do mercado é estranho. Não é estranho comer, portanto, também não é estranho comer na praça do mercado".

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Jogam-lhe ossos durante as refeições, Diógenes afasta-se e urina sobre eles, procedendo como um cão.


"Pede" esmola de maneira pouco convencional, na verdade, exige-a. Alega que é uma restituição, haja vista que tudo pertence aos Deuses, e estes são amigos dos sábios (como Diógenes). Ora, se os bens dos amigos são comuns, devem ser compartilhados, assim sendo, os sábios devem - como Diógenes, de novo – possuir todas as coisas. Que "figuraça"!

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É convidado a entrar numa suntuosa mansão na qual o anfitrião proíbe-lhe de cuspir. Hã, prá quê?! Diógenes desembaraça as mucosidades da garganta no rosto do cidadão, e esclarece: "Desculpe-me, mas não encontro um lugar pior para atirar o meu pigarro".


A "anaídeia" (sem-vergonhismo) diogeniana é uma afronta direta e gritante a todas as regras impostas pelas sociedades. Diógenes sai a perambular pelos caminhos mundanos acompanhado de um cajado e de uma lanterna acesa à luz do dia, procurando um "homem verdadeiro"; alguém autêntico, que viva despreocupadamente livre de todas as convenções, que viva simplesmente em conformidade com a sua natureza genuína e assim seja feliz. O que Antístenes procura demonstrar na teoria, Diógenes escandaliza na prática.


No próximo capítulo, nosso "pit bull-pedinte-filósofo" vai desconcertar Platão, responder a Alexandre Magno...

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