Diariamente somos assaltados por todo o tipo de esquisitices, invencionices, fantastiquices e fatos inimagináveis, ou ficamos sabendo de acontecimentos dignos de nossa controversa – e questionável – existência mundana. Desde a era do Egito Antigo e das andanças do povo de Josué que se fala de um fenômeno meteorológico (excessivamente comum até os dias de hoje): a chuva. Em inúmeros relatos, todavia, tem-se a substituição das nossas familiares gotinhas de água condensadas por: pedras, sapos, rãs, nacos de carne humana (a gosto: com ou sem sangue), gatos, cachorros, paus, salmões, pescadas, peixes-gato, serpentes, codornas, ratos, arenques, morcegos...
Existem tantas notícias dessa, no mínimo, interessante (e inusual) chuva que muitos estudiosos sérios e homens de saber procuram explicações científicas para tornar o fenômeno tão viável quanto crível. Aqueles não-religiosos atestam que tornados e trombas marinhas (ou trombas d’água, espécie de tornado que atinge lagos e mares com uma potência incrível, elevando às nuvens uma coluna de jatos de água seguida de ventos fortíssimos) poderiam sugar peixes, aves e bichos de toda espécie que cruzassem o seu caminho e os arrastar por distâncias consideráveis. Aqueles mais afeitos aos ditames celestiais atribuem as Chuvas de Animais a castigos (e/ou avisos) aos desastrados seres humanos, daqui, de baixo.
Incontáveis ditados e expressões populares (em diversas línguas) empregam o termo da precipitação atmosférica formada de gotas de água e seus estranhos objetos acompanhadores. São, extremamente, utilizadas algumas frases, como: "(...) Nem que chova canivetes!"; "(...) Debaixo de uma chuva de paus e de porradas!"; "Recebido por uma chuva de balas!"; e por aí vai.
Em 2003 é lançado um filme de longa-metragem (um desenho, uma animação) intitulado: As Bicicletas de Belleville. Nele, em determinado episódio, uma senhora sai para a rua para "fazer compras", com o intuito de trazer comida para a casa que compartilha com duas outras estrambóticas figuras, as suas irmãs. Ela não carrega dinheiro, apenas uma sombrinha e uma pequena rede de pesca. Encaminha-se até um brejo, na vizinhança do seu sobrado, e lança à água uma antiga granada de mão. A explosão provoca uma enorme chuva de rãs "detonadas", e prontas para se transferirem para a panela.
Há, ainda, indícios de chuvas de gentes; das mais variadas categorias e idades.
Gostaria de deixar bem claro que não tenho absolutamente nada contra os bichinhos da espécie equus asinus: asnos, burros, jumentos ou jegues (estes últimos, habitantes do Nordeste Brasileiro). Aliás, é uma imperdoável injustiça considerar o termo jumento como símbolo da estupidez humana. O bichinho, assim é tratado, porque há muito e muito tempo vem auxiliando (e prestando serviços de carga) para outra besta com muita serenidade e paciência, recebendo como paga (e reconhecimento) tão-somente insultos e chibatadas. Monteiro Lobato, na fábula O Velho, O Menino e A Mulinha, põe os três protagonistas em disputa pela condição de cavalgante ou cavalgadura. Dá empate técnico. Por fim, a trempe é classificada como de três burros: dois de dois pés e um de quatro. Jesus Cristo é conduzido até a cidade de Jerusalém no lombo de um simpático "burrinho"; uma das personagens de Literatura mais conhecidas (o pesadíssimo Sancho Pança, confidente de Dom Quixote de La Mancha) é suportado heroicamente nas costas de um "jumentinho". Na próxima vez que vocês – atentos (as) leitores (as) – estiverem dispostos a lançar contumélias contra desafetos, poupem as "mamães" e os nossos aliados (e educados) burricos, não os utilizem como estro!
Reforço a minha indignação, afirmando: o animalzinho não tem culpa alguma se o homem é imbecil até o absurdo!
Sinceramente, espero que essa onda não se estenda e não se aprimore. Já pensou se, de súbito, os inexoráveis: Bóreas, Euro, Austro e Zéfiro (os ventos da Mitologia Greco-Romana) resolvem jogar sobre nós – tão sofridos mortais - chuvas de: sogras, cunhados, tias, primos, cachorros de vizinhos, vizinhos cachorros, conhecidos (as) "gentes-finas" etc?!... Chuva de Asnos?!... Até vá lá!... Desde que descarreguem unicamente os autênticos, os legítimos asininos.