Antístenes e Diógenes deixam um extraordinário legado para o Mundo: Crátes de Tebas (365-285 a.C.). Diógenes segue rigorosamente o instinto natural dos bichos e dos homens: "Bateu levou". Crátes torna-se amigo do inaudito filósofo-mendigo em Atenas e fervoroso entusiasta dos seus ensinamentos.
De fato, desenvolve um Cinismo mais brando, humanitarista. Sai por aí a ajudar e a confortar as pessoas, sempre, bem-humorado e carregado de modos gentis. Coxo e corcunda faz-se um convidado em qualquer lugar que lhe dê na veneta, reconciliando os membros de famílias desarmônicas. Deixam-lhe mensagens de boas-vindas nas casas. Sua fama de "bom samaritano" espalha-se rapidamente. Presta bons conselhos a todos que precisam. Recebe a alcunha carinhosa de "Abridor de Portas".
Como Diógenes, considera-se um "cidadão do Mundo": "A minha pátria não tem sequer uma torre nem um único teto; mas onde é possível viver bem, em qualquer ponto do Universo, ali está minha cidade, ali está minha casa". Em sua campanha de conquista da Grécia e de suas cidades-estado, Alexandre Magno reduz Tebas a cinzas. Topa com Crátes e lhe pergunta se deseja que a sua querida cidade natal seja reconstruída, responde o cínico: "E para quê? Talvez para outro Alexandre venha a destruí-la".
Uma versão histórica diz que Crátes, pertencente a uma distinta cepa, vende todo o seu patrimônio e distribui a soma de dinheiro entre os seus concidadãos.
Outra prístina interpretação menciona a confiança de seus bens na mão de um banqueiro. Crátes teria dado ordem expressa de transmissão de seus bens aos seus filhos, caso estes virassem órfãos incultos; porém, se os mesmos se tornassem seres humanos dotados de inteligência superior não ficariam com a herança. Afinal de contas filósofos não devem ter necessidade de nada, vivendo sem preocupação e com o estritamente indispensável.
Encontra uma doida, de nome Hipárquia, que resolve juntar-se a ele. Ela abandona o conforto de sua abastada família, ignora o apelo de inúmeros (e entusiásticos) pretendentes ricos. Os dois passam a compartilhar um autêntico "matrimônio cínico".
De certa forma, Crátes pode ser considerado o "Pai do Estoicismo" (Filosofia Lógica, Física e Moral), ou o "Avô", haja vista a sua influência sobre o primeiro filósofo estóico que se tem notícia: Zenão de Cício (334-262 a.C.).