Seja de trem ou de caminhão, a produção agrícola e industrial precisa ser transportada. Em um país marcado pela vastidão territorial e economia diversificada, a relação entre os diferentes modais é um ponto central para a movimentação de mercadorias. Hoje, as rodovias reinam absolutas no transporte de cargas, mas isso não impede que outros modais - sobretudo o ferroviário - tenham fôlego para aumentar sua participação.
Um exemplo prático é a Integrada Cooperativa Agroindustrial, que utiliza tanto o transporte ferroviário quanto o rodoviário para escoar seus produtos. O gerente de logística da empresa, Itacir Nardino Júnior, explica que o uso é simultâneo e focado na eficiência, observando os melhores momentos de mercado de cada modal.
“Alguns fatores como oferta de vagões, espaço físico em armazéns portuários e terminais de transbordo, tarifas de frete, entre outros, podem influenciar a utilização tanto do rodoviário como do ferroviário”, afirma. “Nossa estimativa é que cerca de 40% do volume passa pela ferrovia e os outros 60% são transportados pelo modal rodoviário.”
A realidade da cooperativa é próxima da avaliação feita pelo professor e ex-secretário do Transporte do Paraná, Mário Stamm Jr., que diz que o Brasil passa por uma fase de transformação em termos logísticos e que aspectos como eficiência e preço são centrais na discussão do uso de modais. Nesse cenário, a tendência é que o rodoviário, que já é o mais utilizado no país, continue com o maior espaço.
“Ele serve principalmente para o que a gente chama de 'door to door', de porta a porta. Você sai de um local, carrega e descarrega em outro, com o próprio veículo, sem necessidade de transbordo - dependendo, naturalmente, da carga”, explica.
Stamm Jr. pontua que o caminhão é importante na dinâmica brasileira, mas isso não exclui a relevância do transporte ferroviário. Em Londrina, um movimento importante deverá ser a concentração dos transportes no ramal ferroviário da cidade, distribuindo as cargas que antes saíam de Ourinhos (SP).
“Você tinha uma estrutura de terminal que no passado foi forte e hoje já não tem abastecimento suficiente. Era pequena a sua utilização em relação à estrutura de Londrina”, diz o professor, pontuando que não deve ocorrer uma “sobrecarga” da BR-369, com eventual aumento de caminhões circulando pela rodovia. “A estrada deve ter uma capacidade de absorção e suporte da demanda. Mas é uma questão de programação”, completa.
Em nota à FOLHA, a Rumo - responsável pela Malha Sul - destaca que, em 2023, o cenário nacional mostrou uma evolução na movimentação de cargas por ferrovias, que atingiu o maior nível em cinco anos: 530,6 milhões de toneladas, segundo dados da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários).
No caso da Rumo, a movimentação total entre janeiro e setembro de 2023 cresceu 2%, com um total de 58 milhões de toneladas de produtos transportados. “E a Operação Sul cresceu 5,7% no mesmo período, com um total de 18,3 milhões de toneladas movimentadas em toda a Região Sul", diz a empresa.
Em Londrina, desde que a concessionária assumiu as operações entre 2015 e 2016, o transporte de cargas que circulam no município cresceu 76%. Em 2023, a cidade movimentou 3,4 milhões de toneladas.
A Rumo ressalta a integração cada vez maior entre os modais rodoviário e ferroviário em Londrina. “Para otimizar a eficiência da operação e os custos logísticos, a empresa, em conjunto com os clientes, adota uma solução multimodal com os caminhões percorrendo trajetos curtos e os trens percorrendo grandes distâncias”, aponta.
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