O ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, votou no Catar para sediar a Copa do Mundo de 2022 em troca de favores e até de garantias de que, se as obras do Mundial de 2014 no Brasil sofressem com problemas de financiamento, o país árabe entraria com recursos.
As revelações fazem parte do livro "Ugly Game" (Jogo Feio, em português), dos jornalistas ingleses Heidi Blake e Jonathan Calvert. Em 468 páginas, eles revelam como o Catar comprou os votos de membros da Fifa para ficar com o Mundial.
Entre as denúncias, eles apontam que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, aceitou abafar qualquer tipo de investigação contra o Catar se ele recebesse apoio para se manter no poder. Outra revelação é de como o emir do Catar voou até Assunção, no Paraguai, para conversar pessoalmente com o então presidente do país, Fernando Lugo.
Mas a investigação também aponta para o envolvimento de Teixeira e conta como Mohamed Bin Hammam, o homem forte do futebol no Catar, teve a incumbência de garantir o voto do brasileiro. "Para Bin Hammam, os sul-americanos eram um desafio que exigiria toda sua habilidade e diplomacia ", indicou o livro.
"O que ele sabia, porém, é que tanto Teixeira como (Julio) Grondona tinham problemas em casa. O Brasil tinha problemas para encontrar recursos para financiar a renovação dos estádios para a Copa de 2014 e a liga argentina estava num estado financeiro complicado", escreveram os jornalistas.
Em outro trecho, o livro revela que "o Catar tinha entrado em um acordo para preencher qualquer déficit nos custos de infraestrutura para a Copa do Brasil para garantir o apoio do eleitor do País, Teixeira, que negava qualquer problema".
"Era impossível provar que os votos estavam sendo comprados. Mas não havia dúvidas de que o país do Golfo estava investindo na América do Sul. Em junho de 2010, a Qatar Airways lançou um serviço altamente subsidiado com voos diários ao Brasil e Argentina. A Federação do Catar planejava sediar um amistoso entre os dois países em Doha no mesmo ano, o que geraria enormes pagamentos às duas federações ", indicou o livro.
Oficialmente, a Associação de Futebol do Catar informou que o jogo entre Brasil e Argentina havia somado uma renda de US$ 534 mil em vendas de entradas. Mas o livro confirma uma revelação exclusiva feita pelo jornal O Estado de S. Paulo em novembro de 2014, mostrando como empresas ligadas às obras do Mundial de 2022 bancaram o jogo. "O jogo foi patrocinado por um conglomerado do Catar que direcionou os pagamentos para as associações de Grondona e Teixeira para que colocassem suas seleções em campo", aponta a investigação.
A empresa era a Al Saad & Sons Group, do setor de construção e de propriedade de Ghanim bin Saad al-Saad, que também acumulava o cargo de administrador da Qatari Diar, a imobiliária do próprio emir do Catar. Saad era ainda o diretor do fundo de investimentos do país. "Poucas pessoas eram tão próximas do emir como Saad al-Saad", disse.
Segundo o livro, "sua empresa garantiu que a federação argentina fosse bem paga para enviar o time até Doha". A investigação confirma uma outra revelação de O Estado de S. Paulo: a de que a empresa investiu US$ 10 milhões em um fundo chamado Global Eleven, que havia sido contratada para "organizar e promover jogos de exibição do time de Teixeira".
Aquela não seria a primeira vez que Bin Hammam e Teixeira manteriam uma relação de proximidade. O brasileiro foi transportado com sua mulher e filha em um avião privado de Bin Hammam no dia 13 de novembro para assistir ao jogo Brasil x Inglaterra, no Estádio Khalifa, de Doha.
DINHEIRO - No livro, que estará à venda a partir do dia 23 de abril, os jornalistas ainda contam como o ex-secretário-geral da Fifa, Michel Zen Rufinnen, foi pego em uma gravação secreta, enquanto explicava o que cada um na Fifa esperava em troca de seu voto.
No vídeo, gravado em Genebra, ele comenta o perfil do brasileiro. "Teixeira é dinheiro", disse. "Podemos ira o Rio e conversar com ele em um terraço, sem problema. Abertamente, abertamente".