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Sabotage morre assassinado no auge de sua carreira

08 jan 2003 às 09:15

Quatro tiros puseram fim à carreira do rapper paulistano Sabotage, asssassinado em 24 de janeiro deste ano. Mauro Mateus dos Santos (seu nome de batismo) havia acabado de levar ao trabalho sua mulher, Maria Dalva da Rocha Viana, com quem morava há 10 anos. No caminho de volta para casa, foi baleado com dois tiros ao lado da traquéia, um terceiro próximo ao ouvido e outro na mandíbula.

O crime ocorreu por volta das 5h30, na altura do número 1800 da avenida Abrão de Morais, no bairro Saúde, perto de sua casa. Sabotage foi internado às 6h no Hospital São Paulo, onde veio a falecer no mesmo dia, às 11h25. O assassinato não teve testemunhas e a polícia ainda não encontrou suspeitos. Apenas achou ao lado do corpo uma máscara preta de lã com dois furos para os olhos.


O corpo de Sabotage foi enterrado na tarde de 25 de janeiro, sábado, no Cemitério Campo Grande, zona sul de São Paulo. Amigos e fãs compareceram ao enterro que aconteceu às 15h. Sabotage tinha 29 anos e morava na favela do Canão, em São Paulo, com a atual esposa e os dois de seus três filhos: Anderson e Tamires. A terceira filha, Larissa, vive com a mãe na Zona Leste de São Paulo.


Há quem cogite o antigo envolvimento do rapper com o mundo do crime como uma possível razão do assassinato. A hipótese é remota. Sabotage desistiu da bandidagem há 10 anos. Em depoimentos recentes à imprensa, sua esposa alegou que seu marido não se envolvia em uma briga há quatro anos. Sabotage nunca escondeu de ninguém de seu envolvimento com o tráfico no passado. Em depoimentos à Revista da MTV de agosto do ano passado, o rapper alegou: "Moro na favela desde os 29 anos e, dos 8 aos 19, andei no crime que nem louco. Saí por causa de Deus por que polícia não intimidava, tapa na orelha só deixa a criança mais nervosa".


Representante do rap no cinema nacional
Fica inevitável comparar a morte de Sabotage com a de Chico Science graças a algumas características comuns a ambos: morreram no auge da carreira, poucos anos após serem descobertos pela mídia e pelo público (ainda pequeno), deixando poucos discos lançados e, por fim, morrendo em uma época de grande expectativa quanto a seus trabalhos futuros.


Sua participação no filme "O Invasor", de Beto Brant, foi o passaporte para o reconhecimento de seu trabalho por um público maior. No entanto, Sabotage estava batalhando no rap há bem mais tempo. O músico realizou sua primeira composição em 1985. No final dos anos 80, ainda adolescente, participou de um concurso de rap no salão Zimbabwe, em São Paulo. Na ocasião, estavam presentes Mano Brown e Ice Blue, dos Racionais MC’s, que ficaram entusiasmados com sua apresentação. Foi o impulso para iniciar sua carreira nos subterrâneos do rap nacional.


O primeiro CD, e único álbum próprio, "Rap é compromisso" foi lançado em 2001 pelo selo Cosa Nostra, o mesmo dos Racionais. Foi neste ano que Sabotage teve a oportunidade de estender sua carreira para outra área artística: o cinema. O diretor Beto Brant estava em meio à produção de seu último filme, "O Invasor" quando viu um vídeo de um show do grupo de rap RZO (Realidade Zona Oeste, de São Paulo) em que Sabotage fazia uma participação.


Entusiasmado com o que viu, Brant convidou Sabotage para fazer parte da equipe do filme, em três funções distintas. Participou da trilha sonora com cinco músicas (sendo três inéditas), serviu de consultor de "cultura da periferia" para moldar o personagem Anísio, interpretado pelo titã Paulo Miklos, e ainda por cima atuou no filme, interpretando ele mesmo, em uma cômica cena em que o personagem Anísio o apresenta para seus clientes, "pedindo" um dinheiro para ele gravar seu CD.


Com esta marcante participação, Sabotage viria a dar um novo passo para sua carreira cinematográfica. O diretor Hector Babenco, que estava iniciando as filmagems de "Carandiru" se impressionou com aquele rapper de cabelos dreadlocks eriçados (penteado visivelmente inspirado no rapper americano Coolio) e o convidou para um papel em seu filme. Sabotage encarnou o personagem Fuinha e gravou uma das músicas da trilha sonora. Babenco está atualmente em Nova Iorque finalizando o filme, que estréia no primeiro semestre deste ano.


Poucos registros para a posteridade
Sabotage estava trabalhando intensivamente com o grupo de produtores do Instituto, formado por Rica Amabis, Daniel Tejo e Ganjaman. Com eles, participou da coletânea conceitual "Coleção Nacional" e se apresentou com no final do ano passado no festival indie Upload, no SESC Pompéia, em São Paulo. Com o Instituto, estava gravando seu segundo álbum próprio. Na homepage dos produtores, foi feita uma espécie de lápide virtual com o epitáfio "nêgo não pára no tempo, sente tormento, a dor que é forte se sente lá dentro", trecho de "Cabeça de Nêgo", uma das músicas do rapper.

Para a posteridade, Sabotage deixou não só alguns CDs e participações em filmes, mas também o alerta de que o clima no rap nacional não é tão pacífico quanto o que vem sendo anunciado nas letras de vários grupos do gênero. Além de Chico Science, sua morte lembra também a do DJ Jam Master Jay, do grupo americano Run DMC, que assim como Sabotage, não tinha inimigos e de repente foi assassinado sem mais nem menos, no final do ano passado.


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