O pesquisador musical José Ramos Tinhorão, um dos maiores críticos da música brasileira, morreu nesta terça-feira aos 93 anos. A notícia foi confirmada pela editora 34, que o publicava.
Ele esteve internado por dois meses devido a problemas de saúde causados pela idade avançada. O velório acontecerá amanhã a partir das 10h, no Cemitério dos Protestantes, na rua Sergipe, até as 13h, quando será enterrado.
Nascido em Santos, no estado de São Paulo, Tinhorão fez carreira como jornalista em veículos como a TV Globo, o Jornal do Brasil e a revista Veja. Rapidamente se consolidou como um dos principais teóricos da música popular brasileira e um repositório de histórias e documentos sobre o assunto.
Escreveu mais de 25 livros sobre música, entre eles "História Social da Música Popular Brasileira", "As Origens da Canção Urbana", "Os Sons que Vêm da Rua" e "O Samba Agora Vai: A Farsa da Música Popular no Exterior", um dos primeiros a projetar seu pensamento inquieto e provocador ao debate público.
Suas opiniões ferozes, embebidas de visão ortodoxa e inspiração marxista, não cessavam de criar polêmicas -foi um crítico duro do tropicalismo e da bossa nova, por exemplo, que considerava música de inspiração americana, não de raiz brasileira. Não foram poucos seus desafetos ao longo da vida, entre eles Chico Buarque e Tom Jobim.
Seu acervo, com dezenas de milhares de itens, entre partituras, discos e revistas, pertence ao Instituto Moreira Salles há 20 anos.
Em entrevista a este jornal quando fez 90 anos, Tinhorão afirmou que era natural que fosse odiado pelos artistas que criticava. "O artista tem uma sensibilidade muito à flor da pele e não gosta de ser criticado. Não importa que quem o critique tenha razão."
Também afirmou que no Brasil não havia mais crítica cultural. "Primeiro, não existem críticos de música popular ou crítica sobre música popular. Existe o cara que dá notícia e louva conjuntos estrangeiros, que nunca vêm ao Brasil, mas que, quando vêm, ganham página inteira dos cadernos culturais."