"Gravar lá foi caro, hein." A frase é da cantora Ludmilla, 25, e se refere ao investimento de mais de R$ 1 milhão que ela fez para gravar no Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, o show do álbum "Numanice Ao Vivo", que será lançado nesta sexta-feira (29) em seu canal no YouTube -o disco também estará presente em todas as plataformas digitais.
"Mas a estrutura valeu muito a pena. A gente queria elevar o pagode feminino para um lugar muito top. Eu escolhi um dos pontos turísticos mais importantes e antigos do Rio, e no alto, onde toda mulher deve estar", afirma ela, em entrevista por telefone à Folha de S.Paulo. Por causa da pandemia, o show não contou com a presença do público.
Este é o primeiro álbum de pagode de Ludmilla, que surgiu no cenário musical em 2012, como a funkeira MC Beyoncé e o sucesso "Fala Mal de Mim" -só, posteriormente, ela assumiu o seu nome de batismo e estourou em todo o Brasil com o hit de funk "Hoje".
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Ludmilla diz que o pagode sempre fez parte da sua vida. "É a minha raiz. Quando eu realmente pude botar essa ideia para fora, eu queria que fosse uma coisa grandiosa e, graças a Deus, eu consegui."
A cantora afirma que o show é uma forma de reverenciar às sambistas do passado, como Beth Carvalho (1946-2019), Ivone Lara (1922-2018), Alcione, e abrir as portas para uma nova geração. "Fico muito feliz de fazer parte desse movimento, de ser esse exemplo de mulher empoderada, que mostra a cara mesmo e vai e faz o que está com vontade. As mulheres podem tudo, basta elas quererem", destaca.
A gravação da apresentação foi realizada em novembro do ano passado. Segundo Ludmilla, não poder contar com a participação do público foi a parte mais difícil. "Porque você sabe, pagode é mão no peito, copo pro alto, fechou o olho e é cantando o tempo todo. A gente está acostumado com essa energia", diz.
Só não foi mais complicado, afirma ela, porque a família estava lá a apoiando. "E eles são muito animados [...] Mas confesso que faltou o calor humano da galera cantando", completa. No palco, por outro lado, ela teve a participação especial dos pagodeiros Thiaguinho e Bruno Cardoso, dos grupos Vou pro Sereno e Di Propósito, e do rapper Orochi.
Quatorze faixas compõem o repertório do álbum entre os sucessos do EP "Numanice", lançado em abril do ano passado, e outras músicas já conhecidas do público. Há uma canção inédita: "Ela Não", que foi composta por Ludmilla um dia antes da gravação do show.
A letra fala sobre o término de um relacionamento, depois que o "cara vacilou" com a mulher. "Ele fica me ligando e tenta me esquecer com outra menina. Só que ela nunca vai ser eu, entendeu?", diz. A faixa, ressalta ela, não tem nada a ver com a sua vida pessoal.
Ludmilla afirma que seu casamento com Brunna Gonçalves segue firme e forte. "Está tudo maravilhoso, ela está lá em cima vendo a reprise", comenta.
O álbum de pagode sinaliza uma vontade da cantora de experimentar outros estilos e ritmos? Ludmilla diz que a palavra experimentar não é a mais adequada para definir o seu atual momento. "Eu faço música de todos estilos que você imagina desde que eu tinha 15 anos. É que o mundo, talvez, não saiba disso por uma estratégia que a gente faz de artista."
Mas, a partir de agora, isso deve mudar. A artista revela que tem uma pasta no celular com 35 músicas compostas por ela dos mais diferentes gêneros, como axé, sertanejo, letras em inglês e até para tocar em raves. "Só está faltando fazer um reggae. Gosto muito de fazer música que estou com vontade no coração, seja axé, pagode, funk. Eu faço de tudo", destaca.
Se tudo sair como planejado, a próxima de um gênero diferente que o público deve conhecer é, segundo ela, "um axé com batidão bem porreta".
Racismo
No fim de 2020, Ludmilla chegou a sair das redes sociais após sofrer uma série de ataques racistas. "Vocês não têm noção do que eu passo com essas pessoas. São 24 horas por dia de comentários racistas em todas as minhas postagens", afirmou ela, na ocasião.
Ela conta que tomou providências legais para responsabilizar os autores das ofensas. "Quando aconteceu foi triste para mim, mas vai ser mais triste ainda para quem fez. Eu já corri atrás de todos os meus direitos, já acharam as pessoas. Daqui a pouco, vamos poder divulgar publicamente [o resultado]", revela.
Neste ano, a cantora afirma que não foi mais alvo de ataques racistas. "E espero que não aconteça mais [...] A gente está no século 21, século de evolução. Olha essa pandemia toda aí, que aconteceu, essa catástrofe. A gente pôde perceber que ninguém é melhor que ninguém, que nem quem tinha muito dinheiro podia fazer nada. Não é porque você é branco que você é melhor que ninguém, não é porque você é gordo, magro, nada, todo o mundo é igual."
Ludmilla destaca que é importante se posicionar sobre o assunto até como forma de ser exemplo para outras pessoas que sofrem com o preconceito e o racismo.
Aliás, exemplos inspiradores são o que a cantora afirma estar absorvendo da experiência como técnica do The Voice+, reality musical da Globo somente com candidatos com idade superior a 60 anos. Na fase de audições às cegas, Ludmilla relata que foi motivada pela história de um dos concorrentes.
"Eu tinha tentado fazer uma coisa por duas vezes, e não tinha conseguido. Aí pensei: 'Ah, deixa pra lá, vou desistir dessa merda, vai'. Entrou um cara no The Voice e falou: 'Pô, eu tinha desistido de cantar e, depois de 30 anos, resolvi vir aqui e vocês viraram a cadeira para mim'."
Ao escutar essa história, a cantora diz que teve um estalo. Na sequência, voltou a insistir no projeto que tinha abandonado e deu certo -ela prefere não revelar do que se tratava. "É muito emocionante fazer parte do programa, são histórias maravilhosas de pessoas que não deixaram o sonho delas morrerem", conclui.