A idéia inovadora e bem sacada de montar uma banda virtual, com personagens em desenho animado, está rendendo. A esta altura do campeonato, o GorillaZ deve estar chegando à marca do primeiro milhão de cópias vendidas, nos Estados Unidos, de seu álbum de estréia. Na Europa, a história não é muito diferente. O frisson por lá é tão grande quanto nos States. Afinal de contas, é na Inglaterra que o grupo nasceu, fruto de duas imaginações bastante férteis: Damon Albarn e Jamie Hawlett.
Damon é popstar, vocalista da banda Blur, que tem pouco mais de uma década de existência, enquanto Jamie dedica sua carreira às artes gráficas. Foi um dos cartunistas criadores da Tank Girl, uma personagem de quadrinhos dura na queda, que guiava um tanque pelos desertos de uma Austrália pós-apocalíptica.
Uma super banda
Com suas forças unidas, criaram quatro integrantes para uma super banda. E não pouparam nos detalhes. Cada integrante do GorillaZ tem seu universo paralelo. O vocalista 2-D é um doce de pessoa (ou símio) com a cabeça vazia, vítima de pancadas que levou na infância. Em entrevistas jamais diz nada polêmico e idolatra seu baixista Murdoc, que lhe salvara a vida, segundo 2-D. Em resumo, o líder carismático da banda.
Murdoc, no entanto, é o oposto. Odeia 2-D, quer dominar as entrevistas e deseja ser o líder da banda. Possui visual tipicamente indie e idolatra satã - carrega no pescoço um crucifixo de cabeça para baixo, um sinal do tinhoso. É o mais velho do grupo, com 35 anos. Sua data de nascimento: 6.6.66. As extravagâncias dos músicos não terminam por aí. A guitarrista Noodle tem apenas 10 anos, veio do Japão trazida em uma caixa, luta artes marciais e só fala uma palavra em inglês: Noodle (macarrão instantâneo).
Por fim, o gigantesco baterista Russel é a alma negra da banda. Além de dar o groove necessário através de suas batidas certeiras, seu corpo aprisiona espíritos mortos da música negra, que costumam sair para fazer um rap (como acontece no videoclipe da música "Clint Eastwood"). Como se pode ver, uma formação multi-étnica, uma característica que vem consagrando bandas recentemente, a exemplo de At The Drive-In, Atari Teenage Riot e The Strokes.
Música, Videogame, Internet e Cinema
Apesar de apresentarem feições de primatas, os GorillaZ não deixam de ser muito engraçadinhos. Desta forma, acabam agradando também o público infantil, que se encanta com os quatro personagens. Pensando nos baixinhos, já foi criado um game estrelado pela japonesinha Noodle, que pode ser baixado no site do grupo.
Aliás, a internet é o lar perfeito para tudo o que é virtual, inclusive uma banda. No site www.gorillaz.com, completamente animado e interativo, pode-se conhecer melhor o universo de cada músico. A próxima mídia a ser dominada pelo grupo provavelmente será o cinema. Está sendo negociada a participação da banda como protagonista de um longa animado do diretor Steven Spielberg. A trilha resultaria no segundo álbum do grupo.
Imagem só não basta
Fala-se tanto da interface visual do grupo que até pode-se cogitar que a imagem domine os GorillaZ, deixando a música para segundo plano. Mas este risco não ocorre. Damon Albarn jamais deu ponto sem nó quando o assunto era música. Com o GorillaZ não foi diferente. Reuniu-se com um time de excelentes artistas para dar som a sua banda de desenho animado: o produtor de hip hop Dan "The Automator" Nakamura, a guitarrista e vocalista Miho Hatori do grupo Cibo Matto, o veterano do hip-hop Kid Koala e o rapper alto astral Del Tha Funkee Homosapien. De uma tão insólita e positiva união, era provável que nascesse uma música diferenciada.
O liquidificador do GorillaZ junta salsa, punk, trip hop, jazz e rap de uma forma racional e agradável. Pelas duas primeiras músicas de trabalho, "Clint Eastwood" e a cinematográfica "Rock The House", pode-se julgar que o rap seja a argamassa básica do grupo. Nem tanto. Das 17 faixas do CD, estas são as duas que têm vocais rap. Nas demais, o ritmo continua presente, mas através dos beats. Melodias pop, climas atmosféricos, caricaturas indie-rock, teclados cool em ritmo jazzy/lounge, assobios e gaitas desconcertantes são mais algumas características marcantes em todo o disco.
"GorillaZ" (o álbum) tem músicas para agradar a gregos e troianos - mais uma razão para justificar sua alta vendagem. As duas já citadas músicas de trabalho primam pelo cool rap. "Starshine" e "Man Research" partem para o viajandão. "19-2000" é total trilha de cartoon. "Punk" e "M1 A1" disparam adrenalina com sua pancadaria. As dez músicas restantes eu deixo para você julgar em que situação melhor se enquadram.
Diante de tudo isto, conclui-se que o sucesso dos GorillaZ é mais do que justificável. Tudo foi muito bem pensado nesta banda.
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