De todas as sete edições do Video Music Brasil (também conhecido como VMB), a desta quinta-feria, 16 de agosto, foi a que mais fugiu dos padrões viciados que a festa vinha adquirindo. Muito deste mérito deve ser creditado à maneira como o evento foi conduzido. A escolha do VJ e ator Marcos Mion para o posto de mestre de cerimônias varreu as más lembranças deixadas pela perdida Luana Piovani e pelo insuportável Carlinhos Brown, apresentadores dos VMBs anteriores.
Antes mesmo dele surgir no palco do Credicard Hall (e tropeçar no palanque de acrílico, que foi destruído), as câmeras internas da casa mostravam cenas da modelo Fernanda Lima se preparando para apresentar a festa. Mas Marcos Mion, enciumado, sabota sua aparição, fazendo com que a beldade ficasse presa no elevador. Ela só conseguiu se libertar nos últimos minutos da festa, indignadíssima. Tudo encenado, mas bastante divertido.
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Era de se esperar que Mion trouxesse o ambiente de seu programa, "piores clipes do mundo", para a festa. E realmente trouxe. Quanto aos figurinos, o primeiro era um terno que só tinha a parte da frente, amarrado pelas costas, como um avental. Apareceu também travestido como a drag queen Shirley Raio Laser, com roupas exdrúxulas que usa em seu programa, e até nu, exibindo seu físico de estivador principiante.
O galã trash surpreendeu. Em certos momentos exagerava, mas eram excessos perdoáveis. Fez piadas certeiras, tentava constranger convidados, prendia a atenção do espectador e alfinetou a Rede Globo em duas ocasiões. Numa primeira, valorizou seu trabalho na MTV, confessando que se não estivesse lá, seria hoje um mero figurante de novela global - um serviço que já realizou. Em outra, exibiu cenas do acústico com Roberto Carlos, que rendeu uma batalha judicial entre as duas emissoras. As cenas exibidas não mostravam o rosto do Rei. Havia apenas imagens dos músicos de apoio e das mãos de Roberto Carlos tocando piano.
Entre os convidados para a entrega de prêmios, Dercy Gonçalves foi imbatível. Acompanhada por João Gordo, a irreverente velhinha disparava uma metralhadora de palavrões nas poucas vezes em que tomava o microfone. Apesar de todo seu tamanho, João Gordo ficou pequeno na presença de Dercy. Supla foi chamado a apresentar o troféu de pior clipe, aproveitando que o pseudo-roqueiro é presença constante no programa de Marcos Mion.
Uma vez que a maioria das premiações eram escolhidas pelo público, os resultados não surpreenderam e certas vezes chegavam a ser óbvios. Normalmente, os artistas mais populares eram os eleitos, não importando se a qualidade do videoclipe era superior aos demais concorrentes ou não. Marisa Monte ganhou na categoria MPB, Charlie Brown Jr. em rock e DJ Marky em eletrônica, como já era esperado. A surpresa foi Bidê Ou Balde ter sido agraciado como banda revelação, concorrendo num páreo duro com Falamansa e KLB. Mais surpreendente foi vê-los recebendo o prêmio das mãos da dupla Sandy (de penteado novo) & Júnior. Um público recorde de um milhão e meio de pessoas elegeu os vencedores deste ano.
O show de Gabriel O Pensador com Afrorreggae, que deu início ao VMB, acabou sendo o melhor da noite. Só não perdeu para o desfecho com Sepultura e O Rappa porque a qualidade sonora estava péssima. Mal e porcamente se podia ouvir a guitarra de Andreas Kisser, que dava peso à música "Sepulnation". Desde o primeiro VMB, sempre há falhas gravíssimas na técnica de som. O que mais surpreende é que a produção parece que nunca vai aprender a corrigir este erro.
Após assistir a três horas (que não foram cansativas) deste VMB, nota-se que a filial brasileira da MTV adotou um perfil semelhante à matriz norte-americana: supervalorizar o humor e transformar seus VJs em astros. Neste ano, os apresentadores foram progatonistas das vinhetas da premiação. A entrada de Marcos Mion e da engraçadinha Didi, há pouco mais de um ano, colaborou para esta mudança. Eles são irreverentes e procuram se destacar tanto quanto as atrações musicais. Pode-se comparar Mion a Paulie Shore, VJ americano que hoje protagoniza comédias adolescentes.
Os vencedores deste ano:
Melhor do Ano (escolha da audiência)
Charlie Brown Jr. - "Rubão, o Dono do Mundo"
Melhor do Ano (escolha da crítica)
O Rappa - "O que Sobrou do Céu"
Pop
Pato Fu - "Eu"
Rock
Charlie Brown Jr. - "Rubão, o Dono do Mundo"
MPB
Marisa Monte - "O Que me Importa"
Rap
MV Bill - "Soldado do Morro"
Revelação
Bidê ou Balde - "Melissa"
Democlipe
Feijão com Arroz - "Joe Camarada"
Música Eletrônica
DJ Marky - "Tudo"
Website
Raimundos - http://www.raimundos.org
Direção
O Rappa - "O Que Sobrou do Céu" - Diretores: Kátia Lund, André Horta
Edição
Gabriel, O Pensador - "Até Quando?" - Editores: Oscar Rodrigues Alves/Rogério Ferreira Alves/Daniel Rezende
Direção de arte
AD - "AD#27 (Get Down)" - Diretor de Arte: Jarbas Agnelli
Fotografia
O Rappa - "O Que Sobrou do Céu" - Diretor de Fotografia: André Horta
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