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Fernanda Porto conquista o público europeu

16 mai 2003 às 17:28

Bonde: Você teve uma passagem pelo erudito. Como foi a transição do erudito para uma área mais popular?
FP: Na verdade, eu já tocava em compunha canções MPB desde a adolescência. Eu ingressei na faculdade de música como uma solução, pois desde os 14 anos eu sabia que queria fazer música. Era o melhor caminho para mim, já que eu não conhecia outros músicos e minha família não é da área. Inclusive eu sofria alguns preconceitos da família por causa desta minha opção vocacional. Eu entrei como pianista erudita, mas percebi que eu não era intérprete de piano. Eu preferia compor, então passei a estudar composição e regência. Estudei com o Joachim Koellreuter um professor completamente eclético e aberto, que me direcionou para a experimentação, como a música dodecafônica, atonal e eletroacústica. Ali eu já gostei de buscar timbres estranhos e sonoridades diferentes.

Bonde: Interessante, pois foi da música eletroacústica que se originou a música eletrônica que conhecemos hoje.
FP: Sim. Fora isso, o que eu estudei de mais acadêmico foi o canto lírico. Estudei com a Neila Farah, que é uma professora bem tradicional, que destesta música popular. Fiz três anos em um. Eu tinha apenas seis meses de curso quando entrei no Concurso de Jovens Concertistas. Minha professora ficou super brava, por achar que eu não tinha nível para concorrer. Mas eu fui selecionada e cantei a Bachiana #5. O problema é que eu cantei do meu jeito, um pouco mais livre da forma erudita, o que não agradou. Depois disso, eu percebi que música erudita não era muito pra mim, pelo fato de ter que interpretar as composições sempre dentro do estilo.


Bonde: E depois disso?
FP: Bom, não dá pra dizer que depois disso houve uma transição para a MPB, pois eu sempre fiz música popular antes, durante e depois da faculdade de música. O que aconteceu foi que eu me aproximei da música eletrônica através do DJ Xerxes, do XRS Land, que toca drum'n'bass. Ele vendia equipamentos de música. Em uma ocasião, ele me mostrou as músicas dele, gostei muito, e perguntei qual era o estilo. Desde então eu passei a pesquisar mais sobre o drum'n'bass. Até cheguei a ir para Londres, em 1998, só para pesquisar. Isso foi um bom estímulo para eu voltar a compor, fazendo uso do drum'n'bass, e sem querer, voltando aos ritmos brasileiros. Não foi intencional.


Bonde: Nesta viagem a Londres, você chegou a mostrar o seu trabalho como cantora?
FP: Em 98 eu já tinha feito duas músicas drum'n'bass. Quando eu fui para Londres, levei um CD-Demo que tinha estas duas músicas e mais algumas sem recursos eletrônicos. Lá eu tinha um cliente de trilha-sonora que era amigo do empresário da Janet Jackson. Ele ouviu este CD, mas achou que não tinha muito a ver com a gravadora dele, então mandou para a Skint Records, que é propriedade do Norman Cook (o Fatboy Slim). Ele ouviu o CD e gostou justamente das duas músicas que tinham drum'n'bass, que eram "Eletricidade", que está no meu disco, e "Pensamentos", que é uma parceria com Arnaldo Antunes. Achei curioso, pois eu ainda nem conhecia drum'n'bass direito e logo o Norman Cook acabou gostando. Isso não resultou em nenhum contrato, mas foi um grande estímulo.


Bonde: Como aconteceu o contrato com a Trama?
FP: Em 99 eu finalizei a versão definitiva do meu CD-Demo e o entreguei para várias pessoas, inclusive DJs. Certa vez eu fui num show do DJ Patife e entreguei uma cópia para ele, que só foi ouvir depois de dois meses. Depois de ouvir, ele rapidamente me ligou dizendo que queria fazer o remix de uma música, que foi a "Sambassim", que estourou primeiro no exterior, justamente porque o Patife estava tocando muito pela Europa. Depois ele voltou ao Brasil e tocou a música nos shows. Aí ela começou a ficar conhecida por aqui. A música saiu pelo selo inglês V Recordings que lançou a coletânea "The Brazil EP". Em 2001, eu estava recebendo algumas propostas de selos europeus graças à boa repercussão de "Sambassim". Eu já tinha praticamente fechado com a gravadora italiana Irma Records, mas aí apareceu a Trama apresentando outra proposta. Escolhi a Trama porque eu sempre quis trabalhar eles e, principalmente, porque eu queria lançar o meu disco no Brasil e fazer meu trabalho acontecer por aqui. Nem pensei duas vezes.


Bonde: O que você costuma ouvir em casa?
FP: Atualmente eu estou assistindo alguns DVDs, muitos deles de acústicos que eu ainda não tinha visto, como Rita Lee, Cidade Negra, Jota Quest e Skank. Entre os internacionais, eu cito Portishead, Madonna, Simply Red... eu gosto de muita coisa. Fica difícil enumerar.


Bonde: Entre os independentes nacionais, tem algum artista que você esteja ouvindo?
FP: Eu gostei muito de um grupo de Vitória, no Espírito Santo, que se chama ZéMaria, que junta rock com drum'n'bass. Tenho ouvido também o Cordel do Fogo Encantado e o Cabruêra.


Bonde: É verdade que você já gravou uma música escrita pelo poeta Paulo Leminski?
FP: Sim. Mas ela não entrou no CD. Eu gravei 22 músicas, e destas eu tive que escolher 14, senão eu teria que lançar um álbum duplo. A letra desta música veio do poema "Por um Lindésimo de Segundo", mas eu batizei a música de "Tudo a Mil" por causa de um trecho que diz "Tudo em mim anda a mil / Tudo assim por um fio". Eu a toco nos shows de vez em quando. Aliás, eu tenho várias coisas a ver com Curitiba. Já fiz a trilha de "As Vítimas da Vitória", um filme sobre a Revolução Federalista na Lapa, que até ganhou prêmios no Festival de Brasília; e também fiz para o Banco Nacional a trilha de uma campanha institucional dos 300 anos de Curitiba, que foi veiculada na TV.


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