Na última sexta-feira (dia 19), por toda Londrina estavam espalhadas filipetas e cartazes anunciando a apresentação do artista norte-americano Stephen Malkmus na cidade. Seria um de seus pouquíssimos shows no Brasil, onde sua reduzida turnê passaria também pelas cidades de Recife e São Paulo, dentro da programação do Festival Abril Pro Rock. "Mas quem é esse cara parecido com o Tom Cruise?", era a pergunta que alguns desavisados formulavam ao olhar o cartaz do show. Malkmus (que nem se parece tanto com o galã de cinema) fez parte da banda Pavement, um dos pilares do indie rock americano dos últimos anos, ao lado de Pixies e Sonic Youth.
Durante muito tempo, correram boatos sobre possíveis shows do Pavement no Brasil, mas que não passaram de mera especulação. A banda terminou sem nunca ter pisado em nossa terrinha. Por ironia, seu vocalista acabou aterrissando por aqui para shows de sua carreira solo. Segundo relatos, ele havia comentado que gostaria de fazer shows para um público pequeno aqui, de umas 300 pessoas. Mas isso não foi possível para um artista tão conceituado no meio alternativo. Em Londrina, cerca de mil pessoas foram a seu show - em São Paulo e Recife, esse público seria bem maior. Além dos londrinenses, havia pequenas caravanas de Curitiba, Maringá e outras cidades paranaenses.
O local escolhido era o Centro de Eventos do Shopping Catuaí, bastante amplo e com uma decoração moderna. O som mecânico estava bastante alto (até dava a impressão de que o show estava acontecendo). Na seleção, somente megahits do indie rock vindos de bandas como Weezer, Pixies, Dinosaur Jr, além do próprio Pavement. A qualidade do som, a propósito, esteve ótima durante toda a noite, sem problemas técnicos.
A banda local Grenade ficou encarregada da abertura. Em suas últimas passagens por Curitiba e São Paulo, o grupo fez shows curtos e pouco animados. Mas nesta ocasião foi diferente. Sua apresentação durou cerca de uma hora e todos os quatro integrantes estavam bastante agitados - nada como "jogar" em casa. Alteraram músicas mais frenéticas com outras calminhas, mas em praticamente todas o comportamento de palco dos músicos era bastante parecido: no começo de cada música todos estavam contidos, manifestavam maior empolgação no refrão, até que no final todos estavam pulando e agitando seus instrumentos como se quisessem quebrar tudo. Finalizaram com "Vampire" que é hoje sua música mais conhecida dos shows.
Enquanto a equipe técnica preparava o palco para a grande atração da noite, sobe ao palco o próprio Malkmus, carregando pedais de distorção para plugá-los em sua guitarra. Os fãs começavam a gritar seu nome. Bastante simpático, o vocalista correspondia com sorrisos que misturavam satisfação e modéstia. Antes mesmo do show começar, já tinha início a tietagem: não eram poucos os que solicitavam autógrafos. Após dividir seu tempo entre montar seus equipamentos e dar atenção aos fãs, Stephen Malkmus e sua banda, The Jicks, dão início ao primeiro show de sua turnê brasileira. Por costume, deram o pontapé inicial do repertório com as canções mais agitadas do álbum solo de Malkmus: "Discretion Grove" (que tem um videoclipe rolando no programa Lado B da MTV) e a meiguinha "Phantasies".
O público masculino direcionava suas atenções para a baixista do grupo, com visual típico de uma garota indie com olhar de má. Em um momento do show, ela e o baterista trocaram de instrumentos. O segundo guitarrista também tocava teclados e percussão em algumas músicas. Somente Malkmus não desgrudava de sua guitarra, além do microfone. Sua carreira solo está nitidamente marcada por canções mais comportadas e bem definidas, em contraponto ao barulho e à anarquia que marcou a música de sua antiga banda.
Praticamente todo o álbum de estréia de Stephen Malkmus foi executado ao vivo, com destaques para "Black Book", "Jo Jo's Jacket", "Church On White" e "Pink India", além das músicas de abertura. Mas todos que lá estavam presentes queriam ouvir pelo menos uma ou duas músicas de sua antiga banda, o Pavement. Somente no final do show os desejos de muitos foram atendidos. Mandou "In The Mouth a Desert", do primeiro álbum do Pavement, "Slanted and Enchanted", que inflamou o público. Com esta, o grupo finaliza o show. Era pouco. Todos esperavam pelo bis, de preferência com mais músicas antigas para matar saudades. Como ele imaginava o que o público queria, retornou para mais uma canção da carreira solo, seguida da antiga "Here", também do primeiro álbum do Pavement. Mas ele não lembrava direito da letra e ainda se divertia com isso.
Por volta das 3h30 da madrugada, a balada chega ao fim. Mas o som mecânico continuou dominando a pista por pelo menos uma hora para alegria de quem estava afim de dançar. Entre as músicas que o DJ selecionou, tocaram dois hits do Pavement que que o público tinha esperança de ouvir durante o show: "Cut Your Hair" e "Stereo". Mesmo sem Malkmus ter tocado estes sucessos, foi uma excelente balada para o último dia 19 de abril, data em que se comemora o dia do índio, mas que em Londrina foi parafraseada como o dia do indie.