Numa lista dos músicos mais rabugentos da história do rock, Dave Mustaine certamente seria bem votado. Quem quer que já tenha entrevistado o antigo líder do Metallica e fundador do Megadeth, banda que faz um heavy metal de guerrilha - esmerilhando os instrumentos show a show, noite a noite, disco a disco, para garantir a sobrevivência e durabilidade -, sabe que o norte-americano de 56 anos não se importa em ser ríspido ou dispensar alguns aspectos da boa educação.
Naquela tarde de setembro, em algum lugar dos Estados Unidos - ele não quis revelar onde estava dentro de um país tão grande quando aquele -, Mustaine aparentava algum bom humor. Sua questão mais aguda era centrada na ideia, noticiada por sites e veículos dedicados ao rock, de que a banda planejava voltar aos estúdios no ano que vem. "Isso você não vai arrancar de mim, caso você seja um desses jornalistas que só querem saber de manchetes", disse o rabug... Ops, disse Mustaine. "E você, Pedro, se colocar no seu título que o Megadeth vai entrar em estúdio no próximo ano, isso seria uma chamada e tanto. Você teria um furo. Uau. Mas não é verdade. O que posso dizer é que vamos entrar no estúdio, em algum momento. Temos novas ideias, mas não paramos para escrever canções ainda. Entendo a sua busca, embora não vá te dar o que você procura."
O fato é que a reportagem não procurava por esse "furo" - que também não pode ser considerado furo já que o próprio Mustaine, em uma entrevista ao podcast No Brown M&Ms, havia revelado os planos para levar a banda de volta aos estúdios no fim de 2017. E Mustaine, como aqueles valentões do colégio, ou cachorros que mais ladram do que mordem, só precisa ouvir algumas verdades do outro lado da linha para, enfim, conversar de música. Afinal, o Megadeth estava em vias de voltar ao Brasil, para shows em São Paulo (terça, 31, no Espaço das Américas) e no Rio (quarta, 1º/11, no Vivo Rio). A banda também tem, em sua formação, o guitarrista brasileiro Kiko Loureiro, do Angra, mais um atrativo motivo para incrementar o bate-papo. Por fim, a música que dá nome ao disco mais recente de Mustaine e companhia, "Dystopia", de 2016, foi vencedora do Grammy de melhor performance de metal na cerimônia realizada neste ano.
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Ou seja, havia muitas questões suculentas a serem tratadas com Mr. Mustaine, caso ele tivesse interesse em fazê-lo. A começar pelo Grammy, uma premiação que não é conhecida por entender muito bem de heavy metal, mas ainda importantíssima por questões mercadológicas - e Mustaine, que havia tido outras 12 indicações para o Grammy, concorda com isso. "É um prêmio que não depende dos fãs votando sem parar", ele diz. "Os Grammies são importantes por isso. Nós, é claro, gostamos de todos os prêmios que recebemos, mas esses, os mais legítimos, são importantes para a banda." Mustaine, inclusive, passou a integrar a equipe do Grammy para auxiliar na avaliação de bandas e artistas do heavy metal. "Por enquanto, há poucas categorias para esse gênero. Quero ajudar a aumentar a atenção dada ao heavy metal."
Com Kiko novamente ao seu lado em uma nova visita ao Brasil - a banda esteve por aqui em 2016 -, Mustaine brinca (veja só) que o Megadeth também é brasileiro. "E o Kiko é um herói nacional", diz Mustaine. "Ele é incrível. No próximo disco, ele terá mais participação na criação. Tenho certeza de que será fantástico."
Acontece que a própria rabugice de Mustaine é mais personagem do que marra, de fato. Com jeito - e um pouco de sorte -, ele desamarra a cara de mau. "O Megadeth é uma banda que nunca desistiu", ele diz, sobre a vida de um grupo que existe há mais de 34 anos e não deixa de pegar a estrada. "Não importa quão difícil, não importa o que falam de mim. A gente não desiste" - e talvez Mustaine não saiba, mas, com essa frase, se tornou tão brasileiro quanto qualquer um de nós.