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Chico: ou você ama ou você se cala

12 set 2006 às 19:33

Vinte e duas horas e três minutos. Para quem esperou tanto - os fãs sabem o quanto isso significa para vê-lo ao vivo - meia hora de atraso é quase nada. Como anunciado, na última quarta-feira, 30 de setembro, Chico Buarque quebrou o silêncio na estréia nacional da turnê ''Carioca'' com ''Voltei a Cantar'', de Lamartine Babo. Estréia que, aliás, já começou com os 41 mil lugares das quatros semanas de temporada esgotados no Tom Brasil, em São Paulo.

Com sua sombra projetada atrás do pano de boca que traz impressa uma poesia-partitura de Villa-Lobos (1947), eis que surge o compositor dando vida a letras e canções inéditas e, também, imortalizadas. Sim, realmente é um privilégio assistir a um show do Chico. E não tem como gostar pouquinho dele; ou você ama ou você se cala.


Embora os alicerces de seu repertório estejam baseados em seu novo disco, lançado pela Biscoito Fino, Chico incitou um coral com mais de duas mil vozes enquanto interpretava, por exemplo, ''Morro dos Dois Irmãos'' (1989), ''Futuros Amantes'' (1993) e ''Cantando no Toró'' (1987).


''Dura na Queda'' um samba de gafieira lançado por Elza Soares (2002) foi a escolhida de ''Carioca'' para dar sequência à vinheta de Lamartine Babo. Nas entrelinhas do show, destaque para a timidez sensual de Chico quando recebe um tamborim de seu parceiro Wilson das Neves em ''Grande Hotel'' (1997): improviso com o instrumento e discretos balançar de pernas.


Ao contrário do que a maioria supunha, Mônica Salmaso não teve participação especial no show com ''Imagina'' valsa composta por Tom Jobim em parceria com Chico assim como surge na gravação de ''Carioca''. Quem emprestou a voz foi a arranjadora Bia Paes Lemes, que também assume os teclados. O cenário minimalista e a iluminação ganharam corpo durante 'Subúrbio'' explícita visão de um Rio de Janeiro que não é tão bossa-nova assim quando o móbile com a silhueta do Corcovado começou a girar pelo palco, insinuando a mudança de ótica para as diversas realidades existentes.


Apesar de tamanha expectativa do público ao redor de si, Chico esteve a vontade com seu retorno ao universo musical. Dedilhados de violão acompanhados de assovios, alguns toques de calimba instrumento de origem africana feito de madeira ou de cabaça e toda boa vontade do mundo: o artista encerrou o espetáculo às 23h30, mas retornou para três sequências de bis. Em polvorosa, a pláteia gritava nomes de músicas para a aguardada ''palhinha'', mas Chico respondia sorrindo ''Essa eu não lembro mais!''. As últimas da noite foram ''Sem Compromisso'' (1943), ''Quem te viu, quem te vê'' (1966) e a poética ''João e Maria'' (1977), composta com Sivuca.


A turnê de ''Carioca'' é patrocinada pela operadora de telefonia TIM e deverá percorrer inicialmente mais sete cidades (Campinas, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador). A boa notícia é que Chico abriu espaço para mais oito shows no Tom Brasil entre os dias 5 e 15 de outubro. Se eu pudesse, iria de novo!

A jornalista viajou a convite da organização do evento.


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