Quem disse que o desejo, sexualidade e deboche não podem ser temas de livro? Ao menos foram com essas propostas que os pesquisadores Claudio Bertolli Filho e Muriel Emídio P. do Amaral lançaram uma coletânea de textos sobre um dos períodos mais salientes da história do cinema brasileiro: a Pornochanchada.
"A nossa intenção partiu do interesse de desmistificar que determinados assuntos não podem ser objetos de pesquisa ou interesse científico", alega Bertolli, professor e pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp). A pornochanchada foi uma estética fílmica que começou nos anos de 1960 e se alastrou até meados dos anos de 1980, sempre oferecendo às telas do cinema a sexualidade e temáticas eróticas aos espectadores. Vale lembrar que nesse período, eram as pornochanchadas que arrebanhavam multidões às salas de exibição, sem distinção de classe social.
O livro chamado "Pornochanchando: em nome da moral, do prazer e do deboche" conta com 15 artigos de pesquisadores das áreas da Ciência e Comunicação, muitos deles são alunos ou professores de pós-graduação da Unesp. A intenção do nome do livro foi uma combinação da proposta editorial da obra de trazer a sexualidade e o deboche para o meio acadêmico e também um sintoma da atual conjuntura brasileira frente à moralidade que assombra o país.
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"Lembro que sugeri o nome ao Claudio na semana após o espetáculo de aprovação do impeachment da presidente Dilma em que parlamentares justificavam seus votos em nome de alguma coisa: pai, marido, neta, até mesmo pela moralidade", alega Amaral, aluno do programa de pós-graduação da Unesp. "Depois, concluímos que deveria fazer uma referência ao prazer. Óbvio!", completa.
A primeira do livro faz referência aos estudos históricos e sociais, ou seja, como foram concebidos os filmes da pornochanchada enquanto discursos culturais, desafiando a moral e os bons costumes ou indo ao encontro dos valores conservadores, como é o texto de Claudio Bertolli "Um confronto esquecido: pornochanchada x moral e civismo".
A segunda parte da obra consiste em textos mais empíricos sobre análise fílmica. Nessa parte, os pesquisadores experimentam diversas metodologias para compor seus textos, não havendo uma unicidade, tão pouco hegemonia nos pontos de vista, o que pode ser interessante pela perspectiva da ciência.
Entre os textos está "As representações de perversão e estereótipo no filme ‘Macho, fêmea e cia - a vida erótica de Caim e Abel’", de autoria de Muriel Emídio P. do Amaral. O texto versa sobre os movimentos perversos da pornochanchada em desafiar códigos morais, mas também de reforçar estereótipos e tem como recorte o filme "Macho, fêmea e cia - a vida erótica de Caim e Abel", do diretor Mario Vaz Filho, uma trama que subverte a narrativa bíblica com boas pitadas de erotismo e deboche.
A terceira e última parte consiste em diálogos com produções mais recentes que muitas vezes trazem outras propostas estéticas, mas que apresentam alguns pontos de interseção com as produções da pornochanchada, como o texto "’Garotas da van’: fragmentos de pornochanchada na cultura participativa", de Gustavo Padovani.
O livro "Pornochanchando: em nome da moral, do prazer e do deboche" é de acesso gratuito e está hospedado no site da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac), da Unesp. Aos interessados na versão impressa, a Cultura Acadêmica vai lançar essa versão ainda no mês de março, preço a definir.
Serviços:
Lançamento do livro: Pornochanchando: em nome da moral, do prazer e do deboche
Gratuito pelo site:
https://www.faac.unesp.br/Home/Utilidades/pornochanchando-online.pdf.