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'Democracia em Vertigem' perde Oscar para documentário dos Obama

Folhapress
10 fev 2020 às 07:10

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- Divulgação/Netflix
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Não foi desta vez que o Brasil garantiu o seu primeiro Oscar. "Democracia em Vertigem", de Petra Costa, perdeu a estatueta de melhor documentário para o favorito "Indústria Americana", primeira produção da Higher Ground, criada por Barack e Michelle Obama no ano passado.

O filme, disponível no Netflix, mostra a chegada de uma fábrica chinesa nos Estados Unidos, e os choques entre as culturas de trabalho dos dois países.

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Além do brasileiro, ele concorria ainda contra dois documentários sobre a guerra da Síria, "The Cave" e "For Sama", e "Honeyland", sobre uma apicultora na Macedônia do Norte.

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"Democracia em Vertigem" recapitula os conturbados últimos anos da política brasileira, da eleição de Lula à ascensão de Jair Bolsonaro, passando pelo impeachment de Dilma Rousseff. Tudo isso a partir da perspectiva de Costa, cuja voz guia a narração em primeira pessoa.

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Polarizador desde o seu lançamento na Netflix, em junho do ano passado, a indicação do filme ao Oscar só fez acirrar a divisão entre seus apreciadores e detratores, em geral identificados com a esquerda e com a direita, respectivamente.


Assim que o título foi indicado oficialmente -ele havia sido pré-selecionado em dezembro passado-, os ex-presidentes Lula e Dilma, que aparecem em cena, elogiaram a escolha da Academia em comunicados concluídos com "a verdade vencerá".

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Já o presidente Jair Bolsonaro (Aliança) embarcou na falas de seu ex-secretário da Cultura, Roberto Alvim, e ironizou a indicação, afirmando que o documentário deveria ter sido indicado na categoria de melhor filme de ficção.


"Para quem gosta do que o urubu come, é um bom filme", disse ao jornal Folha de S.Paulo em janeiro, admitindo depois que não havia assistido à produção pois não perderia tempo "com uma porcaria dessas". A diretora não deixou barato, e republicou a notícia do jornal no Twitter acompanhada da frase "É como ser nomeada uma segunda vez em menos de 24 horas".

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Os ânimos se acirraram ainda mais à medida que a data da cerimônia se aproximava. Na segunda passada (3), a Secom, Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, usou seu Twitter oficial para atacar Costa, chamando-a de "militante anti-Brasil".


As críticas foram motivadas por declarações que ela deu numa entrevista à PBS, emissora pública dos Estados Unidos. "É inacreditável que uma cineasta possa criar uma narrativa cheia de mentiras e de previsões absurdas para denegrir uma nação só porque ela não aceita o resultado das eleições", diz um dos posts, escrito em inglês.

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Outro é um vídeo, este em português, em que a Secom classifica como fake news várias afirmações de Costa.


Segundo a advogada Mônica Sapucaia Machado, especialista em direito administrativo ouvida pela reportagem, os tuítes da Secom ferem a Constituição. Isso porque ela dita que administração pública deve ser orientada pelo princípio da impessoalidade, ou seja, não deve ser um instrumento de opinião sobre determinadas obras culturais.

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Costa também se pronunciou, e qualificou a atitude da Secom de antipatriótica.


Para Machado, os posts da pasta avançam o sinal vermelho ao expor a artista, "a ofendendo, o que não está autorizado à administração pública em nenhuma hipótese".


Até o jornalista Pedro Bial se envolveu numa controvérsia por causa do filme. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, ele afirmou que o filme era "uma ficção alucinante" que tinha provocado muitas risadas nele, e que a narração em primeira pessoa da documentarista era miada e insuportável.

Ele não pediu desculpas, mas disse que muitos de suas declarações foram tiradas de contexto num artigo publicado no jornal O Globo neste domingo (9).


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