Reeleito nesta terça (7) para seu segundo mandato como presidente da Fundação Bienal de São Paulo, o banqueiro e colecionador José Olympio da Veiga Pereira está numa missão.
"Queremos mostrar às autoridades a importância da Lei Rouanet para o financiamento da cultura neste país. Ela é fundamental. A renúncia fiscal associada à Rouanet é um valor ínfimo no contexto do orçamento público, mas que faz uma enorme diferença para o sistema cultural todo que depende dela", ele afirma, em entrevista por vídeo, citando o valor total captado em 2020 pela legislação, R$ 1,4 bilhão.
A partir de janeiro, Olympio, um dos principais colecionadores de arte do mundo, estará mais uma vez à frente da maior mostra de artes do país, para um mandato de dois anos que culminará na realização da 35ª edição do evento, em meados de 2023. "A decisão mais importante que o presidente da Bienal tem que tomar, e não pode errar nessa, se errar é complicado, é a escolha do curador."
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Para a próxima edição, diz estar buscando ideias "fora da caixa", mas que mantenham a missão da Bienal, de levar tanto ao público leigo quanto ao especializado um panorama do que se produz de mais interessante em arte contemporânea no Brasil e fora daqui.
A Lei Rouanet vem à tona na conversa porque o governo de Jair Bolsonaro publicou em julho um decreto que modifica a legislação, de onde vem o financiamento de boa parte das atividades da Bienal –a realização desta edição, a 34ª, encerrada no domingo (5), contou com R$ 33 milhões de verbas públicas captadas pelo mecanismo até agora.
Gestores de instituições culturais das artes visuais e da dança têm reclamado da dificuldade de aprovar, este ano, planos anuais na Rouanet, como é praxe para projetos artísticos de longa duração, um obstáculo que pode impactar a bienal. O que as instituições têm feito, incluindo a Bienal, afirma Olympio, é pedir a prorrogação dos planos anuais já aprovados, de modo que passem a valer também em 2022.
Citando Édouard Glissant, pensador central para o conceito desta Bienal e que em seus escritos pregava o diálogo entre diferentes, Olympio acrescenta ter "diálogo construtivo" com a pasta de Mario Frias, e diz esperar que a Secretaria Especial da Cultura regulamente o decreto publicado em julho. Para que entre em prática, é necessária a publicação de uma instrução normativa por parte do órgão, o que ainda não aconteceu.
Olympio faz um balanço positivo da Bienal recém-terminada, dizendo que a equipe do evento transformou obstáculos como a pandemia, que forçou o adiamento da mostra em um ano, em oportunidade para se aprofundar nos temas da exposição. Para ele, o principal legado é o destaque dado à arte indígena contemporânea. Foram nove artistas dos povos originários na escalação, entre nacionais e estrangeiros, além de uma mostra de arte indígena no Museu de Arte de São Paulo, o MAM, instituição parceira da Bienal, organizada por Jaider Esbell.
O pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera, em São Paulo, onde ela ocorre, recebeu 400 mil pessoas durante o evento, cerca de 40% menos do que a edição anterior, de acordo com dados da fundação. Olympio afirma achar a diminuição normal por causa da pandemia, e credita a baixa também ao fato de a exposição não ter recebido alunos da rede escolar na mesma dimensão da edição anterior.
As instituições parceiras do evento espalhadas por São Paulo, com mostras associadas à principal, tiveram público de 300 mil pessoas, e a programação digital do evento atingiu 2,7 milhões de espectadores.
Questionado sobre qual o papel do Estado em relação ao setor cultural, tanto privado quanto público, ele afirma que o apoio às artes é fundamental. "A cultura é diversa por definição, tem várias formas de expressão, ela é plural, e a gente não pode ver a diversidade como uma coisa ruim. A gente tem que ser capaz de conviver com visões diferentes, e é importante que o governo patrocine isso."
Sobre suas expectativas para as eleições presidenciais de 2022, diz que "o calendário político foi antecipado de uma forma incrível" e teme que o ano que vem seja pior, dada a polarização do cenário político. Em 2018, Olympio apoiou Jair Bolsonaro, mas neste ano mostrou em entrevista para este jornal seu desencanto com o ex-capitão.
O que o presidente do Credit Suisse no Brasil espera é "uma eleição de projeto, como a gente cria um país mais justo, sem o nível de pobreza que a gente tem, com capacidade de crescimento e emprego, para reduzir essa boca de jacaré em que na qual a gente tá vivendo, entre o crescimento brasileiro e o crescimento de outros mercados emergentes, particularmente os asiáticos."
Ele afirma ainda não ter candidato, pois o momento agora é de conhecer os postulantes ao Planalto. "Estou buscando quem tenha um projeto para o Brasil, que faça a gente andar para a frente, alguém que consiga chegar lá para implementar o seu projeto."