"É indispensável que em cada indivíduo se produza um desmoronamento, uma divisão interior, que se dissolva o que existe e se faça uma renovação sem impô-la ao próximo sob o manto farisaico do amor cristão ou do senso de responsabilidade social – ou o que quer que seja para disfarçar as necessidades pessoais e inconscientes de poder". C.J.JUNG
A proposta de Jung para a individuação é uma metáfora que significa viver no coletivo como indivíduo e desse modo, enfrentar os conflitos sem, no entanto, se deixar permanecer identificado com algo, alguém ou qualquer tipo de institucionalização. A identificação não só promove uma inflação de ego como também transforma os cérebros humanos em pedaços de isopor ou queijo suíço no melhor dos casos. A mente fica assim, disposta à mentira. A mente corrupta é mentirosa.
Afinal, o que é corrupção? No dicionário Aurélio da língua portuguesa consta que corrupção é em primeiro lugar, ato ou efeito de corromper. Também é igual à decomposição no sentido de estragar. Em segundo lugar, ato de devassidão, perversão e depravação e em terceiro lugar, ato que envolva suborno.
Todavia, o que vem a ser um ato perverso, um ato depravado ou devasso, sem cair na armadilha de um pré-julgamento moral e religioso, visto que ambos já estão corrompidos?
Talvez, o deus nórdico Wotan com seus raios e trovões, possa nos orientar e clarificar porque ele está sempre em busca do Anel do Poder e para consegui-lo não poupa nada e nem ninguém.
O ciclo do Anel de Richard Wagner é composto por quatro óperas e um dos personagens centrais é Wotan, o deus das tormentas e o mais poderoso dentre os deuses germânicos. Na mitologia escandinava é Odin e na grega é conhecido como Zeus, o temido detentor do poder patriarcal.
Wotan carrega junto a si uma lança ou um cajado onde aparecem inscritas as suas leis pelas quais rege seus acordos e tratados. Criadas por ele mesmo, essas leis deverão ser por todos obedecidas sob a pena de sofrer a tenebrosa fúria de Wotan.
O deus tem poder sobre as tempestades, raios, trovões e sobre toda a adversidade do clima. É Wotan que rege as condições climáticas. Se o tempo ficará bom ou ruim, dependerá de seu humor. Devido a isso, os povos lhe ofereciam sacrifícios para conseguir clima adequado para plantações e colheitas.
No entanto, somente o sacrifício do cordeiro e seu sangue derramado no altar desse deus, poderiam aplacar sua imensa fúria. Nenhuma outra forma de oferenda conseguia amenizar as intempéries violentas de Wotan.
Na ópera de Wagner há um momento em que Wotan deseja construir um grande e fortificado castelo em prol de sua masculinidade, poder e fama. Contrata dois gigantes para dar cabo da grande obra. Quando esta se finda e está a contento, Wotan lhes entrega Freya, a deusa do amor, da intensidade de vida e da beleza, como forma de pagamento.
Wotan também é conhecido como o deus dos disfarces. Devido ao seu insaciável desejo de controle e poder, ora se disfarça disso, ora daquilo para conquistar o que deseja.
Numa passagem mais adiante nessa mesma ópera, Wotan em sua busca pelo poder, se disfarça em mendigo.
É como mendigo que, sentindo-se sozinho em sua luta, clama por Erda, a deusa da sabedoria que dorme nas profundezas da Terra: "Erda, levanta-te do sono do conhecimento!".
Erda, ainda que a contragosto, se levanta e vai ter com Wotan.
No entanto, assim que dele se aproxima, o deus lhe ordena para que volte a dormir.
Mas, não foi somente Erda e Freya que Wotan prejudicou em sua sede pelo poder. Devido as suas ambições provocou dores e destruições à sua esposa Fricka, à sua filha Brunhilde e às donzelas do Reno que imploravam por sua misericórdia, o que parecia tornar Wotan ainda mais cruel.
UM DEUS QUE ENCENA AS EMOÇÕES DANDO ORIGEM À CORRUPÇÃO
Wotan constrói para si um castelo para ser admirado. Essa atitude é a base do sistema em que vivemos onde as pessoas passam a vida buscando alcançar construir um prédio ou uma empresa ou negócio em que se projete de tal modo que todos saibam de seu poderio e importância. Mas, para isso é indispensável que sacrifique sua vida afetiva e sua intensidade de vida e sua noção de beleza. É muito fácil perceber que hoje, a deusa Freya é banalizada e "vendida" com a maior facilidade.
Não havendo mais a noção do belo, não há mais também a ética e a estética que poderia até prever os dias futuros e as conseqüências dos atos corrompidos pelo poder.
Restam apenas vulgares e deselegantes ações corrompidas e corruptas que se mantém e se propagam através de uma falsa idéia de força e de "esperteza".
Agir sem beleza, sem intensidade de vida e sem afeto, não é sinal de força e esperteza, é sinal de doença chamada psicopatia, portanto é uma fraqueza.
O forte é aquele que consegue agir, com moral estética, com afetividade e com intensidade de vida, sentindo honestamente e enfrentando as conseqüências de suas paixões, seja medo, dor ou amor. Os fracos não querem sentir dor. Mas, ao se fechar para o fluxo da dor, se fecha para todos os demais fluxos, inclusive do amor.
Os fortes estão tão enojados do culto ao fraco que estão preferindo se manter a margem dessa sociedade corrupta e corruptível.
Afinal, o primeiro a levar tiro, o primeiro a ser executado é aquele que se interpõe contra Wotan, ou seja, contra o sistema corrupto sem afeto, sem beleza e sem intensidade de vida.
Ser honesto para consigo mesmo é uma afronta àquele que representa os afetos sem, no
entanto, conseguir sentir na pele a delícia e o prazer de sofrer dores e amores.
A lança ou cajado são símbolos fálicos, símbolos de poder. É evidente que Wotan é um deus que simboliza o autoritarismo e a arrogância daquele que anseia por poder e dominação.
Como regente das condições climáticas, onde quer que esteja um Wotan o clima emocional é dado por ele. Tanto pode criar um clima doce e ameno quanto uma tormenta.
Ao se enfurecer, "perde a cabeça", e nada pode apaziguar sua ira. Se lhe entregar o afeto, ele se alimenta dele e, portanto se fortalece; se o enfrentar com raiva, ele se fortalece ainda mais visivelmente. Wotan se alimenta e se fortalece com todas as emoções que lhe são oferecidas ou impostas. É terrível seu poder de dominação.
O cordeiro simboliza o amor. Sendo assim, somente o sacrifício do amor possibilita a saída das garras desse tormentoso deus.
Diante de sua dominação e poder, o melhor é aceitar que há um sentimento de amor e que provavelmente esse amor continuará a existir mesmo depois de sacrificá-lo em prol de não mais estar sob o domínio de Wotan.
A única coisa que funciona com Wotan é a honestidade em lhe dizer que há amor e que, no entanto, o sacrifício está feito, de modo que não mais entregaremos esse amor a ele que o usa para alimentar seu poderio.
Wotan simboliza também a atitude de representar os afetos conforme a necessidade e lugar. Ele não vive sua sensibilidade afetiva, mas sim representa as emoções adequadamente com a finalidade de manipular e seduzir.
Wotan se disfarça e engana para atingir seus objetivos ambiciosos. Um de seus disfarces mais eficientes é o de mendigo por incitar a pena nos despreparados que estão em seu caminho.
O dó ou piedade é usado e abusado por Wotan. Ele sabe que o principal atributo cristão é ser piedoso e sabe também que o segundo é ser humilde. E daí ele tira todas as vantagens.
O dó ou piedade é ainda mais destrutiva que a emoção de raiva. Se alguém lhe disser que tem raiva de ti, você tem ganas de reagir e sente sua força, mas se alguém lhe diz que tem piedade de ti, você sente se desmilinguir. Portanto, a piedade é a pior emoção que existe e a pior a ser ofertada. Inclusive, ao ter pena de si mesmo o individuo se quer se permite avançar em qualquer direção.
Quando Wotan pede a Erda que se levante do sono do conhecimento, está pedindo que ela venha com seu afeto em detrimento de sua razão. Assim que Erda se dispõe a lhe dar o afeto solicitado, Wotan, imediatamente, ordena que ela volte a dormir. Wotan não deseja seu afeto, deseja tão somente conferir seu poderio sobre ela.
Na história de Wotan verifica-se que corrupção é não agir de acordo com os seus próprios sentires. A mente corrupta e corruptível está à mercê de toda e qualquer manipulação por que não sabe dizer nem mesmo pra si o que sente, que dirá lutar pela sua sensibilidade.
A corrupção é abrir mão da estética moral e permitir que o tosco substitua o elegante. É corrupção usar apenas a razão em detrimento dos sentidos.
É corrupção dourar a pílula para que a verdade não venha à tona e desse modo tratar adultos como se fossem criancinhas sem poder de força para modificar seu meio.
É corrupção agir de forma passiva-agressiva de modo a ser identificado como vítima.
Falar com tanto mel na língua para esconder as presas e ser sonso é também uma maneira de corrupção.
É corrupção deixar de ser cultural e ampliativo para ser comerciável.
E mais do que tudo, é corrupto e corruptível o fato de homens , mulheres e crianças terem deixado de ser poder para ser indústria.
A mente corrupta e corruptível mente para si e conseqüentemente, mente para os demais.
Suas leis e regras servem para todos, menos para si mesmo.
Dita normas e moralidade, no entanto, é incapaz de viver a vida. Pois, a vida é o sentido. E a mente corrupta e corruptível sabe apenas representar os sentidos porque não possui poder para acessar as paixões. Por isso que necessita do poder de controle.
NÃO VOTE EM WOTAN
E não esqueça de que ele não é forte e nem genial, é apenas um doente incurável. Um fraco incapaz de viver as paixões. O que lhe garante que toda sua energia psíquica se volte apenas para a inteligência racional. Em resumo, é um psicopata que incorpora a representação da necessidade de um povo e a partir disso, manipula, engendra, mente, rouba e seduz com o fim de satisfazer suas próprias ambições de poder.
Características principais:
•Egocentrismo.
•Emoções superficiais, teatrais e falsas.
•Baixa tolerância para a frustração, embora aparente grande tolerância quando necessita representá-la.
•Baixo limiar para a descarga de agressão, embora não o faça em público se isso lhe for desfavorável.
•Falta de empatia com outros, embora represente grande empatia.
•Ausência de sentimento de remorso ou culpa em relação ao seu comportamento.
•Incapaz de amar, incapaz de manter uma relação leal e duradoura, mente sem constrangimento, subestima a insensatez da mentira, rouba, abusa e trapaceia.
•Manipula dolosamente familiares, companheiros de trabalho e o povo.
•Decididamente, nunca é capaz de se corrigir, embora dê a falsa impressão de arrependimento.
•É um exímio artista na arte de disfarçar inteligentemente suas características de personalidade.
•Possui carisma e charme convincentes.
•Não apenas transgride como ignora as normas na conquista de suas ambições.
•Ele está dentro de um grupo apesar de romper as regras, não se arrepender e nem se corrigir. Sua arte está na manipulação, embuste, teatralidade e ilusionismo.
•É refratário aos estímulos negativos tais como castigos, penalidades, apelos morais. É também refratário aos estímulos positivos como, carinho, recompensas e apelos afetivos. De modo que, nenhum estímulo modifica sua conduta corrupta.
•Desvirtua toda e qualquer virtude com o objetivo de ganhar.
•O outro é apenas um objeto, uma coisa que utiliza para seus jogos de poder.
•Possui traços impulsivos e agressivos, que são devidamente disfarçados quando julga necessário.
•Demonstra extroversão e confiança em si mesmo.
•Devido ao seu baixo teor de ansiedade está sempre pronto a agir somente com o pensamento, daí seu aparente controle emocional.
•Não possui controle emocional. Simplesmente não tem acesso às paixões por que sua personalidade está cindida. Como somente as representa, dá a impressão de que as controla.
Wotan é um predador que utiliza o charme, o encanto, a manipulação, a intimidação, o sexo e a violência para controlar as outras pessoas e satisfazer suas necessidades de poder.
As pessoas de todos os sexos, que se identificam com Wotan, geralmente morrem com os olhos arregalados. Morrem assustadas por que não podem acreditar que algo assim possa lhe acontecer, justamente ela, um deus!
Se você já comprou a idéia de que o forte é aquele sujeito sem sensibilidade para as relações afetivas e que o inteligente é aquele "esperto" que sabe tirar vantagem de tudo e de todos, então você já se rendeu a Wotan. Você está fazendo e pensando aquilo que ele gostaria que você pensasse. Ele manipula através de idéias que se pararmos para analisá-las de forma racional, veremos serem absolutamente ridículas e insensatas.
O problema maior é que o sistema representado por Wotan causa um sentimento de impotência tão premente que muitos preferem se identificar com ele por ser, aparentemente, uma saída mais fácil de ser suportada, mas não deixa de ser uma saída que despersonaliza tornando as gentes em objetos do poder.
Boas eleições!