"Camélia ficou viúva
Joana se apaixonou
Maria tentou a morte
Por causa de seu amor..."
PAULINHO DA VIOLA
CAMÉLIA DE PLATÃO
Camélia flor-botão roubaram-lhe os sonhos quando ainda virgem, as pessoas esvaziadas lhe imputaram a peja da imoralidade.
Como ainda em sua tenra idade não sabia da honestidade em ser libidinosa, acreditou que não tinha a honra para se casar com um lindo amor.
Ele lhe chegou em azul de olhos e bocas aos seus quinze anos para eternamente de um pouco tempo possui-la.
Entregou-se sem qualquer luta quando pensou que uma chama voou daquele olhar azul para o seu castanho olhar.
Momentos em tons pastéis, momentos em tons vibrantes, risos, valsas, copa do mundo, sonhos e um noivado que lhe pareceu de mentira.
Sua mãe, lhe conhecendo a tristeza, em nada se surpreendeu quando Camélia não se animou em fazer o enxoval por sentir que o casamento não se realizaria.
Chorando ele disse que era apaixonado pelo seu melhor amigo.
Sangrando, Camélia devolveu-lhe a aliança.
Cinco meses depois, seu amor azul estava casado com uma de suas amigas cujo gênio suportaria bem a vida dupla do marido. Tiveram três filhos.
Camélia de Platão, ainda chorando e amando, entendeu que além de não ser libidinosa no sentido imoral como diziam também não possuía o espírito de suportação.
Se foi dali e escolheu um homem gentil e carinhoso para lhe fazer mulher. Poderia até se casar, mas passou no vestibular.
JOANA DO AMOR PATRÃO
"Ei moça, você está com a coluna torta". Foi assim que ele a abordou no corredor da universidade.
O olhar de Joana há muito já havia sido fisgado por aquele homem já feito e grave.
Joana se deixou penetrar e, curiosa, o desejo a arrastava por onde quer que ele fosse.
Em seu útero já o amava e por ele era correspondida.
Passaram-se cinco anos de amor-prisão, onde ela o assistia em suas grandiosas beleza e sabedoria.
Ele lhe ensinou a fazer arroz e lhe fazia o café da manhã. Falou-lhe sobre relaxamento, homeopatia e reequilíbrio energético.
Ela continha todos os seus fluxos, pois ele fantasiava que ela olhava e se roçava em todos os homens, até no rapaz que se sentava ao lado na cadeira do cinema o que, invariavelmente, provocava uma explosão de ira e birra que durava uma ou duas semanas.
Joana foi sacrificando festas, metas, beleza, sonhos, viagens, amigos e familiares em prol do bem estar de seu amor.
Ele, cheio de vida, era o garanhão da moçadinha.
Sempre tão sábio. Tão coberto de razão e imantado por uma aura de inocente amor pelas mulheres.
Joana ... Onde estava Joana¿ Era pele e osso! Olhos fundos. Não mais sorria, nem cantava. Suas impressões e observações estavam sempre tão erradas, mal formuladas e impensadas que deixou de fazê-las e de tê-las. Ele estava sempre pronto para corrigir, delimitar, limitar, impedir e acima de tudo... Amar!
Joana se deitava e quando ele não a solicitava para fazer amor fogoso e violento, ela lia histórias de terror até adormecer.
Joana teve um pesadelo em que uma mulher tocava-o como se fosse mata-lo.
Ele, dono de toda interpretação e possuidor da existência de Joana, acreditou que o sonho que não era dele significava que sua ex-namorada ainda o odiava e desejava sua morte.
Pela primeira vez, Joana desconfiou. Na sequência, Joana teve um problema na planta de seu pé esquerdo que a impedia de caminhar e como não tinha mais voz no mundo de fora aprendeu a falar apenas consigo mesma e dessa vez fez-se uma pergunta fatal: "Você deseja sair de um lugar para outro, embora se faça refém?".
Aos poucos e com dor, se chegou até ele e disse-lhe firme e resoluta: "Eu tenho, mas a única coisa que ainda lhe dou é o meu adeus".
Joana não tem mais problema com os pés. Aprendeu a caminhar, a dançar e volta e meia saltitar e se você prestar bem atenção ela voa por aí em baixas e grandes alturas.
AS MARIAS DO AMOR ILEGAL
Maria do Gado
Aquela velha tia que Maria não via desde garotinha lhe perguntou, sendo tão linda, porque ainda não havia se casado¿ Maria disse que o motivo era exatamente por ser bonita, pois por causa de sua beleza as pessoas acreditavam que ela seria infiel ou que era muito esnobe e com isso não se aproximavam ou se aproximavam apenas para tirar proveito sexual.
A velha tia riu baixinho e disse que ser bonita e inteligente numa sociedade machista podia ser comparado a uma sentença de ilegalidade.
Não demorou muito para que Maria tivesse mais uma proposta para ser amante. Dessa vez aceitou.
O fazendeiro de meia idade a levou para sua fazenda, seu ninho de amor distante de todos e de tudo e lá a escondeu de sua esposa e filhos por alguns dias. Útil e vantajoso.
Um belo dia ao retornar à fazenda depois de seus afazeres como de costume, não encontrou Maria... Foi procurar pelos arredores, talvez ela fosse dar um passeio por ali... Procurou, procurou e nada de Maria...
Também não encontrou o gado...
Maria não se casou, mas tem ficado cada vez mais milionária.
Às vezes a solução está em roubar o sistema... Dos homens e das mulheres de boa vontade.
MARIA DO MACHADO
Volta e meia Maria ia até a Delegacia denunciar seu marido por espancamento. Ele ficava detido por um ou dois dias, pedia perdão e depois de quinze dias a história se repetia. E assim, os anos se passavam para Maria e sua filhinha.
Quando enfim a garota ganhou um corpo de menina-moça, não bastava mais ao marido espancar Maria. Seu olhar desejava a filha.
Maria foi até a Delegacia denunciou as intenções do marido e prometeu que se ele fizesse algo parecido com o que ela viu em seu olhar para com sua filha ela o mataria, porque aos espancamentos já até se acostumara, mas com abuso sexual contra a filha jamais aceitaria.
O "senhor Polícia", comentou sobre as regras de prisão por homicídio. Que no caso de ser réu primário e por não ter passagem pela polícia, seria bem mais interessante que o sujeito da ação não fosse pego em flagrante.
Portanto, se caso o sujeito cometesse o crime, que imediatamente após o feito se escondesse muito bem escondido para que os policiais não o encontrassem e assim perdessem a condição de flagrante.
Desse modo, a pena se reduziria consideravelmente podendo até escapar de condenação.
Naquele mesmo dia, seu marido chegou a casa completamente bêbado e a primeira coisa que fez foi espanca-la, a segunda coisa que fez foi descobrir a menina que dormia e observar seu pequeno corpo em flor. Estava tão bêbado, que foi dormir.
Maria acordou sua filha e pediu para que ela fosse para a casa de sua tia que morava ali perto.
Na sequência, lançou mão de um machado e záz... Separou a cabeça de seu marido do seu tronco e correu se esconder no pé de limoeiro atrás da casa.
Os policiais e toda a vizinhança chegaram, procuraram por Maria e... Pasmem! Não a encontraram.
Ninguém a viu logo ali por sobre o pé de limoeiro!
E mais um dia se foi dentro do sistema...
Texto: Lunardon Vaz - 2016
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