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*QUE DIFERENÇA DA MULHER O HOMEM TEM?

06 nov 2016 às 18:39

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Homens e mulheres estão imersos num mundo de objetos e assim não podem ser pensados independentemente deles. São produtos de sua cultura e do seu meio, paradoxalmente, eles fabricam sua cultura e seu meio.

Os "objetos" não pertencem apenas ao mundo exterior, pertencem também ao mundo psíquico ao qual o sujeito está constantemente em contato de modo consciente e ou inconscientemente. Em análise psicológica podem ser constatados em sonhos, devaneios e nos acontecimentos diários.

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De outra feita, a cultura e o meio em que se vive também não se restringem apenas ao momento atual em que se insere sua história pessoal, muito pelo contrário, a cultura da qual participamos nos alcança desde os tempos imemoriais perfazendo nossa herança psíquica e o meio em que vivemos é compartilhado por todos os habitantes do planeta e quiçá por todo o universo. Sem esquecer que além dos humanos, os habitantes desse planeta são seres sencientes, dotados de sensibilidade, mais uma vez, devemos lembrar que já se constata que a razão é também um instinto.

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As ações coletivas de guerra e de corrupção que ainda insistem em existir demonstram um velho e moribundo sistema falido tentando sobreviver nem que seja a custa do Planeta Terra que nesse momento encontra-se num estado febril correndo o risco imediato de perder toda sua megafauna.

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Há diversas maneiras de explicar o mundo que nos rodeia. A Psicologia Analítica verificou, tanto em homens quanto em mulheres, que contamos com quatro funções psíquicas. Dentre elas, duas que são instintivas e que nos ajudam a perceber o mundo, chamadas Sensação e Intuição.


As outras duas são funções racionais com as quais julgamos aquilo que percebemos, chamadas Pensamento e Sentimento.

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Além dessas quatro funções nos adaptamos ao mundo através das atitudes Extrovertida ou Introvertida. A pessoa extrovertida fala mais de si mesma e se sente bem em meio a grupo de pessoas enquanto que a pessoa introvertida não se sente a vontade falando de si mesma e nem em ficar muito tempo junto a grupo de pessoas.


É da realidade como ela é que a Sensação fala, ela trás uma certeza estática da realidade e esse é o seu princípio básico enquanto que a Intuição fala de uma realidade de possibilidades, ou seja, da realidade dinâmica.

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Quando chegamos às funções racionais, tudo fica bem diferente, para o Pensamento podemos falar em termos de convicção. Para o Pensamento nada é mais real do que uma ideia. Existem ideias gerais ou coletivas, modos lógicos que remontam as origens arquetípicas das quais o Pensamento deriva seu julgamento. Estas imagens estáticas que fundamentam o Pensamento podem ser chamadas de Logos.


O julgamento da função Sentimento ultrapassa o valor individual, ele é trans-subjetivo, vinculando seus valores ao sujeito e ou ao grupo social. A realidade para a função Sentimento é dinâmica. Sendo assim, as imagens da realidade da função Sentimento, por sua vez, pode ser chamada de Eros.

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De modo que de acordo com a orientação da Psicologia Analítica, a realidade apresenta quatro faces: 1) a realidade estática proveniente da Sensação; 2) a realidade dinâmica que vem através da Intuição; 3) as imagens estáticas que nos chegam pelo Pensamento; 4) as imagens dinâmicas provenientes do Sentimento.


Como salienta o próprio Jung, é apenas uma tentativa de organizar o mundo, não sabemos se o mundo é um Cosmos ou um Caos, porque toda a ordem é colocada nele por nós mesmos.

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Outra observação importante é a de que é usual nas pessoas interpretar a vida principalmente através da função que se apresenta mais forte em sua personalidade. Inclusive muitas vezes, torna-se impossível convencer uma pessoa de que ela não pode captar o mundo trans-subjetivo com apenas uma função psíquica.


No tempo em que eramos nós seres primários utilizávamos apenas uma função psíquica, ou melhor, tínhamos apenas uma das funções diferenciadas, conforme nos desenvolvemos como seres humanos mais sofisticados, passamos a diferenciar ao menos duas funções da psique. O indivíduo mais complexo e mais sofisticado diferencia três ou mesmo as quatro funções psíquicas.

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Resumidamente, o indivíduo diferenciado da inconsciência lida bem com suas quatro funções psíquicas.


LOGOS E EROS


O nome Eros advém da mitologia grega. O deus Eros era o filho de Vênus, a deusa do Amor. Diferentemente de sua mãe que representa a expressão do amor em chama, em sua intensidade primeira, Eros representa as expressões do amor em toda sua diversidade e diferentes intensidades, de maneira mais acertada, Eros é a liga entre o sujeito e o objeto de amor.


Inicialmente, Logos que também vem do grego, significava a palavra escrita ou falada, enfim, significava o Verbo. A partir dos filósofos gregos, mais especificamente com a filosofia de Heráclito, Logos passou a ter seu significado ampliado como a capacidade de raciocínio e também como um princípio cósmico da Ordem e da Beleza.


Em Memórias, Sonhos e Reflexões, Carl Gustav Jung faz a seguinte consideração sobre o animus (energia psíquica masculina) e anima (energia psíquica feminina), de modo a relacionar a anima com o principio de Eros e de animus com o princípio de Logos:


"A anima do homem procura unir e juntar, o animus da mulher procura diferenciar e reconhecer. São posições estritamente contrárias no plano da realidade consciente constituindo uma situação conflituosa, mesmo quando a relação consciente dos parceiros é harmoniosa".
"A anima é o arquétipo da vida... pois a vida se apodera do homem através da anima, se bem que ele pense que a vida lhe chegue através da razão. Ele domina a vida com o entendimento, mas a vida lhe chega através da anima. E o segredo da mulher é que a vida vem a ela através da instância pensante do animus, embora ela pense que é o Eros que lhe dá vida". C.G Jung


O animus é a energia psíquica que habita a mulher. A mulher em si mesma se orienta pelo Eros devendo diferenciar seu masculino que lhe trará o Logos. A anima é a energia psíquica que habita a psique do homem e este em si mesmo se orienta pelo Logos, devendo diferenciar sua anima que lhe traz o Eros.


Enquanto esses conteúdos, anima e animus, não estiverem diferenciados pela consciência do ego, eles irão atuar sobre o Ego de uma maneira primária. Então a anima (o feminino) não diferenciada atua no sujeito primitivamente e o mesmo ocorre com a mulher em relação ao seu animus (masculino) não diferenciado. E não importa a orientação de gênero, independentemente da orientação libidinal que segue o homem e ou a mulher, pois estamos falando no sentido psicológico.


O feminino tende a identificar o sentimento com a realidade, assim passará por cima da realidade sensível quando uma coisa for sentida como desagradável. O masculino fará o mesmo aferrando-se obstinadamente à afirmação lógica. Devido a tal questão, a diferenciação de anima e de animus desenvolvida pelo sujeito o colocará numa posição mais salutar em termos psicológicos e em termos de produção do meio.


Não devemos esquecer que tanto masculino quanto feminino são energias psíquicas que atravessam a psique humana, recebendo o nome de animus e de anima na psicologia analítica.
Uma mulher seja qual for sua orientação sexual deve possuir um lado primitivo e é exatamente assim que ocorre com o homem.


A questão é que esse aspecto da psique deveria ser diferenciado e contido pela consciência do ego. Caso contrário, não existe nada para se agarrar e o indivíduo se torna presa das forças liberadas quando não são contidas pela consciência do ego. Ao invés de viver passa a ser vivido.


Quando o lado primitivo do homem é despertado e de modo tão somente instintual, ele precisa humilhar e rebaixar a mulher a fim de torna-la aproveitável para seus instintos. Assim, temos uma sociedade em que o Logos da mulher não é contemplado e, por vezes, completamente ignorado enquanto que seu Eros é exaltado e cultuado.


Funcionamos por oposição, então quando um homem se atrai por uma mulher ele projeta nela sua anima correspondente ao Eros e quando uma mulher se atrai por um homem ela projeta nele seu animus correspondente ao seu Logos.


Quanto mais inconscientes são essas energias psíquicas nomeadas por anima e animus, mais o sujeito a projeta num sentido primário, instintual.


O lado primitivo da mulher a leva a ficar numa posição arcaica, recebendo e acalentando o Eros primitivo nela projetado e respondendo a expectativa do homem também de modo primário, de modo instintual, tornando-se extremamente sexualizada.


De início o relacionamento se faz numa tremenda efusão sexual, mas com o tempo essa efusão resfria e a mulher começa a se sentir usada, deslocando sua projeção de animus para outro homem fora da relação e que virá para resgata-la daquilo que agora considera seu cárcere. Por outro lado, o homem por ter sido primário em se utilizar do corpo de sua mulher somente para sua satisfação libidinosa, vive inconscientemente a culpa que se traduz em algum tipo de impotência da sexualidade.


Uma mulher que tenha diferenciado seu aspecto masculino não irá se entregar para esse tipo de relação e tampouco o homem que tenha diferenciado sua anima irá se submeter ao caos de uma relação tão inconsciente com consequências caóticas a médio e longo prazo.



De onde surgiu esse quadro de repressão do Eros?


No período anterior ao surgimento da civilização ocidental que tem seu inicio na Grécia com o advento da organização do Estado, tanto homens quanto mulheres não eram reprimidos em seu Logos nem em seu Eros. A prova disso encontra-se no fato de que o princípio reinante naquele período era de sociedade pagã em que homens e mulheres viam e viviam a sexualidade de modo natural. Na própria Pólis grega não existia a repressão, mas foi justamente lá que se constituiu o Estado.


Com o surgimento do Estado, essas forças precisaram ser rearranjadas para servir ao próprio Estado. Assim, a repressão de Eros e da energia psíquica feminina, a anima, está ligada ao problema da domesticação coletiva do homem. A fim de constituir o Estado a anima precisava ser reprimida. Se a anima tivesse domínio seria impossível a formação de Estado.


A repressão acontece gradualmente através de acordos nos quais se promete em não combater em tais e tais condições. Onde se depõe as armas e não se fala muito alto. Onde se é muito cortes e não pisa na sombra de outro homem. Dessa maneira a tolerância teve chance de prosperar, mas através dessas praticas a anima do homem ficou reprimida.


Ao retrocedermos ao matriarcado verificamos que não existe nenhum ideal de castidade em relação à mulher, mas com a constituição do Patriarcado, os homens ficaram interessados em estabelecer legalmente a paternidade de seus filhos e herdeiros, assim surge a concepção da esposa casta e a partir daí passaram ao conceito cristão de virgindade.


Quando na sociedade apareceram certas crueldades como a queima das bruxas significou, psicologicamente, que o instinto foi torturado por uma exagerada superestima da castidade. E em muitos casos, continua sendo.


Resulta que a anima foi praticamente totalmente reprimida, gerando em sua psicologia um Eros primitivo, altamente primário e instintual que é projetado na figura do outro.


E como o mesmo sucedeu a ela, essa projeção aciona seu Eros também primitivo o que acaba por veicular mensagens tanto individuais quanto coletiva de sexo desproporcionado à razoabilidade como se a humanidade ainda estivesse na sua fase adolescente de ser.



E o princípio do Logos, foi também reprimido?



Somente no caso das mulheres. No sistema de patriarcado, a mulher não tem o direito de ser pensante. Lá no inicio dessa sociedade, somente os homens podiam utilizar o Logos, à mulher cabia tão somente o direito de procriação, inclusive os prazeres sexuais eram obtidos na relação de homens com homens e os prazeres intelectuais eram somente para eles, imaginavam que a mulher não possuía capacidade intelectual.


No decorrer da história intelectiva verifica-se que foi dado aos homens a prioridade, sendo a eles concedido prêmios dentro da ciência e da literatura. Poucas mulheres tiveram o reconhecimento de sua sabedoria.


Até os dias atuais verificamos que os homens ganham mais do que as mulheres na mesma posição de cargos nas empresas; verificamos que um livro escrito por um homem tem mais chance de sucesso do que um livro escrito por mulheres. No próprio seio da família as mulheres pensantes são discriminadas e até mesmo ignoradas em sua produção. Em muitos grupos de jovens, a mulher pensante sofre a pressão de disfarçar seu intelecto e expor apenas seu coquetismo para ser aceita.


Com a exacerbação do Eros em nossa sociedade, temos que o Logos passou a ser negligenciado e rebaixado de seu real valor. As conversas normalmente seguem em prol do Eros, caso se elege o Logos numa discussão, em breve se verifica a incapacidade de concentração intelectiva fazendo voltar a discussão para coisas relacionais.


Todas essas questões são procedentes da repressão ao Eros que por não estar diferenciado na psique individual e muito menos na coletiva, está em sua plena atuação desproporcionada. E com isso o Logos também tem de recuar, pois o Eros não dá espaço para sua expansão.


É como se hoje, Logos não tivesse mais valor, o que importa são as relações e o poder que se adquire através dessas relações. O Logos está sendo, nesse momento, reprimido pela consciência errante de Eros. E isso terá um preço.


Assim como Eros através de sua exacerbação irracional, está requisitando o seu preço por ter sido reprimido, o Logos também vai requerer seu tributo e se o fizer de modo inconsciente tal e qual o Eros está fazendo, em breve teremos uma sociedade completamente sociopata, a doença da razão.


Certamente já é bastante palpável essa condição na sociedade. Podemos verificar o processo se instalando e ganhando força através dos esquemas fraudulentos e corrompidos da política e da religião. Podemos ver o mesmo processo de doença da razão na destruição do clima e do planeta. No genocídio de povos indígenas e na arrogância do poderio entre nações, entre partidos políticos e religiosos.


Enfim, quando se reprime um lado da psique individual e coletiva, temos que toda a psique está comprometida. Seu aspecto feminino e seu aspecto masculino encontram-se adoentados e fracos. Tão doentes que necessitam marcar o território através dos instintos sem qualquer razoabilidade e sensibilidade racional.


A guerra entre os sexos é doentia, é tóxica e causa danos na coletividade. Não é apenas o relacionamento humano entre casais que está em jogo e numa condição sofrível.


Mais do que nunca precisamos alçar mais um degrau em nosso desenvolvimento como ser humano, abandonar essa fase regredida e atingir a consciência racional sensível.


Devido a esse caminho errante de nosso psiquismo estamos causando a sexta extinção em massa da humanidade e junto a ela o sofrimento do planeta e de seus seres magníficos.


Texto: Lunardon Vaz



Letra da canção que deu origem ao nome desse texto:


*TEM POUCA DIFERENÇA


FORRÓ – LETRA E MÚSICA DE LUIZ GONZAGA


Que diferença da mulher o homem tem
Espera aí, que eu vou dizer meu bem.
É que o homem tem cabelo no peito
Tem o queixo cabeludo, e a mulher não tem.
No paraíso um dia de manhã
Adão comeu maçã
Eva também comeu
Então ficou
Adão sem nada
Eva sem nada
Se Adão deu mancada
Eva deu também
Mulher tem duas pernas
Têm dois braços, duas coxas.
Um nariz e uma boca
E tem muita inteligência
O bicho homem também tem do mesmo jeito
Se for reparar direito, tem pouquinha diferença.


Sugestões de leitura:
1 - https://netnature.wordpress.com/2016/11/06/como-as-diferencas-de-sexo-masculino-e-feminino-emergem-no-cerebro/


2 – C.G. Jung - Seminários sobre Psicologia Analítica (1925) Petrópolis RJ : Vozes 2014

3- C.G.Jung – Memórias Sonhos e Reflexões – Botafogo RJ: Ed. Nova Fronteira S.A. 1963


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