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OS ZUMBIS - CONSCIÊNCIA CORRUPTA E CORRUPTÍVEL

27 mai 2012 às 14:13

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"Disseste que se tua voz
Tivesse força igual à
Imensa dor que sentes,
Teu medo acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira..."
Renato Russo

As histórias de zumbis têm origem no sistema de crenças espirituais do Vodu afro-caribenhos, que contam sobre trabalhadores controlados por um poderoso feiticeiro. O ser humano morto volta à vida com o intuito maligno de servidão ao seu invocador.


Um zumbi é uma criatura fictícia que aparece nos livros e na cultura popular como um morto que foi reanimado pela religião Vodu ou um ser humano irracional.

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O conceito, nascido na década de 60, ganhou grande popularidade ao longo dos anos, servindo de tema para incontáveis filmes, seriados, livros, histórias em quadrinhos, videogames e outras obras de variadas mídias.

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Há mesmo os que acreditam na concretização de tal cenário, e preparam-se para sua suposta chegada constituindo-se no Apocalipse Zumbi, cultuado e aguardado trata-se de uma infestação de zumbis numa esfera catastrófica tornando-os dominantes sobre a Terra. Hostis à vida humana, rapidamente atacariam a civilização em proporções esmagadoras, causando a "Praga Zumbi" por que a pessoa que foi atacada, através da contaminação, também transformar-se-ia num morto-vivo.

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O filósofo David Chalmers na metade da década de 1990 cunhou um conceito utilizado em Filosofia da Mente, campo de pesquisa que examina a associação entre pensamento consciente e o mundo físico, o "zumbi filosófico", trata-se da pessoa que não possui consciência plena, mas que possui biologia e comportamento de um ser humano normal.


Já em 1937, a pesquisadora Zora Neale Hurston, no Haiti, verificou um caso de psicose que possuía todas as características de uma possessão zumbi.
Na década de 80, também em pesquisa no Haiti, o etnobotânico Wade Davis, verificou que se utilizando de algumas drogas era possível provocar um estado dissociativo, uma psicose induzida pela droga, muito semelhante ao zumbi. Essas pessoas passavam a serem vistas vagando por cemitérios num estado de zanga e depressão.

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Em seu livro "O Eu Dividido" - (The Divided Self, 1960), o psiquiatra britânico Ronald David Laing, equipara a doença da esquizofrenia, em seus primeiros estágios, com o processo de "zumbificação".


Friedrich Nietszche, em Genealogia da Moral publicada em 1887, diz: "se é normal à condição doentia do homem – e não há como contestar essa normalidade – tanto mais deveriam ser reverenciados os casos raros de pujança da alma e do corpo, os casos felizes do homem, tanto mais deveriam ser os bens logrados, protegidos do ar ruim, do ar de doentes".
"Isso é feito?
Os doentes são o maior perigo para os sãos. Não é dos mais fortes que vem o infortúnio dos fortes, e sim dos mais fracos. Isto é sabido?..."

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Segue Nietzsche dizendo que o temor obriga os fortes a serem mais fortes e até, ocasionalmente, temíveis. De forma que o temor mantém "em pé" o tipo bem logrado de homem e de mulher.


O medo advém de seguir o caminho da mente e coração porque aí tudo é efêmero, descontrolado, finito. Sofrer as dores das infinitas perdas, sofrer o amor, sofrer as paixões e assistir em primeiro plano, suas sombras se agitarem e seus instintos buscarem concretizar os desejos mais cruéis e assustadores e a eles dar continência e continente. Esse é o forte.

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Aquele que sucumbiu à consciência coletiva de nunca mais sofrer por amor é o fraco, o completamente derrotado que vigia os fortes, que inveja os fortes, cuja vontade de viver está colada em desprezar e destruir os fortes.


Segundo Nietzsche, "o que é de temer, o que tem efeito mais fatal do que qualquer fatalidade, não é o grande temor, mas o grande "nojo" ao homem, e também a grande compaixão pelo homem." O nojo, ou o desprezo do homem para com o homem, gera a misantropia que, por sua vez, gera fracos que não querem mais enfrentar os conflitos, aqueles que querem o "nirvana", não querem mais sofrer. Na verdade, não querem mais viver. Porque a vida é conflito.

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O deus da guerra, Ares e a deusa do amor Afrodite, tiveram uma filha cujo nome é Harmonia. Essa deusa emerge entre a guerra e o amor, filha do instinto destrutivo e do instinto da paixão. Harmonia está entre ambos, diretamente no conflito. Ao contrário do que se imagina, harmonia surge e se encontra em meio à situação conflituosa, em meio à vida, no seu fluxo e não fora dele.


O enfrentamento que se faz à consciência corrupta e, portanto corruptível dos tempos modernos onde se lê a máxima ditada pela "Lei de Gerson", "levar vantagem em tudo"; onde ainda se lê tantos valores "tresvalorados" como, por exemplo, o desejo que na modernidade é utilizado em prol da manutenção de uma postura individualista e egoísta ou mesmo sendo ele, o desejo, uma justificativa para ações que desfavorecem e agridem outros, esse enfrentamento embora cause temor, gera força e obriga o forte a ser forte, a reconhecer sua potencia.

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Somente no enfrentamento ao conflito que se (re)conhece a capacidade, seu ponto forte e seu ponto fraco, onde está bem e onde necessita mudanças.
O que é temerário e terrível para a saúde psíquica é aceitar tais agressões como normal, posto que seja comum e, dessa forma acabar por sentir "nojo" do ser humano; ou ainda por piedade, deixar de se envolver no conflito e novamente acabar com asco da condição humana. A piedade, o dó é a residência da baixa intensidade.


A raiva tem energia capaz de provocar uma reação e pode mesmo ser utilizada para abrir caminho e em sua forma de indignação pode gerar mudanças sociais e provocar ajustes morais e éticos. Todavia, se alguém sentir piedade sente o rebaixamento da energia psíquica e aquele que é o alvo da piedade, sente-se prostrado, digno apenas de pena, sente-se ainda mais rebaixado em intensidade e na moral. D’onde a piedade é o pior sentimento que se pode sentir por si mesmo e pelo outro, posto que propicie tão somente baixa intensidade de vida.


Asco e piedade dão à vontade de nada, ao niilismo.


O grande perigo ao ser humano são os doentios, não são os maus, são aqueles já vencidos e destroçados com sua consciência corrupta e corruptível; que corroem a vida e sua intensidade; que perigosamente envenenam e levam a questionar a confiança na vida e no ser humano. São estes que espalham, por toda parte, algo semelhante ao ar de hospício ou de hospital, como observou Nietzsche ainda em a Genealogia da Moral.


É aí, neste solo do desprezo que cresce o desejo de levar vantagem em tudo, o rancor e a rede malévola de conspiração contra a vida e contra todo e qualquer ato de vida e contra todo e qualquer ato de sucesso e de alta intensidade. É onde a verdade é assolada e a mentira sofisticada e melosa ganha tributos.
É aí que a simples visão daquele que vai para o enfrentamento do conflito ou daquele que é vitorioso, é simplesmente odiada.


Daí decorre um jogo de palavras, um jogo de valores já corrompidos que irá ostentar a arte da calúnia para não admitir esse ódio como ódio.
"O que afinal eles desejam? Desejam representar o amor. Representar a justiça. Representar a sabedoria! Para tanto se valem da habilidade de falsário para imitar as virtudes." ( Genealogia da Moral-1887). É Nietzsche mostrando a verdade, a verdade odiada.


Esses "bons" e "justos", esses que "roubam, mas fazem", esses "humildes e açucarados" esses "homens de boa vontade", são eles os doentes e fracos que a consciência corrupta e corruptível declara serem "espertos" e incentivam a imitação e ou que simplesmente factua: "Não tem jeito" "É assim mesmo", "Não dá pra fazer nada", "Não tem solução", "E, fazer o que?", "O negócio é aceitar", "Eles detêm o poder, então só nos resta ficarmos quietos".


Cuidado! Consciência corrupta e, portanto, corruptível é uma doença psíquica altamente contagiosa e podemos chegar ao apocalipse zumbi ou já chegamos, pois parece existir poucas pessoas ainda vivas e buscando desesperadamente se defender do contágio, como por exemplo o movimento Zombie Walk que aconteceu em Outubro de 2003 no Canadá e vem se espalhando, com sucesso, para todos os grandes centros mundiais.


Composta por um grande grupo de pessoas que se vestem de zumbis caminhando por grandes centros urbanos, organizados numa rota que passa por shoppings, parques e outros locais onde se encontra um grande publico.


A caminhada dos zumbis não existe somente pela diversão dos participantes. Trata-se de uma crítica ao consumismo desenfrado e esta ligada a datas em que as pessoas correm de loja em loja, sem pensar, desesperadas pelo consumo rápido e fácil, como se fossem zumbis em busca de carne fresca.


Desconfiar e rejeitar toda e qualquer agressão seja ela física ou psicológica, é um ato que pressupõe uma tentativa de não se entregar à doença psíquica e à corrupção, é também um ato que requer uma boa dose de coragem e de perseverança, pois os "normais", os doentes virão censurar, virão ameaçar, virão para corromper sua vontade.
"... Que a voz tenha força igual à imensa dor...". Que o medo acorde a vizinhança inteira; e que desvende toda corrupção em qualquer ato de si e do outro.


Que tal força abra caminho para a comunicação de forma a denunciar a sangria de homens e mulheres, expressa na dor, no medo e na agressividade como defesa a esse pântano corrupto que leva a essa postura narcísica, onde até mesmo o ódio e o desprezo ganham o nome de desejo ou amorosidade para justificar atitudes violentas.


Que o sonho não seja esquecido e que o normal seja dizer sim à vida, o que significa ir em direção ao conflito, correr riscos, ser moralmente corajoso. A palavra coragem vem do francês "couer" que significa coração. Seguir o coração ou o caminho do coração não é nutrir piedade, é antes ter a ousadia de ser honesto consigo mesmo sem incorrer nas defesas contra as paixões, sejam elas quais forem.
Foucault em sua tese sobre biopolítica lembra que "O homem, durante milênios permaneceu o que era para Aristóteles: um animal vivo e ademais capaz de uma existência política; o homem moderno é um animal em cuja política de estar vivo é o que está em questão." (Foucault, 1976, p. 188).


Nessa fala parece haver uma denúncia de que o homem moderno passou de sujeito da ação para o objeto da ação. Essa situação abre para a corrupção porque o homem moderno se encontra a mercê de uma parcela mínima da sociedade que exerce poder sobre ele. Tudo o que faz e pensa, ao invés de propiciar-lhe uma ação política, acaba gerando uma ação que será destituída de seu poder pela distorção intelectual e moral que vá de encontro à parcela dominante da sociedade, por que esta parcela dominante não acolhe sua ação política, simplesmente analisa, critica e o detém como um objeto que ousou expressar-se e tem como aliado àqueles que são influenciados, domesticados, condicionados, inconscientes e inconseqüentes.


Gabor Maté, médico psiquiatra em entrevista concedida a National Rádio Project em Illness & Addiction, corrobora a idéia acima ao expor seu pensamento: "Numa sociedade que se baseia no poder de certas pessoas para controlar e lucrar com a vida e o trabalho de milhões de outros, a cultura intelectual dominante irá refletir as necessidades do grupo dominante. Então se você olhar ao nosso redor, as idéias que permeiam a psicologia, a sociologia, a história, economia política e ciência política fundamentalmente, refletem certos interesses da elite." ( fevereiro de 2012.)


Em seguida corrobora também a idéia de Nietzsche acima postulada:
"E os acadêmicos que questionam muito isso tendem a serem ignorados ou são vistos como ‘radicais’." (Gabor Maté, Illness & Addiction – 2012.)


Na psicologia analítica de Jung, para que o sujeito possa vir a ser o sujeito da ação e manter certa autonomia, deverá lutar para escapar da consciência coletiva, assim se diferenciando do todo ao também escapar das matrizes de pensamento que o influenciam de modo inconsciente. A saber:


"Ninguém fica completamente imune a influencia das correntes contemporâneas (...) . A natureza instintiva do homem sempre colide com as barreiras culturais (...). Hoje em dia sabe-se também que nem sempre é só a natureza instintiva animal que está em desacordo com a coerção cultural. Muitas vezes, novas idéias são premidas do inconsciente para a luz do dia , entrando em choque com a cultura dominante, tanto quanto os instintos." ( Carl Gustav Jung – Psicologia do Inconsciente – 1983 - p. 12).


O que impede o processo de zumbificação, é cortar-lhes a cabeça, o que significa destitui-los da razão e do controle.


Atualmente há outros dois grandes movimentos sociais de caráter mundial que estão se interpondo à psicose generalizada ou ao processo de zumbificação.


São eles: o Projeto Venus que tem como objetivo melhorar a sociedade, construindo cidades sustentáveis , usando energia de forma eficiente, gerindo os recursos naturais da Terra, usando automação avançada, focando nos benefícios que tudo isto trará à sociedade. A organização foi fundada por Jacque Fresco e por Roxanne Meadows em 1995, embora o Projeto já exista desde os anos setenta.


E o segundo, não menos importante é o Movimento Zeitgeist, um termo alemão cuja tradução significa espírito da época, em suma, o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época.


O Movimento Zeitgeist é um movimento social global que promove a união da espécie humana fundamentada na ciência e tecnologia. Promove a superação do modelo econômico monetário que deverá ser substituído pela Economia baseada em Recursos. Modelo do qual a aplicação do método científico em problemas sociais aproxima a humanidade dos processos de abundância, eficiência e sustentabilidade da natureza. Visto que as leis naturais regem a forma mais saudável da vida prospera, concordam que não há outro modo mais produtivo do que fundir os assuntos da humanidade com seus processos.

De modo que, embora esteja ocorrendo um movimento de "zumbificação" próprio de uma sociedade em total decadência, os dois movimentos sociais globais acima citados, demonstram que já existe também uma nova sociedade emergindo com novos valores e conscienciosa, produzida pelos fortes.


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