Na mitologia grega, as Moiras (em grego antigo Μοῖραι) eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos.
As Moiras eram:
• Cloto (Κλωθώ; klothó) em grego significa "fiar", segurava o fuso e tecia o fio da vida. Junto de Ilítia, Ártemis e Hécata, Cloto atuava como deusa dos nascimentos e partos. Responsável pelo caráter de criação.
• Láquesis (Λάχεσις; láchesis) grego significa "sortear" puxava e enrolava o fio tecido, Láquesis atuava junto com Tique, Pluto, Moros e outros, sorteando o quinhão de atribuições que se ganhava em vida. Responsável pelo inusitado.
• Átropos (Ἄτροπος; átropos) em grego significa "afastar", ela cortava o fio da vida, Átropos juntamente a Tânatos, Queres e Moros, determinava o fim da vida. Responsável pela finitude de todas as coisas.
A tecelagem simboliza a estrutura e o movimento do universo. Tudo que está em cima está embaixo. O corpo encontra sua analogia perfeita no cosmos. Tecer é criar, utilizar conteúdo consciente e inconsciente para gerar a misteriosa anatomia do homem.
Em Mircea Eliade em seu texto intitulado Traité d’histoire des religions, Paris, 1964, diz: "Tecer não significa somente predestinar e reunir realidades diversas, mas também criar, fazer sair de sua própria substancia,exatamente como faz a aranha, que tira de si própria a sua teia".
As Moiras são fiandeiras que criam novas formas. Elas representam essa substância misteriosa que existe no homem e que a partir de seus próprios conteúdos mais os de seu meio tecem, reúne realidades diversas, inclusive suas predisposições, para gerar o seu destino. Cria criaturas com vida própria que o influencia e o impulsiona a criar novas criaturas que o influenciarão e assim por diante.
Não se intrometer com as três tecelãs do destino significa não tomar para si, de modo egóico, os fluxos (fios) que engendram a vida posto que a substância utilizada não seja somente razão e nem somente consciência, garantindo o espaço para o que se ignora, para o inusitado e imprevisível.
Psique dá conta da jornada e se encaminha para entregar a caixinha a sua sogra.
Mas, a curiosidade se interpõe ao dever e ela, contrariando a ordem de Afrodite, abre a caixinha. Imediatamente um sono letárgico a toma e ela se prostra ao chão.
Eros, já curado de sua ferida, vai ao seu encontro e implora a Zeus que interfira.
Zeus eleva Psique a imortal e moradora do Olimpo. Promove o casamento de ambos onde Afrodite está presente e feliz.
Da união nasceu a filha de nome Volúpia, que significa prazer e bem-aventurança.
Em todos os contos onde há uma determinada proibição a personagem, invariavelmente, desobedece a ordem dada e faz o proibido. Aqui não foi diferente. Psique desobedece Afrodite e abre a caixinha.
Já vimos que a caixinha contem a substância da intensidade. Proibir uma pessoa de não viver as intensidades é o mesmo que impedi-la de se utilizar de sua sensibilidade instintiva para consagrar a existência e fazer com que a pessoa permaneça num estado de ingenuidade. Neste estado Psique quase se casou com um monstro, símbolo do predador. Depois aceitou conviver com Eros sem poder olhar para ele. A pessoa ingênua concorda em viver na ignorância.
Não olhar para dentro da caixinha significa que existe uma barreira psíquica que deverá ser ultrapassada para que a pessoa passe da inação para a ação; da ignorância para o conhecimento; da impotência para a potência.
Ainda bem que suas irmãs a fizeram buscar o conhecimento quando não devia ver o rosto de Eros. Se assim não fosse, jamais Psique teria ingressado em sua jornada de individuação.
Lá, as irmãs representavam uma centelha de curiosidade instintiva, aqui Psique já está de posse de seu instinto e ela mesma ultrapassa a ordem de ficar passivamente quieta diante das intensidades da vida.
Eros que representa a consciência discriminatória devido possuir arco e flecha para atingir o alvo das questões afetivas, se desprende do jugo da mãe, evolui para um estado mais avançado onde pode proporcionar à Psique o despertar do sono letárgico.
O que equivale a dizer que ao se desvencilhar da barreira psíquica, o indivíduo liberta a energia psíquica que estava encarcerada e impedida de chegar à consciência.
É muito provável que quando alguém consegue ultrapassar a barreira psicológica ocorra um estado de letargia. Trata-se daquele momento em que a pessoa fica parada sem saber definir o que está sentindo e o que há de advir a partir da sua decisão. É comum que isso aconteça por que as referências anteriores caem por terra e agora há ocorre um êxtase pelo novo estado, mas sem saber ainda lidar com tais intensidades e nova força. O ego precisa de um tempo para discriminar novos códigos.
Psique ao conhecer suas origens infernais, subverte seus próprios valores e traz para a consciência o conteúdo das intensidades que lhe foram proibidas desde sempre. E como ainda não sabe lidar com isso entra em letargia. A consciência discriminatória, rapidamente lhe chega e se alia a Zeus.
Para Psique isso significa que reconheceu o masculino em si mesma e que a força dele provém da imagem paterna. A força e autoridade que atribuía ao pai hoje sabe ser sua. Quando uma mulher reconhece as forças masculinas da energia psíquica, ela se torna ainda mais feminina. Ao passo que quando ainda não tem consciência dessas forças, ela se torna masculinizada e até cruel. O princípio do feminino precisa do animus para ser manifestado.
Tomando Eros como o homem na relação, restabelecer contato com Zeus, depois de sair do jugo materno, significa reconhecer em si mesmo as forças e o poder do pai. Reunir-se com a sua anima (Psique), significa que reconhece nele mesmo e se deixa atravessar pelas forças femininas da energia psíquica. O princípio masculino depende da anima para ser manifestado.
Carl Gustav Jung define anima e animus como sendo "a personificação da natureza feminina do inconsciente do homem e da natureza feminina do inconsciente da mulher.
Tal bissexualidade psíquica é reflexo de um fato biológico: o maior número de gens masculinos ou femininos determina os sexos. Um número restrito de gens dos sexo oposto parece produzir um caráter correspondente ao sexo oposto, mas devido a sua inferioridade, usualmente permanece inconsciente".
(...) "A função natural da anima e do animus consiste em estabelecer uma relação entre a consciência individual e a inconsciência coletiva".
(...) "Em sua primeira forma inconsciente, o animus é uma instância que engendra opiniões espontâneas, involuntárias, exercendo uma influência dominante sobre a vida emocional da mulher. Enquanto que a anima é, por outro lado, uma instância que engendra sentimentos espontâneos os quais exercem uma influencia sobre o entendimento do homem, nele provocando distorções". ( Memórias, Sonhos e Reflexões – 13ª edição – Ed. Nova Fronteira – 351).
Ao aprender a se relacionar com o animus, a mulher se desprende dos arquétipos inclusive daquele representado pelo pai. Do mesmo modo, ao se relacionar com a anima, o homem se desprende dos arquétipos, inclusive aquele representado pela mãe.
Retomando, Psique primeiramente despoja o amante de seu poder divino que é o equivalente a retirar a projeção do animus. Agora tem o poder de amar conscientemente o seu par, onde se defrontarão como iguais. Na seqüência e por último, se reúnem numa nova sizígia que transforma a ambos.
Afrodite é a representação do feminino inconsciente, aquele que usurpa, fere e possui. Na medida em que Psique enfrenta esse conteúdo inconsciente vai descobrindo nela uma aliada para seu próprio crescimento. O arquétipo da mãe terrível torna-se uma guia para a individuação.
A ascensão de Psique ao reino do Olimpo, significa a coroação de seu trabalho junto a sombra indicando que sua imortalidade se refere a consciência de vida-morte-vida; da transformação e da efemeridade do viver.
Da união entre os opostos, anima e animus, bem como dos aspectos tenebrosos da psique e da consciência com a inconsciência, nasce a Volúpia, o prazer e a bem aventurança.
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Londrina - PR.
Livros consultados:
JUNG, CARL GUSTAV - O Eu e o Inconsciente - Ed. Vozes - 1984 - Petropolis - RJ
_________________- A Natureza da Psique - Ed. Vozes - 1985 - Petrópolis - RJ
BRANDÃO, JUNITO DE SOUZA - mITOLOGIA gREGA - Vol.II - Ed. Vozes - 9ª edição- 1998-RJ
CAMPBELL, JOSEPH - O Poder do Mito - E. Palas Athena-1ª Edição - 1990 - São Paulo -SP