Política

PT vê federação com PSB em crise e já se prepara para ter candidatos próprios nos estados

11 fev 2022 às 11:55

O PT (Partido dos Trabalhadores) já não deposita todas as fichas na formação de uma federação partidária com o PSB (Partido Socialista Brasileiro), que selaria a aliança em torno da chapa de Lula para presidente e Geraldo Alckmin como vice e obrigaria os dois partidos a atuarem juntos em todos os estados do país.


A reunião da direção do partido, na quinta (10), com dirigentes do PSB e também do PV (Partido Verde) e do PC do B (Partido Comunista do Brasil), que integrariam o acordo, foi considerada desanimadora.


Os petistas que participaram da conversa já fizeram o relato a Lula, que concordou com o prognóstico de que a federação, embora ainda desejada, pode ser inviável.


As negociações seguem intensas e não serão interrompidas. Mas as pedras no caminho seriam várias.

Para os petistas, a principal delas é a postura do ex-governador de São Paulo Márcio França, que mantém a pré-candidatura ao governo de SP e defende que Fernando Haddad abra mão da pretensão de também disputar o cargo para apoiá-lo.


França tem afirmado a lideranças que, embora Haddad esteja na frente nas pesquisas de intenção de votos, teria mais dificuldades em vencer a direita no estado no segundo turno por causa da rejeição de parte significativa do eleitorado ao PT.


Já os petistas informaram ao PSB que podem abrir mão de candidaturas em praticamente todos os estados -menos em São Paulo.


Lula, em entrevistas nesta semana, já deixou explícito que a candidatura de Haddad é irreversível.


As lideranças do PT lembram ainda que abriram mão da candidatura ao governo de Pernambuco, onde o senador Humberto Costa (PT-PE) liderava com folga, para apoiar um nome do PSB no estado.


O PT imaginava que França sinalizaria com um recuo nesta semana em troca, por exemplo, de ser candidato ao Senado e ministro de um eventual governo Lula.


Mas isso não ocorreu. Pelo contrário.


Na reunião de dirigentes partidários de quinta-feira, enquanto a maioria dos integrantes do PSB mostrava simpatia pela ideia da federação e já negociava detalhes de seu funcionamento, França jogou um balde de água fria nos ânimos.


Ao pedir a palavra, ele afirmou que as regras da federação debatidas ali não tinham maior relevância e poderiam ser discutidas por três ou quatro pessoas. O importante de fato, frisou, seriam os gestos políticos dos diversos partidos que pretendem integrá-la.


A leitura foi a de que ele deseja do PT o "gesto político" de apoiá-lo para concorrer ao governo de São Paulo.

O impasse com o ex-governador, portanto, permanece.


Outra pedra no caminho seria o prefeito do Recife, João Campos (PSB-PE). Ele não estaria empenhado na formação da federação porque ela dificultaria a pretensão de sua namorada, a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), de sair candidata à Prefeitura de São Paulo em 2024.


Como uma eventual federação unindo PT, PSB e os outros partidos só poderia lançar um nome na capital, ela dificilmente seria a escolhida.


Além disso, Campos não estaria confortável com a possibilidade de ter que conviver com sua prima e deputada federal Marília Arraes (PT-PE) na mesma federação, sendo obrigado até a apoiá-la em alguma eleição no futuro. Os dois são adversários figadais.


Um outro obstáculo seria o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB-ES). Buscando a simpatia de eleitores de centro-direita e direita, ele receberá no sábado (12) o ex-juiz Sergio Moro para conversar.


Já a base do PSB, especialmente a bancada de deputados federais, defende enfaticamente a formação de uma federação com o PT. Eles acreditam que o acordo fortaleceria o campo de centro-esquerda e facilitaria a reeleição da maioria deles.


A pressão dos parlamentares socialistas sobre os dirigentes do PSB tem sido intensa, o que poderia reverter as dificuldades apresentadas até agora pelos caciques.


França e Campos, no entanto, têm forte influência no diretório nacional da legenda, que tem a última palavra sobre o assunto.


Daí o relativo desânimo de Lula e do PT. Sem a federação, o quadro muda na maioria dos estados.


Os petistas poderiam voltar a lançar o senador Humberto Costa em Pernambuco.


No Espírito Santo, a possibilidade de apoio à reeleição do governador Renato Casagrande seria enterrada. E o PT lançaria a candidatura do senador Fabiano Contarato (PT-ES) à sucessão no estado.


No Rio Grande do Sul, onde se discutia uma aliança com o PSB na cabeça de chapa, o PT lançaria o deputado estadual Edegar Pretto (PT-RS) ao governo.


No Rio de Janeiro, Lula pretende seguir apoiando a candidatura do deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) ao governo do estado, independentemente de aliança ou federação com o PSB.


Mas haverá tensão, já que petistas que resistem a Freixo, como o presidente estadual da legenda, Washington Quaquá, ganhariam força.


A crise poderia chegar até mesmo ao Maranhão. Com a federação, o PT e Lula engrossariam a campanha do atual vice-governador do estado, Carlos Brandão (PSB-MA), lançado pelo atual governador Flávio Dino a sua sucessão.


Sem ela, poderia apoiar o senador Weverton Rocha (PDT-MA), que é próximo do partido.


A única certeza é que, com ou sem federação, Geraldo Alckmin tem lugar garantido como vice de Lula.

 Inicialmente negociando para entrar no PSB, ele já tem convites de outras legendas, como o PV, para se filiar e disputar a eleição na chapa.

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