O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) buscou driblar perguntas sobre como evitará corrupção no país caso seja eleito, admitiu desvios na Petrobras em governos petistas e erros da gestão Dilma Rousseff na economia e exaltou seu antigo adversário e atual candidato a vice de sua chapa, Geraldo Alckmin (PSB).
Líder nas pesquisas de intenção de voto, Lula participou de sabatina na noite desta quinta-feira (25) no Jornal Nacional, da TV Globo.
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O ex-presidente tentou reconhecer parte das críticas que são motivo de desgaste do PT nos últimos anos, principalmente em relação à corrupção e ao desempenho da economia sob Dilma.
Também fez críticas a sigilos decretados no governo Jair Bolsonaro (PL) e à ação do procurador-geral da República, Augusto Aras, chamado por ele de "engavetador". Mas não quis se comprometer a indicar à PGR um nome apontado na tradicional lista tríplice da categoria, que acabou descartada pelo atual presidente.
Lula também disse que a "polarização é saudável no mundo inteiro", mas chegou a criticar ditaduras de governos que têm a simpatia de alas petistas. "Não tem polarização no partido comunista chinês, não tinha polarização no partido comunista cubano", afirmou.
A entrevista provocou panelaços, mas o movimento foi menor do que o registrado na segunda-feira (22), durante a entrevista de Bolsonaro à emissora. Também ocorreram buzinaços e gritos de apoio ao petista.
Na cidade de São Paulo, panelaços aconteceram nas sacadas de edifícios de bairros como Santana (zona norte) e Vila Leopoldina (zona oeste) e houve ainda gritos de "fora, Lula" e "ladrão". Atos contra o petista foram registradas em outras capitais, como Rio de Janeiro e Salvador, além do Distrito Federal.
Também ocorreram manifestações a favor do candidato do PT à Presidência. Em São Paulo, houve um buzinaço e gritos de "Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula" em Perdizes, na zona oeste. Em Santa Cecília, região central, algumas pessoas gritaram "fora, Bolsonaro".
"Você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram", disse Lula, em relação a escândalos na Petrobras em governos petistas. Ele não respondeu de forma clara quais seriam suas propostas para evitar que esse tipo de caso volte a acontecer em nova gestão.
Questionado sobre a corrupção, Lula insistiu em dizer que só surge corrupção em governo que permite a investigação.
Ao falar a respeito do escândalo do mensalão, que ocorreu durante seu primeiro mandato, Lula fez comparação com o que chamou de "orçamento secreto", mecanismo no qual parlamentares conseguem indicar verbas para obras sem transparência sobre o autor da destinação.
Lula disse que Dilma é uma das pessoas por quem mais ele tem respeito, mas que houve a gestão dela "cometeu equívoco".
"Dilma fez um primeiro mandato extraordinário. Mesmo assim ela se endividou para manter as políticas sociais e [lutar contra] desemprego", disse Lula. "Cometeu equívoco na questão da gasolina, ela sabe disso, 518 mi de desoneração. Acho que quando ela tentou mudar ela tinha uma dupla dinâmica contra ela."
Apesar disso, ele defendeu Dilma e culpou o Legislativo na época por parte das dificuldades econômicas que Dilma enfrentou durante seu mandato.
Em diversas respostas, Lula fez questão de citar a participação do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) em um futuro governo, caso seja eleito, especialmente na área econômica.
De acordo com o petista, uma chapa entre os dois permitirá maior estabilidade na economia. "Ganhar credibilidade interna e externa para fazer as coisas nesse país", disse.
Ainda na área econômica, Lula disse que seu plano de governo será elaborado em conjunto com os dez partidos que fazem parte da chapa do petista que concorre à Presidência da República.
"Tenho a experiência do ex-governador Geraldo Alckmin. Muita gente pensava que era difícil Lula se juntar com Alckmin. Política não tem que ter ódio, a política é extraordinária para conviver".
O petista também defendeu "imprensa livre" e disse que Bolsonaro atualmente "não manda nada", é "refém do Congresso".
O ex-presidente disse ainda, ao ser questionado sobre o papel que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) terá em um eventual governo, que "aquele MST de 30 anos atrás não existe mais" e criticou a política armamentista do presidente Bolsonaro.
"O Bolsonaro está ganhando alguns fazendeiros porque está liberando arma, tem gente que acha que é bom ter arma em casa, que acha que 'eu vou matar alguém'. Não. O que nós queremos é pacificar esse país, porque o pequeno produtor rural e o médio tem que conviver pacificamente com o grande negócio. O Brasil tem possibilidade de ter os dois."
Lula também disse que há parte do agronegócio "fascista e direitista" que se coloca contra a preservação do meio ambiente –mas que ela não representa a totalidade do segmento.
"Os empresários sérios que trabalham no agronegócio, que têm comércio com o exterior, que exporta para a Europa, para a China esses não querem desmatar, querem preservar nossos rios, nossas águas e nossa fauna."
Lula foi o terceiro candidato à Presidência entrevistado pelos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos.
Na segunda-feira (22), o JN sabatinou Bolsonaro, que mentiu sobre STF e pandemia e impôs condições para aceitar os resultados das eleições.
Na terça-feira (23), foi a vez de Ciro Gomes (PDT). Ele atacou o que chamou de "polarização odienta" protagonizada por seus dois principais rivais na disputa, Lula e Bolsonaro, e prometeu criar uma "lei antiganância".
A última entrevista que Lula concedeu enquanto candidato ao Jornal Nacional foi no pleito de 2006. Na época o petista enfrentava o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), que será seu vice na chapa deste ano.
"Hoje iremos juntos até lá", escreveu Lula nas redes na manhã desta quinta (25). E Alckmin respondeu: "E hoje estarei lá ao seu lado. Pela democracia, pela paz e pelo Brasil! Vamos juntos".
O perfil do PT no Twitter compartilhou o momento da chegada de Lula na Globo por volta das 19h30.
Mais cedo nesta quinta (25), circulou em grupos de WhatsApp criados pela campanha do petista um flyer com dicas de como os apoiadores do petista poderiam ajudar "a espalhar a palavra de Lula no Jornal Nacional".
"Publique nas redes fotos assistindo ao JN, sempre usando a hashtag #LulaNoJN", "relembre feitos positivos dos governos de Lula e Dilma", "fale sobre novos projetos de Lula" e "compartilhe os motivos que levam você a votar no Lula" eram algumas das recomendações.
À tarde, Lula compartilhou foto em suas redes sociais antes de sua participação na sabatina. "Gostaram da gravata? #LulaNoJN", escreveu o petista.