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Eleições 2022

Jovens procuram título de eleitor, apesar de descrédito com a política

José Marcos Lopes -Especial para o Grupo Folha
14 mai 2022 às 13:34

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- Gustavo Carneiro/Grupo Folha
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Os jovens brasileiros não se sentem representados pelos políticos, mas o número de eleitores com menos de 18 anos aumentou significativamente neste ano em todo o país. A procura pelo primeiro título, que passou por uma queda nos últimos anos, cresceu 45% somente no mês de março, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No Paraná, o número de novos eleitores de 15 a 17 anos cresceu 85% entre março e o início de maio. 


Vários fatores podem estar por trás do crescimento, como a crise econômica, a volta da inflação, a falta de investimentos em educação, que atinge diretamente os mais jovens, e as ameaças às eleições e ao sistema democrático. O TSE investiu maciçamente em campanhas para atrair o eleitorado mais jovem e o movimento contou com a participação de artistas como a cantora Anitta e o ator norte-americano Mark Ruffalo. 

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O desinteresse dos jovens pela política tradicional já foi identificado em vários estudos acadêmicos. O mais recente deles, "Juventudes e Democracia na América Latina", coordenado pela socióloga Esther Solano e pela cientista política Camila Rocha, da Unifesp (Universidade Estadual de São Paulo), analisa a relação dos jovens com a política em quatro países: Brasil, Colômbia, México e Argentina. 

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A conclusão do estudo é que os jovens brasileiros se informam predominantemente pelas redes sociais e que a maioria deles começou a se interessar por política por inspiração da família ou de influenciadores digitais. Eles veem os meios tradicionais de comunicação com desconfiança, mas ao mesmo tempo consideram jornais e redes de TV como uma espécie de "porto seguro" contra as notícias falsas. 

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A participação em partidos e manifestações é baixa entre os jovens que integraram a pesquisa (18 grupos, com três jovens em cada, foram ouvidos no Brasil): apesar de considerarem importante se manifestar politicamente, a maioria deles disse nunca ter participado de uma manifestação, por medo de violência ou para se manterem distantes dos partidos. O engajamento é mais visível na internet, em torno de causas mais palpáveis, como a proteção dos animais ou doações de cestas básicas. 


Espaços tradicionais em baixa

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Os espaços tradicionais da política, como o Poder Legislativo, os partidos, os sindicatos e os centros acadêmicos, são vistos com desconfiança. O estudo concluiu ainda que há muito desconhecimento em relação ao funcionamento e às funções das Câmaras Municipais, dos sindicatos e dos partidos. "A democracia, o Estado e o Congresso, no Brasil, são tidos como deficitários, intrinsecamente corruptos, representando apenas os interesses das elites, dos políticos e não da população", conclui o levantamento. 


Para Esther Solano, a maioria dos jovens defende a democracia, mas se sente desconectada das instituições. "Eles estão desvinculados, sobretudo dos partidos. Defendem a democracia como valor, a maioria é contra as intervenções militares. Mas eles não se sentem à vontade para defender a democracia por dentro das instituições. Consideram que o sistema representativo está altamente corrompido. É uma juventude decepcionada com o sistema representativo democrático tradicional". 

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O fato de se informarem predominantemente pelas redes sociais, avalia a socióloga, coloca os eleitores mais jovens em um ambiente de polarização. "Eles percebem a política como conflito, como guerra, como polarização. Muitos deles dizem que eles não se expressam nas redes porque elas são um lugar de muita agressividade e eles têm medo do cancelamento". 


O medo do cancelamento também foi identificado pelo cientista político Francisco Robert Bandeira Gomes da Silva, professor da Faculdade Estácio de Teresina (PI). Ele cita um estudo que mostrou que 60% dos jovens brasileiros não estão interessados em debater política. "A vontade de mudança ainda existe, mas o que havia nos anos 80 ou 90 não existe mais. A política foi associada a algo ruim". 


Para Gomes da Silva, as campanhas para que a população entre 15 e 18 anos tirasse o título ajudaram a despertar os jovens em um momento de crise. "As campanhas publicitárias, aliadas a um momento de crise pelo qual o país está passando, foram responsáveis pelo grande número de jovens com o primeiro título", disse. "Os ataques à democracia estão mais frequentes e mais notórios também. As campanhas ajudaram a convocar pessoas de 16 e 17 anos a votar contra a crise, seja a crise democrática ou a crise econômica". 


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