A família do empresário paranaense Mário Petrelli (PFL) - um dos responsáveis regionais pela arrecadação de fundos para a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) - preferiu manter silêncio ontem sobre a existência de um caixa dois da campanha. Petrelli é acusado de ter desviado R$ 350 mil para um fundo paralelo do comitê de FHC, o que representa 10% do total de R$ 3,5 milhões que foram arrecadados com doações oficiais.
Mário Petrelli passou parte do dia de ontem em Joiville, Santa Catarina, segundo informou sua secretária que trabalha na rede SBT de Florianópolis, que é de propriedade da família. A Folha deixou vários recados em seu escritório e telefone celular, mas não houve retorno de nenhuma das ligações. Uma pessoa que se identificou como motorista de Petrelli chegou a atender um dos telefonemas, mas informou que seu patrão estava num outro carro, seguindo em direção a Florianópolis.
Em Curitiba, a opção também foi pelo silêncio. O filho do empresário, Leonardo Petrelli, disse que não iria comentar o assunto. Pela sua assessoria ele afirmou que o caso "diz respeito" apenas a seu pai. Leonardo Petrelli é diretor-presidente da Direct to Company (DTCom), empresa que teve como sócio o coordenador geral da campanha de FHC, Eduardo Jorge. A DTCom foi inaugurada na última sexta-feira.
Há cerca de dois meses, o Ministério Público de Federal, em Brasília, recebeu denúncia de que a DTCom estava prestes a ganhar uma licitação pública de cartas marcadas para fornecer cursos à distância para a Caixa Econômica Federal. O negócio estaria sendo articulado por Eduardo Jorge, ex-coordenador geral da campanha de FHC. Petrelli negou qualquer irregularidade e garantiu que "nunca" a DTCom ganhou um contrato de prestação de serviço com a Caixa Econômica. Ele disse ainda que Eduardo Jorge não chegou a integralizar o capital para se tornar sócio da DTCom, apesar de seu nome aparecer na documentação encaminhada à Junta Comercial do Paraná.
Na relação de doadores para a campanha de FHC, a DTCom aparece com uma contribuição de R$ 200 mil. Na época, Mário Petrelli era o encarregado de angariar recursos para financiar a reeleição junto a empresários paranaenses e catarinenses. A função foi dada a ele por Eduardo Jorge. Considerado um lobista dentro do PFL, Mário Petrelli trabalha nos bastidores da política paranaense há vários anos. Muito amigo do senador Jorge Borhausen (PFL), Petrelli tem a concessão do SBT em Florianópolis e Joinville (recém inaugurada) e da Record, em Curitiba, com a Rede Independência de Comunicação. Ele também é acionista do grupo Icatu, uma das empresas que financiou a campanha eleitoral de FHC.