O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Hermas Brandão (PTB), tornou-se peça-chave no processo de privatização da Companhia Paranaense de Energia (Copel). O chefe do Poder Legislativo está no centro de uma crise política sem precedentes na história do Estado.
De um lado, a forte pressão da bancada de oposição e dos movimentos populares contra a venda da estatal. De outro, a máquina do Palácio Iguaçu trabalhando para manter em curso o processo de desestatização. O leilão está marcado para 31 de outubro. Brandão tem que administrar o bombardeio que recebe dos dois lados.
O pivô da crise é o projeto de iniciativa popular que cassa a autorização concedida em 1998 pelos próprios deputados para o governo estadual vender a Copel e que, salvo mudança de última hora, deve ser discutido hoje em plenário.A privatização da Copel dominou o cenário político paranaense na última semana. O Estado foi palco de cenas que lembraram a ditadura militar, com a Assembléia cercada por quase 800 policiais, armados e acompanhados de cães. O motivo: medo que os estudantes acampados no plenário da Casa partissem para o confronto e a quebradeira.
A privatização do Banestado, vendido no dia 17 de outubro do ano passado para o Banco Itaú, foi condenada pela população, mas os protestos não se compararam ao que está sendo visto no caso da empresa de energia. A briga pela manutenção da Copel se transformou na principal bandeira da oposição ao governador Jaime Lerner (PFL). Lerner alega que seu objetivo é usar os recursos para capitalizar o fundo previdenciário estadual.
O presidente da Assembléia, deputado Hermas Brandão, não esperava que a votação do projeto popular gerasse tamanha confusão. Os deputados estaduais perderam o controle do processo quando aproximadamente mil estudantes invadiram na última quarta-feira o plenário da Assembléia, em Curitiba.
O projeto estava prestes a entrar em votação no momento em que os estudantes pularam em cima das mesas dos deputados, carregando bandeiras e gritando palavras de ordem. Sob clima tenso, a sessão foi suspensa. Os estudantes acamparam no plenário, sentaram-se no chão, gritaram palavras de ordem, picharam o que puderam. Só deixaram o prédio do Legislativo na tarde do dia seguinte, pacificamente, após acordo com a direção da Casa – que garantiu que eles poderão acompanhar a sessão programada para hoje.
Temendo confronto e violência, Brandão solicitou proteção policial. Foram mobilizados 790 homens para cercar a Assembléia. Uma ala de parlamentares condenou a atitude, alegando que desde a ditadura militar não se via cena semelhante. O fato repercutiu negativamente no Senado, que criticou o forte esquema de policiamento patrocinado pelo governo do Estado.
Além do desgaste gerado por causa da manifestação, Brandão tem que se preparar caso precise desempatar a votação. O final de semana agitou as bancadas de situação e oposição, que lutam para garantir a maioria. O placar está tenso entre os dois lados. O voto-de-minerva caberá ao presidente, que acumulará o ônus político de ter que decidir.
Brandão prefere não comentar o assunto quando questionado sobre sua posição pessoal em relação à privatização. Ele já chegou a declarar que prefere manter a geração de energia da Copel em poder do Estado, vendendo apenas transmissão e distribuição. O deputado prefere fazer mistério e não adianta qual será seu voto caso precise desempatar a votação.
Brandão concedeu esta entrevista na quinta-feira à tarde, em seu gabinete – que permaneceu cheio de deputados e jornalistas durante a última semana – e durante a vistoria que fez no plenário da Casa, após a saída dos estudantes.
Hermas Brandão tem 58 anos, é casado e pai de três filhos. Bacharel em Ciências Jurídicas, é dono de cartório e fazendas em Andirá (seu reduto eleitoral), Reserva e Bandeirantes (Norte do Estado). Ele começou a carreira como corretor de imóveis, no interior. Foi prefeito de Andirá (1977 a 1982), secretário estadual de Agricultura (1995 a 1998) e deputado estadual por cinco mandatos. Assumiu a presidência do Legislativo em fevereiro deste ano.