Esgoto doméstico, dejetos humanos e excrementos de porcos estão sendo despejados diretamente na Represa do Passáuna, responsável pelo abastecimento de água na Região Metropolitana de Curitiba. O material orgânico contribui para a formação de algas na represa, causando alterações de gosto e cor na água. A situação levou ambientalistas a protocolarem na segunda-feira, no Ministério Público de Araucária, requerimento solicitando divulgação da análise da qualidade da água feita pela Sanepar.
O resultado da análise pode levar a Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária (Amar) a impetrar uma ação pública na Justiça, acusando a empresa de causar danos à saúde da população. A Amar contesta a nota oficial divulgada no último dia 8 pela empresa, informando que a água apresenta "excelentes condições de potabilização". Para a ambientalista Lidia Lucaski, a situação nos afluentes do Rio Passaúna é crítica.
A Bacia Hidrográfica do Passaúna foi decretada Área de Proteção Ambiental (APA) em junho de 1990. Ainda assim, o local sofre com áreas de invasão, que apresentam saneamento e abastecimento precário. Segundo a Amar, as condições que a represa enfrenta hoje afetam diretamente a qualidade da água consumida.
De acordo com Lídia, há duas semanas, quando moradores começaram a notar gosto e cheiro ruim na água consumida, a associação chegou a receber cerca de 40 reclamações de moradores por dia. A Sanepar garante que a situação foi controlada e que as reclamações realizadas por telefone para a empresa reduziram 60%. A empresa não divulgou o número de reclamações recebidas.
O gerente de distribuição de água da Sanepar, Celso Thomas, salienta que a quantidade de dejetos despejados representa pouco em relação ao volume armazenado e que não afeta a qualidade da água. A represa armazena 48 bilhões de litros de água e é responsável pelo abastecimento de cerca de 560 mil pessoas.
Para Thomas, a situação no entorno da represa não deve ser minimizada, mas está longe de ser "crítica". Ele afirma, no entanto, que a solução não depende apenas da Sanepar. O gerente da empresa recorda que a prefeitura está avaliando a relocação dos moradores da área invadida e que ação do MP determinou a transferência da granja de porcos Graziotto, que despejava excrementos. Quanto a captação do esgoto da área, ele informa que a Sanepar, por meio do programa Paraná San, vai resolver a situação até 2004, tratando o esgoto e transferindo o despejo para o Rio Barigui.
O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) começa hoje a fazer vistorias na região.
Segundo a Sanepar, o acúmulo de algas na Represa do Passaúna já foi controlado, e a qualidade da água que abastece a população está garantida. A empresa divulgou que as algas que proliferaram na represa na semana passada, causando alterações no sabor e odor da água, não eram tóxicas e não representavam riscos para a população. No entanto, os moradores ainda estão com receio de beber a água tratada pela Sanepar.
O agricultor Augusto Gsutenko, que mora há 15 anos no local, lembra que há pouco mais de um ano, bois e cavalos de sua propriedade, na beira do Passaúna, foram contaminados após beberem a água do córrego que despeja na represa e morreram. "Agora só utilizamos água tirada do poço que construímos".
Mesmo com os riscos, muitos moradores pescam na represa, a poucos metros de onde o esgoto é despejado. "Pescamos aqui para dar de comer as nossas famílias", diz o segurança Antônio dos Santos.
A dona de casa Rosane Aparecida de Oliveira, moradora da área de invasão Vila Conquista, diz que além do problema do gosto da água, a população da região sofre com a falta de abastecimento. "Falta água sempre", reclama.