O sheik moçambicano Issimil Mohamad Salimo tenta, desde abril deste ano, visto de permanência para trabalhar em Londrina. Ele foi convidado pela Sociedade Beneficente Muçulmana de Londrina para ser orientador educacional religioso. Nesta semana, foi publicado no Diário Oficial da União novamente o indeferimento do pedido. O argumento é de que a permanência dele no Brasil é contrária aos interesses da mão-de-obra nacional.
De acordo com o advogado Hélio Camargo, responsável pela ação, a negativa é uma decisão administrativa da Coordenação Nacional de Imigração. A defesa pretende entrar com um novo recurso, agora no Conselho Nacional de Imigração.
Camargo estranha a decisão. Conforme ele, o argumento é de que há uma reserva no mercado nacional, ou seja, no país existem outras pessoas capacitadas para exercer a função.
"O Issimil é uma pessoa totalmente capacitada para a função. Não existe no país alguém com formação igual a dele, para poder ensinar árabe e o islamismo de forma gratuita para a comunidade, não só para filhos de árabes. É difícil encontrar mão-de-obra semelhante, principalmente porque ele é de um país [Moçambique] onde se fala o português".
Levando em conta a qualificação do sheik, o advogado aponta uma possível discriminação religiosa.
"Estranhamos o indeferimento, é uma decisão equivocada que fala de reserva de mercado, mas não temos aqui professores para ensinar o árabe que falam português. A sensação que fica é que pode ser uma decisão de conotação religiosa, que o Brasil não é um país laico, que aceita as diversidades".
Hélio Camargo destaca a possibilidade de Issimil trabalhar no Brasil ressaltando a possibilidade dele contribuir com o desenvolvimento religioso e educacional da língua e da história da religião, ressaltando também o aspecto econômico.
"Os países muçulmanos são importantes parceiros econômicos do Brasil. Proibir o Issimil de trabalhar aqui vai na contramão dessa relação".
Inicialmente, o sheik veio ao Brasil como turista, para poder conhecer a cultura local. Após contato com membros da Sociedade Muçulmana em Londrina, ficou estabelecido a apareceu a oportunidade dele trabalhar na cidade.
Para o presidente da instituição em Londrina, Dely Dias Neves, o trabalho de Issimil seria complementar ao trabalho do skeik Yamani, líder religioso local.
"Em Londrina já temos o sheik Yamani que é o líder religioso. Ele não da conta de atender a demanda de outras atividades. Muitas pessoas nos procuram para aprender o árabe e também sobre a religião, por mera curiosidade. Ele não virá para converter as pessoas, mas para ensinar as pessoas sobre a nossa religião".
Neves é outro que se queixa da impossibilidade de Issimil não poder trabalhar na cidade. "Respeitamos a decisão, mas só temos a lamentar. Ele possui toda a qualificação necessária sobre a língua e a religião. E o mais importante, é de um país que também fala português".