O mês de março começou chuvoso em Londrina e trouxe esperança para os produtores rurais que sofreram com a seca nos dois primeiros meses do ano. No entanto, a chuva que faltou em janeiro e fevereiro também tem sido um empecilho para os agricultores que já estão na fase das colheitas.
De acordo com o IDR-PR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná), março já teve 152 mm de precipitação em Londrina. Isso significa que, em 14 dias, o volume de chuvas superou a média histórica esperada para o mês inteiro, que é de 136,7 mm. As notícias parecem animadores para os produtores rurais, que enfrentaram a estiagem do começo de 2022: depois de registrar o janeiro mais seco em 30 anos, com apenas 39% das chuvas esperadas, Londrina teve em fevereiro pouco mais da metade da média histórica de chuvas.
Mylton Casaroli Neto, 40, por exemplo, tem uma propriedade no distrito de São Luiz e afirma que as chuvas têm ajudado no desenvolvimento dos pés de soja plantados mais tardiamente. No entanto, ele ressalta que boa parte da lavoura já está no ponto de colheita. "Para esses (pés), a chuva tem atrapalhado, pois não consigo colher", lamenta.
Leia mais:
Funcart está com inscrições abertas para Curso Intensivo de Iniciação Teatral em Londrina
Rompimento de rede afeta abastecimento na região Leste de Londrina
Quinta-feira será de tempo instável e com chuvas em Londrina e região
Cena musical em Londrina: idosos são destaques no palco e na plateia
O agricultor Maurício Okimura, 56, passa pela mesma situação. Dono de propriedades nos distritos de Paiquerê e Maravilha, ele diz que as chuvas de março têm atrapalhado a colheita da soja. Para outros cultivos, porém, as precipitações têm sido fundamentais. "A seca realmente foi muito forte nesse período (janeiro e fevereiro). As chuvas estão ajudando muito a safra de 'milho safrinha' que estamos plantando. As chuvas sempre são bem-vindas", ponderou.
Seca
Ainda que as colheitas sejam prejudicadas, parece consenso entre os agricultores que as águas de março representam uma boa notícia. As chuvas mostram que o fenômeno climático 'La Niña', principal causador da seca na região Sul do país, está perdendo força, o que dá aos produtores a chance de recuperar os prejuízos do início do ano.
De acordo com Pedro Guglielmi, geógrafo do Deral-PR (Departamento de Economia Rural do Paraná), a estiagem de janeiro e fevereiro teve um impacto considerável na safra de verão 2021/2022 em Londrina. Ele explica, porém, que diversos fatores, como as características do solo, a data do plantio e o tipo de cultivo, podem alterar a forma como cada produtor enfrenta a seca. "Lavouras plantadas mais cedo estão apresentando perdas mais acentuadas, o que também está relacionado ao tipo de solo. Se nossas estimativas se confirmarem, a região pode ter uma perda de mais de 22 mil toneladas de soja e 5 mil toneladas de milho, somando uma perda de R$ 480 milhões com a estiagem nessas duas culturas. São recursos que deixam de estar circulando na nossa economia".
Uma previsão mais ampla do Deral-PR aponta que a safra londrinense deve ter uma perda de 19% devido à falta de chuvas, número que pode ser ainda maior ao final da colheita. Guglielmi, no entanto, ressalta que é difícil precisar as perdas de cada produtor, uma vez que o prejuízo não é distribuído igualmente entre os agricultores da região.
Casaroli, por exemplo, disse não ter sofrido muito com a seca. A explicação, segundo ele próprio, é uma técnica chamada de "adubação verde": durante o inverno, ele alterna o cultivo de trigo com o de aveia preta para preparar o solo para o plantio de soja no verão. "A cobertura vegetal que fazemos no inverno, além de incorporar nutrientes no solo, facilita o acesso da raíz da soja a profundidades maiores, onde o solo está mais úmido. Isso faz com que estejamos sempre preparados para períodos um pouco mais longos de estiagem", explicou.
Okimura também usa a técnica de adubação verde, fazendo a rotação de culturas no inverno. Por isso, ele aponta que as lavouras de soja enfrentaram bem a seca. Já para a produção de milho, afirma que a estiagem causou um prejuízo importante. "A produção de milho no verão deve cair bastante. Não colhemos ainda, mas calculamos uma perda de 30 a 40% por causa da seca no pendoamento", lamenta.
Além dos baixos índices de precipitação, a distribuição das chuvas também foi um problema, como aponta a agrometeorologista do IDR-PR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná) Angela Costa. "Aconteceram muitas chuvas isoladas, casos em que chove em uma cidade e na outra não, chove na cidade vizinha, mas nada em Londrina", explica.
Costa comemora o início chuvoso de março, mas resslta que a regularidade das chuvas ainda está longe do ideal. "É bom (o volume de chuvas), mas ainda precisamos que chova com mais regularidade. Tivemos 72 mm no começo do mês, depois vários dias sem chuvas, e agora cinco dias com chuva. O La Niña deve ter influência até o início do outono (21 de março). Então, espera-se que fique mais bem distribuído".
Como lembrou Okimura, a esperança é, sempre, por dias melhores. "Sabemos que a nossa indústria é de céu aberto e estamos sujeitos a tudo isso: seca, chuva, granizo... Mas temos que ter fé e rezar pra que tudo corra bem", completou.
*Sob supervisão de Larissa Ayumi Sato.