O Ministério Público de São Paulo, por meio da Promotoria Criminal e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), ofereceu denúncia (acusação formal à Justiça) contra um delegado de polícia e outros três policiais de Campinas por extorsão mediante sequestro em que a vítima foi a mulher de um traficante. Segundo a denúncia, já recebida pela 2ª Vara Criminal, o grupo de policiais sequestrou a mulher para extorquir o traficante, do qual exigiram o pagamento de R$ 100 mil.
Foram denunciados o delegado Paulo Henrique Correia Alves, o investigador Hélio Pavan Filho, o agente policial Sérgio Carrara, e o carcereiro Fábio Nunes Arruda Campos. Com exceção do delegado, todos tiveram a prisão preventiva decretada e estão presos.
De acordo com a denúncia, na manhã de 9 de agosto os policiais invadiram a casa de um casal, no Jardim Itatiaia sem qualquer mandado judicial de busca ou de prisão. Eles exigiam R$ 100 mil em dinheiro, argumentando que o imóvel era ocasionalmente locado para um traficante para ser utilizado como um laboratório para refino e preparação de drogas. Os policiais exigiram o dinheiro em troca de não deflagrem uma investigação policial e, até mesmo, a prisão das vítimas.
Como não conseguiram, sequestraram a mulher, levando-a para a sede da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), onde ela permaneceria em cativeiro enquanto seria negociado o pagamento pretendido.
O marido dela também foi levado para a delegacia, para que ele pudesse participar das negociações e interceder junto ao traficante para facilitar o pagamento do resgate.
Depois, retiraram a mulher da delegacia, colocaram-na em uma viatura policial da DIG e passaram a transitar pela cidade procurando telefones públicos para tentar estabelecer contato telefônico com o traficante, e driblar a eventual existência de interceptação em seus telefones pessoais.
Como não conseguiram contato, retornaram com a mulher para a Delegacia, de onde foi retirada horas depois e levada a um orelhão próximo, quando, finalmente, foi feito contato com o traficante.
O homem, entretanto, se negou a pagar a quantia exigida, alegando que seus negócios vinham sendo prejudicados em razão da presença da ROTA em Campinas. Ao final, os policiais aceitaram receber R$ 60 mil naquele dia e mais R$ 20 mil no mês seguinte.
Enquanto o traficante providenciava o dinheiro do resgate, os policiais passaram a elaborar falsos relatórios de diligências para justificar a permanência da vítima na repartição policial por tanto tempo e acobertar a extorsão mediante sequestro, seguindo as orientações do delegado.
No final do dia, os denunciados retiraram a vítima de seu cativeiro e a levaram até a casa onde o resgate foi pago pelo traficante. Entretanto, o traficante desconfiou que o marido dela o havia denunciado à polícia e, por isso, o levou até Espírito Santo do Pinhal, onde ele – um advogado – recebeu vários tiros e, dado como morto, foi abandonado. O advogado, entretanto, sobreviveu e relatou todo o esquema à polícia.
A Corregedoria da Polícia, então, apreendeu os vídeos gravados pelas câmeras de segurança instaladas na DIG, cujas imagens mostram os policiais entrando com a mulher sequestrada na Delegacia, saindo com ela por várias vezes do prédio, até a sua libertação, após acertado o pagamento do valor do resgate. (com informações do Ministério Público de São Paulo)