Bolsonaro disse que rejeitou uma audiência com o ex-procurador em 2019, no momento de discussão sobre indicação a procurador-geral da República, por receio de "sair uma história pronta" do encontro.
"Se eu tivesse audiência com ele, com toda certeza não ia indicar a PGR. Mas iria sair uma história pronta. Como faziam por ocasião de alguns depoimentos por ocasião da Lava Jato", disse Bolsonaro.
"Escrevia o depoimento, chamava o cara para assinar. E ia falar o quê? Que eu teria feito proposta indecorosa para ele. Salvar um amigo, parente", afirmou ainda.
As acusações do presidente ocorrem dois dias depois de Deltan se filiar ao Podemos, em cerimônia com a presença de Sergio Moro, ex-juiz responsável pelos processos da Lava Jato e ex-ministro da Justiça na gestão Bolsonaro.
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Bolsonaro e Moro disputam parte do eleitorado da direita na corrida ao Planalto em 2022. O presidente tem ampliado os ataques a seu ex-aliado.
Nas últimas duas semanas, disse que o adversário faz campanha a presidente "na base da mentira", além de fazer "papel de palhaço". Também acusou Moro de ser contra as armas e nem sequer saber torcer por um time de futebol.
Como procurador, Deltan trabalhou na Lava Jato de 2014 a 2020. Em novembro, ele pediu exoneração do Ministério Público Federal dizendo que pretendia continuar trabalhando contra corrupção de outra forma.
Na filiação do ex-procurador, Moro fez ataques a Bolsonaro e ao PT. "Nossa turma é que a gente pode se orgulhar. Não somos a turma do mensalão, petrolão, rachadinha."
Moro pediu demissão do Ministério da Justiça em abril de 2020 e deixou o governo acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal.
Ex-juiz responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba, Moro se filiou ao Podemos, em novembro, para disputar o Palácio do Planalto.
No último dia 2, o presidente ainda reclamou que "deu moral" a Moro no momento em que o então ministro foi alvo de críticas por revelações de mensagens privadas que trocou com procuradores. Os diálogos foram obtidos pelo site The Intercept Brasil e publicados por outros veículos de imprensa, como a Folha.
Juiz da Lava Jato, Moro abandonou a magistratura para assumir o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro, com quem se desentendeu -isso motivou seu pedido de demissão em abril do ano passado.
Neste ano, Moro sofreu uma dura derrota no STF (Supremo Tribunal Federal), que o considerou parcial nas ações em que atuou como juiz federal contra o ex-presidente Lula (PT). Com isso, foram anuladas ações dos casos tríplex, sítio de Atibaia e Instituto Lula.
Diferentes pontos levantados pela defesa de Lula levaram à declaração de parcialidade de Moro, como condução coercitiva sem prévia intimação para oitiva, interceptações telefônicas do ex-presidente, familiares e advogados antes de adotadas outras medidas investigativas e divulgação de grampos.
A posse de Moro como ministro de Bolsonaro também pesou, assim como os diálogos entre integrantes da Lava Jato, que expuseram a proximidade entre Moro e os procuradores da operação.
Em resumo, no contato com os procuradores, Moro indicou testemunha que poderia colaborar para a apuração sobre Lula, orientou a inclusão de prova contra um réu em denúncia que já havia sido oferecida pelo Ministério Público Federal, sugeriu alterar a ordem de fases da operação Lava Jato e antecipou ao menos uma decisão judicial.
Moro sempre repetiu que não reconhece a autenticidade das mensagens, mas que, se verdadeiras, não contêm ilegalidades.
Reportagem da Folha neste final de semana mostrou que Bolsonaro deu mostras recentes de um comportamento que parecia ter deixado de lado: as reações explosivas.
Irritado, ele falou palavrões publicamente, reclamou da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e subiu o tom contra o STF. Auxiliares do Palácio do Planalto dizem que o mandatário se sente pressionado.
Os arroubos, afirmam eles, refletem incômodo com decisões recentes da corte que atingem o governo, a discussão sobre o passaporte da vacinação contra Covid e o avanço de Moro nas articulações pela campanha presidencial de 2022.
Contudo, os interlocutores ainda não demonstraram preocupação com a possibilidade da volta aos ataques que geraram crise institucional entre os Poderes, com ápice em atos de raiz golpista no feriado de 7 de Setembro.
Eles classificam esses momentos como desabafos do presidente. Dizem que, por mais que Bolsonaro tenha contido explosões nos últimos meses, ele não pode mudar seu jeito.
Dentre os episódios que causaram a fúria do presidente está a ordem de Alexandre de Moraes, ministro do STF, de apurar a conduta do presidente por falsa associação entre a vacinação contra a Covid-19 e o risco de se contrair o vírus da Aids. aqui seu texto...