Por que alguém se dá ao trabalho de escrever? Literatura, de qualquer gênero, eu me refiro. Pinçar palavras, como um joalheiro, expô-las na contra luz e depois, escolher uma a uma. De repente, prestar atenção em si, em fragmentos de pensamentos, expressões, sensações que ricocheteiam nas paredes mentais, anárquicos, como projeteis sem direção. Sinapses neuronais processam bilhões de impulsos por segundo. E desaguam no coração em forma de mil afetos. Recuperar pedacinhos, emendar, costurar até que por fim saia um texto a ser dividido. Com amigos, inimigos, com um, dois, cem ou milhares de leitores.
Bom, a primeira razão e a mais óbvia, vem desse impulso de narrar ao outro o que vimos, sentimos ou pensamos. Humana condição desde noites imemoriais à volta de fogueiras, no desabrigo da noite. Há, claro, a vaidade também. Mas acho que vai além disso. Essa vontade incoercível de expressar-se (razão maior de toda arte) é também uma forma de filosofar. Não falo aqui dos grandes sistemas filosóficos, da erudição que o saber dá aos que o tem. Mas da filosofia miúda, da observação empírica do mundo. Todo escritor é um filósofo das miudezas. Um louco que procura com uma lupa os sentimentos esquecidos, as dores que, de tão profundas, ninguém vê, as alegrias que, de tão evidentes, ninguém compartilha. É um fingidor, como estamos cansados de saber. E nessa dor que finge e deveras sente, constrói suas histórias tão parecidas com um mundo que inexiste, existindo.
Da minha parte, sofro desse transtorno de, em tudo que vejo tentar grafar, distorcendo cada detalhe. E vou por aí a descrever um rosto que nunca vi, costurar as pernas e o jeito de andar de um tio no corpo do homem que acabo de cruzar na calçada. Depois, coloco nesse personagem a voz de um menino que só vi na infância. E tento fazer crer que tem uma existência real.
Cá entre nós, é uma tremenda loucura. Santa é verdade mas ainda assim, loucura.
Bom, a primeira razão e a mais óbvia, vem desse impulso de narrar ao outro o que vimos, sentimos ou pensamos. Humana condição desde noites imemoriais à volta de fogueiras, no desabrigo da noite. Há, claro, a vaidade também. Mas acho que vai além disso. Essa vontade incoercível de expressar-se (razão maior de toda arte) é também uma forma de filosofar. Não falo aqui dos grandes sistemas filosóficos, da erudição que o saber dá aos que o tem. Mas da filosofia miúda, da observação empírica do mundo. Todo escritor é um filósofo das miudezas. Um louco que procura com uma lupa os sentimentos esquecidos, as dores que, de tão profundas, ninguém vê, as alegrias que, de tão evidentes, ninguém compartilha. É um fingidor, como estamos cansados de saber. E nessa dor que finge e deveras sente, constrói suas histórias tão parecidas com um mundo que inexiste, existindo.
Da minha parte, sofro desse transtorno de, em tudo que vejo tentar grafar, distorcendo cada detalhe. E vou por aí a descrever um rosto que nunca vi, costurar as pernas e o jeito de andar de um tio no corpo do homem que acabo de cruzar na calçada. Depois, coloco nesse personagem a voz de um menino que só vi na infância. E tento fazer crer que tem uma existência real.
Cá entre nós, é uma tremenda loucura. Santa é verdade mas ainda assim, loucura.