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O Vento dos papagaios (Crônica de Sergio Diniz da Costa)

07 jun 2023 às 11:10

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O VENTO DOS PAPAGAIOS*

Sergio Diniz da Costa

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Uma tarde de julho. Ventania. Crianças. Um campinho das peladas. Em vez de correria atrás de uma bola, porém, carretilhas numa mão e, na outra, um papagaio! 

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Com as férias do meio do ano e os ventos ficando mais constantes e intensos, as brincadeiras da terra cedem a vez para os olhares ao céu.

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Papagaios de vários tamanhos, cores e desenhos começam a alçar altura e a bailar, ao sabor do vento. 


Vejo esses meninos, correndo e empinando seus papagaios e, diante de tanta alegria, me percebo divagando...  e mergulhando nas Águas do Passado.

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Manhã ventosa de uma sexta-feira de agosto. A agitação, o burburinho da sala de aula termina com a entrada de dona Terezinha, a professora de Geografia. É uma entrada solene da professora que nos chama a todos de ‘filhinho’. E sua simples presença nos infunde um misto de aquietamento e expectativa. 


Quase às vésperas da aposentadoria, ‘Tia’ Terezinha é uma das docentes mais antigas da escola. E, também, a mais idosa. Cabelos curtos e alvacentos. Rosto sulcado por rugas. Pequena estatura física e corpo ‘arredondado’. O tempo, no entanto, parece ter passado ao largo em relação a ela. O que a genética não lhe aquinhoou no corpo físico, uma Força Maior compensou-lhe no espírito. Quando inicia a aula, a voz ribomboa, os olhos fulgem, as palavras, descrições, conceitos fluem caudalosamente.

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Com ela, em seu Tapete Mágico imaginário, conhecemos as regiões brasileiras, com seu clima, sua fauna, flora, rios, montanhas...  E, numa visão multidisciplinar, infunde-nos o sentimento de respeito ao meio ambiente, de amor à natureza, de cuidado em relação à Mãe Terra.


E, nesta manhã de sexta-feira de agosto, de um tempo pueril, tia Terezinha, inspirada pelo clima, vai nos falar sobre os ventos. E ela, toda ela se transforma num Atlas, num compêndio de Geografia. Como uma sereia que, com seu canto nos atrai, inicia a aula, ensinando que os ventos são o ar em movimento e que desempenham um papel muito importante na vida dos seres vivos, pois são eles que levam para longe o ar viciado que nós respiramos e trazem até nós o ar puro, com bastante oxigênio, tão importante para o nosso organismo.

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Discorre sobre os vários tipos de ventos, que alteram-se conforme a sua durabilidade. E, à nossa frente, por meio de gráficos, desfilam os ventos alísios**, os que sopram constantemente das zonas polares e dos trópicos em direção à linha do equador. E carregam umidade e provocam chuvas nas regiões onde eles se encontram com outros ventos e massas de ar e os ventos contra-alísios, geralmente muito secos, que realizam o movimento contrário aos ventos alísios, direcionando-se da linha do equador aos trópicos. 


Depois deles, vêm as monções, aqueles que sopram do mar para o continente e do continente para o mar, variando conforme as estações do ano e as brisas, ventos repetitivos que sopram do mar para o continente durante o dia e do continente para o mar durante a noite. No entanto, chama-nos a atenção para aqueles que são muito perigosos. E, feito o ‘malfeitor da natureza’, vem o vilão-mor: o ciclone, nome genérico para os terríveis ventos circulares, como o tufão, o furacão, o tornado, o vendaval e um sobre o qual nunca ouvira falar: o willy-willy, nome que os ciclones recebem na Austrália e demais países do sul da Oceania.

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Tia Terezinha, ardendo de entusiasmo, dá uma pausa, porém, pra respirar. E eu, nesse momento, envolvido no mesmo entusiasmo, mas não contendo minha curiosidade, pergunto:


─ Tia, e qual é o vento dos papagaios?

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Uma tarde de julho. Ventania. Crianças. Um campinho das peladas. 


Uma lufada mais fria do vento me tira daquele transe.


O vento mais intenso e a gritaria dos meninos me fazem olhar para o céu, agora totalmente tomado pelos papagaios. E caio em mim ao perceber que, na volta à sala de aula, não me lembro de qual foi a resposta de Tia Terezinha...


Qual é, afinal, o vento dos papagaios?


O céu é um mar de varetas de madeira e papel, num bailado multicolorido. E, de repente, um papagaio se sobressai. Apesar da distância, tenho a impressão de que ele tem o formato de um rosto. Um rosto que me dirige um olhar e, com ele, uma voz sussurra:


─ O vento dos papagaios, filhinho, é o vento da imaginação! 


* Na minha infância, nós denominávamos esse brinquedo como ‘papagaio’. Todavia, trata-se de um brinquedo com vários nomes, dependendo da região brasileira e até mesmo de outros países. Temos, assim: pipa, arraia ou pepeta, cafifa, quadrado, piposa, pandorga.


** Os ventos.  http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/ventos.htm >. 1.º/09/2016

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