Entenda-me, por favor, amor, entenda minha paixão pela Joanita e não me julgue mal. Eu sei que ela não é muito inteligente, mas ela é tão linda.
- Você deveria compreender que amo Joanita. Sim, Joanita, nossa diarista, mas você parece iludir-se, não quer ver a realidade! - gritou.
Olharam-se em silêncio. E o silêncio era desagradável, talvez porque os olhos começavam a ficar úmidos e brilhantes.
- Entenda-me, por favor, amor, entenda minha paixão pela Joanita e não me julgue mal. Eu sei que ela não é muito inteligente, mas ela é tão linda! Não sei porque você me olha desse jeito... Como se, de repente, tivesse visto um espectro. Nosso amor foi embora.
Houve um silêncio desconfortável. Logo continuou:
- Eu disse “nosso amor”? Não existe mais nosso amor. Há anos que estamos casados, mas tudo é rotina. Tudo. Tomamos o café da manhã, e comemos o pão que compramos na mesma padaria há mais de 30 anos. Todos os dias assistimos televisão. Qualquer programa, tudo é bom para nós: novelas, séries policiais, desenhos animados. Parece que já perdemos o gosto pelas coisas belas. Mas aí chegou a Joanita, tão meiga, tão simpática, com esse corpinho de modelo de televisão... Sei lá, a paixão nasceu como o fogo, rapidamente e ardente. Muito ardente.
O velho sentou-se. Olhou Maria desesperado e gritou:
- Maria, Maria, estamos casados há 38 anos e eu não sabia que você é gay.
- Ah! Velho. É a primeira vez que me apaixono por uma mulher. E não sou gay... Entrei na modernidade, querido, eu sou bissexual. Quero experimentar de tudo antes de morrer. Experimentar... Não sei... Amor a três.
Os olhos do velho iluminaram-se… - Você, Joanita e eu? - Perguntou com fio de voz.
- Por que não, querido? Isso quebraria a monotonia e eu nem precisaria do divórcio.
No dia seguinte o casal de idosos acordou cantando e foi tomar o café da manhã em uma confeitaria chique no centro de Curitiba.
Crônica de:
Isabel Furini
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