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Cômico, mas real - Crônica de Marli Boldori

12 fev 2021 às 11:23

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Cômico, mas real

Presenciei nesta semana um fato que me fez sorrir. Interessante é que atualmente é difícil ouvir ou abordar algum tema sem fazer referência à pandemia de Covid-19, que impacta em maior ou menor medida, toda a sociedade, porém voltando ao assunto, eu estava aguardando a chegada do elevador quando dois senhores com seus quase setenta anos apressaram o passo para entrarem no elevador também, assim seríamos apenas nós três. Com todos os cuidados necessários, máscara, distanciamento, mesmo dentro do elevador havia muito espaço, e um frasco grande com muito álcool para ser usado nas mãos, após apertar os botões do painel. Percebi uma certa tensão no rosto de um deles, mas fingi não ver. Enquanto nós aguardávamos a porta se abrir, notei que sussurravam algumas palavras um ao outro, o nervosismo era visível, preferiam, com certeza, serem os únicos a fazer uso do elevador. Os dois traziam nas mãos um vidrinho com álcool e uma caixa de lencinhos umedecidos, achei esquisito tudo aquilo, comecei a rir disfarçadamente, riso de quem não fala, apenas ri. Ali estava um momento para rir à vontade, porém mundo insano, tive que esconder meu riso. O mundo está tão triste, faltam gargalhadas, rir faz bem à saúde, dizem os entendidos, e no dia 18, próximo passado foi o "dia do riso”, sim, houve até poetas que poetizaram o riso.

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A tensão continuava entre eles, apertei o botão, no painel, indicando o andar que eu iria descer, todavia percebi que nenhum deles queria mexer nos botões, então perguntei em qual andar iriam ficar, o mais alto falou com uma voz fininha:- No décimo quinto.

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Pensei que voz engraçada para um homem tão encorpado, e novamente a vontade de rir apareceu, tive que fingir uma tosse, foi o meu pior momento, pois eles ficaram apavorados e começaram um diálogo de medo.

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-Você me garantiu que estaríamos seguros, e agora estamos entre as paredes do elevador com uma pessoa tossindo.


O que fazer? Pensei em explicar que foi apenas um engasgo, mas não iria adiantar de nada, pois estavam apavorados.

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O tempo parecia ter paralisado, alguém havia apertado todos os botões, aí o elevador parava em todos os andares.


Decidi não olhar mais para eles, virei para a parede espelhada, e sem querer vi que um deles abriu a caixinha de lencinhos passou ao outro uns dez, mais ou menos, e disse-lhe:

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-Limpe bem sua roupa, pois pode ter ficado algumas gotículas da tosse. Notei que falavam de mim, fiquei calma.


Percebi pelo painel que o meu andar era o próximo, eu ficaria no décimo terceiro. Ufa!

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Quando a porta abriu pedi licença e sai, eles mais que depressa saíram também, notei que estavam no andar errado, segurei a porta do elevador e expliquei que deveriam subir mais um andar, eles voltaram, a porta se fechou e tudo certo.


Segui para o meu compromisso, que teria no máximo a duração de uma hora. Passado o tempo fui pegar o elevador para descer.

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Adivinhem quem estava descendo também?


Os dois senhores, já meus conhecidos, ficaram estupefatos com a minha presença diante da porta aberta, e, eu sorri para eles, surpresa eu vi que o mais alto devolveu o sorriso, e aproveitou para me pedir ajuda, pois não sabiam como e nem onde parar. Disse-me que já haviam subido e descido, mas sempre em lugar errado.


Senti tristeza ao saber que ainda hoje existem pessoas que não sabem usar um elevador, um mecanismo que parece de fácil acesso.

Eles se colaram à parede, eu fiz o possível para passar segurança aos dois, pois senti empatia por eles. Expliquei como fazer para usar o painel, onde parava o primeiro andar e o térreo, pois desciam no primeiro andar pensando ser o correto, soube por eles que haviam descido e subido várias vezes e ficaram com vergonha das pessoas que iam e vinham. Descemos juntos e nos despedimos, não tive mais vontade de rir, mas de aconchegar aquelas pessoas, que com certeza, estavam sofrendo por medo da pandemia e por não saberem usar um elevador.


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